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Depois da mui aturada reflexão, que a importancia do assumpto me mereceo, não pude persuadir-me que as Representações das Cameras, e Povos procedessem de seducção, não só por ter nellas visto os nomes de Lavradores de vinhos dos mais assisados, e entendidos; mas por estar bem certo de que ninguem assigna contra si proprio em materia de interesse immediato, a não ser determinado por força superior, a qual agora não supponho. Por outra parte, o plano por elles proposto não he huma tentativa nova, que houvesse de illudillos; he o mesmo de que em muitos annos tem experimentado os effeitos, e de que no presente reconhecem a necessidade.

Ainda hoje me procurou num Lavrador de vinhos do Douro para certificar-me a urgencia da medida, que as Camelas, e Povos requerião; e que elle pela sua parte de boa vontade se subjeitaria a vender o seu vinho separado á Companhia com prazo de dous annos, ou ainda mais, com tanto que ella o comprasse a todos.

Os Commerciantes de vinhos forão, quanto a mim, os culpados nas queixas dos Lavradores: madrugarão em declarar-se.

O Congresso mandou que se approvassem para embarque 30$000 pipas de vinho, por estar bem informado de ser esta quantidade precisa ao Commercio, e nada menos. Eu mesmo tinha visto em mão de hum Illustre Membro cartas dos principaes Exportadores do Porto, que assim o affirmavão; calculando não só com o refresco dos vinhos velhos, mas tambem com a reserva, que da actual novidade convinha deixar, em rasão da sua superior qualidade.

Neste sentido tinhão pujado as ordens aos seus Commissarios: apenas porem souberão que lhes estava franca a compra, e exportação do vinho separado, despedirão freguezes, e coarctarão ordens.

Posto que haja muitos Commerciantes honrados, tomarão todos esta cautela: os de má fé pela esperança de introduzirem com o vinho de embarque o separado; e os de boa fé pelo receio de não poderem sem prejuiso concorrer com os introductores, huma vez que comprassem por maior preço do que elles. Houve Negociantes cosmopolitos que, como sabem muitos Illustres Membros deste Congresso, dando aos seus correspondentes do Douro contra-ordens, lhes dizião: que havião de comprar vinhos a dez, e a doze mil réis a pipa.

Esta perspectiva, que a Feira apresentava aos Lavradores, não podia deixar de assustallos: e foi a sua impressão quem os determinou a sollicitarem o presente recurso, de que por muitas vezes tinhão gozado o beneficio. Por meio delle segurão a venda das 30$000 pipas de embarque, de que os Negociantes não podem perscindir: segurão igualmente a venda do vinho separado pelo preço de sua qualificação, bem que seja a pagamentos largos: e livrão-se ao mesmo tempo do risco, que correrão as vendas dos annos futuros, se acaso o vinho separado fôr acumular-se com o de embarque, e sobre-carreigar o excessivo deposito existente no Porto.

Entre tanto as Commissões em seu Parecer adoptarão o arbitrio proposto pelas mui justas considerações de não dever forçar-se a Companhia dos vinhos a fazer huma compra, que lhe não conviria, e para a qual não estaria preparada com fundos sufficientes, como se colhe da sua própria confissão no Juuso do anno; nem conviria tambem obrigar todos os Lavradores do Douro a que accedessem ao voto de algumas Cameras.

Parece-me porem que haverá meio de conciliar estes inconvenientes, e prover de huma vez sobre tão importante objecto. Poderá mandar-se á Regência: que passe ordem, para que se abra logo a venda do vinho de embarque, e se suspenda a do separado; que se o primeiro estiver vendido dentro de nove ou dez dias, se franqueie então a venda do separado pela mancha que se determinou. Se porem no fim deste prazo ainda houver por vender vinho de embarque, proponha a Companhia as condições, com que se apromptará a comprar o vinho separado: dirijão-se aos dous Corregedores de Vida Real, o Lamego, em que os Povos tem plena confiança; e se ao elles os que as apresentem aos Lavradores, e tomem os seus votos individuaes por = sim = não. Se no sim se reunirem Lavradores que correspondão a tres quartas partes, isto he, 27$000 e tantas pipas de vinho separado; fique decidida a venda para a Companhia: se os votos não chegarem a tanto, observe-se a primeira providencia.

Desta sorte nem a Companhia, nem os Lavradores terão motivo de queixar-se de constrangimento, e se reputará voluntaria a compra, e a venda.

O senhor Gyrão. - Faz honra ao bom coração dos Illustres Preopinantes o interesse que tomão pelos Lavradores do Douro sem serem Lavradores; eu porem que o sou, e quasi não tenho outra cousa de que subsistir senão de Vinhos, opino mui contrariamente: nós todos desejamos o bem, e se discordamos nos meios, he isto devido á maior ou menor practica do paiz.

Estou bem longe de persuadir-me, que as representações das Cameras sejão o voto dos Lavradores; porque ellas, por desgraça, não são mais que huns miseraveis restos da antiga corrupção; a prova está em ignorarem até as medidas sabias que este Soberano Congresso tem tomado a bem do Douro, pedirem menos do que o que lhe esta concedido, respectivamente ás cautelas necessarias para evitar o contrabando, e terem a vileza de se deixarem curvar aos insidiosos subornos da Companhia, com que projectava enganar-nos.

Analizarei os requerimentos, e mostrarei a verdade tão luminosa como o sol.

Pedem as Cameras que a Companhia seja obrigada a comprar os Vinhos separados a pagamentos de 6, 12, e 18 mezes, para depois o venderem aos Commerciantes, e para assim se evitar o contrabando!!

Seria deixar de fazer a devida justiça aos Illustres Membros desta respeitavel e Soberana Assemblea, se eu me persuadisse que havia hum só, que deixasse de conhecer o dolo, e a malicia de similhantes requerimentos, que vem igualmente sellados com o cunho da estupidez.