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só, que o minimo do preço para a exclusão, e o maximo para a admissão são muito rasoaveis, porque pelo menos na minha Provincia (na de Tras-os-montes) o lavrador em annos ordinarios com o centeio e milho a 380 reis o alqueire, e com o trigo a 600 reis só tira a limpo o seu capital, e o preço exacto do trabalho: se porém se querem maiores averiguações fação-se muito embora; mas proceda-se com a madureza dos Inglezes, que consultarão os seus mais bem acreditados agricultores. Eu quizera que para a cevada, pelo menos para a que entrar pelos portos secos, se adoptasse tombem hum imposto progressivo, porque aliàs a sua admissão só com o que o projecto indica virá a fazer hum grande empate nas provincias: com tudo em quanto se não tornarem essas informações, e se determinar a escala, prohiba-se peremptoriamente toda a entrada de cereaes, porque nós temos no paiz o necessario supprimento para o anno corrente, e o perigo insta.

Eu quizera de mais a mais que se determinasse exactamente a differença entre o trigo rijo, e o molle, e de hum modo que fosse intelligivel para todo o Reyno.

Tambem quizera que se proporcionasse a escala á medida da Villa ou Cidade mais notavel de cada huma das Provincias, para ficar servindo de typo respectivo para admissão dos cereaes nas mesmas Provincias, em attenção às circunstancias da nossa localidade, que não admitte hum ponto verdadeiramente central, e onde são tão difficultosas as communicações.

O senhor Gyrão. - Depois dos excellentes discursos dos Illustres Preopinantes, bem pouco me resta a dizer; tendo porém a honra de ser membro da Commissão de Agricultura, eu não devo ficar silencioso quando se trata de huma ley de que deponde a salvação da Patria: ella vai reanimar a dicta moribunda Agricultura, sem a qual não póde haver Imperios, sem a qual he inutil fazer sabias Constituições: os homens, para quem servirião, ver-se-hão obrigados a abandonar a terra em que nascerão, tornar-se-hão profugos mendigos nos Payzes estrangeiros, aonde com desprezo serão obrigados a trabalhar para merecer o pão de que carecem.

Diz-se que he necessario attender às classes mercenarias do baixo povo, e conservar-lhe o pão barato.

Ora ninguem mais do que eu ama as dictas classes, pois que em rasão de Lavrador, conheço as suas precisões; mas estou bem longe de persuadir-me que se lhe faz favor do modo indicado; porque os Proprietarios se arruinão, e depois não podem empregallos; conseguintemente ellas não terão com que comprar este pão, por mais barato que seja.

Os Governos despoticos, tendo só em vista commodos presentes, e sem olhar para o futuro, enganão o povo proporcionando-lhe a compra de pão barato, e permittindo as importações sem regulamento algum; mas assim cavão a sua ruina, e por isso se precipitão: assim Roma se perdeo, tornou desertos seus bellos campos, que em vetustos tempos cultivarão Camillos, Pisões, e Fabios; e o mesmo systema foi arruinar as Campinas da ricca Palmira.

Eu desejo que o pão seja barato; mas ha de ser produzido no paiz, então a população crescerá, diminuirá o preço da mão dobra, e seremos independentes; mas isto só tem lugar quando as terras transtaganas tornarem a ser affamadas com o dom da flava Ceres, como dizia Camões; estamos porém mui longe ainda de chegar a esse tempo ditoso; mas para o vir a ter he preciso dar o primeiro impulso á Agricultura, e procurar o justo equilibrio entre o creador, e consumidor, de modo que ambos possão viver.

Devemos lembrar-nos, Senhores, que se os Atalos, e Cyros forão tão famosos, he porque confunddírão o Sceptro com o Arado.

ElRey D. Diniz poude extinguir os ladróes, porque cuidou na Agricultura; cercou de muros as Villas e Cidades, deo soccorros ao Soberano de Leão, e fez liberdades como Alexandre; porque sempre olhou para os Lavradores, como para os nervos da Republica.

Façamos nós agora o mesmo, seremos felizes, teremos Patria.

O senhor Borges Carneiro. - Tratamos de melhorar a Agricultura. Todo o Mundo elogia o Lavrador; as Leys não cessão de o honrar: com tudo elle he desgraçado: quem mais lavra, mais perde. Está a lavoura como o foro; quem se mette com elle, não sahe dalli senão espiolhado e posto em camisa. Assim a terra que Deos deo ao homem para se occupar e alimentar, se lhe torna pela sua corrupção o principio da sua desgraça. Como se ha de remediar este mal? " A causa, dizem alguns, he a ignorancia: haja escholas practicas de Agricultura, bons Codigos ruraes, boas estradas, e canaes; dirija o Governo as operações do Lavrador, faça e aconteça." Petas, historias da vida. Huma só cousa he necessaria. Fazer com que o Lavrador ganhe: deixallo: não se metter com elle: não o roubar: não lhe comer o suor do seu rosto: edificar hum muro de ferro e bronze entre elle e os Officiaes da chamada Justiça, e outros zangãos Seculares e Ecclesiasticos. Mas que? A toda a hora lhe batem á porta. Hum lhe pede a renda, outro o foro, outro a jugada, o quarto, o oitavo, o voto de S. Thiago, o bolo parochial, o dizimo, a alqueirada, o peditorio para Santo Antonio, dicto para a Terra Santa, a decima, o subsidio literario, o real d'agua, a sisa, o filho, o carro, o arado, o boy. Como ha de viver ? Tudo lhe ou por bem da causa publica, ou para honra de Deos, Deos disse " O suor do teu rosto será para ti: in sudore vultus tui vesceris pane" porém o homem mais forte inventou mil empregos e pretextos para comer o suor do mais fraco, Deos disse "Reza e eu te pagarei: outra na tua cella às escondidas, reza, e teu pay ce este que vê às escondidas te pagará. Infra in cubiculum tuum: ora Patrem tuum in abscondito, et Pater tuus qui videt in abscondito reddet tibi: porém o homem mais forte fundou mil Cabidos, Collegiadas, e Choros seculares e regulares onde rezasse, e devorou por este titulo todo o fructo do trabalho do mais fra-