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com muito mais razão deveriamos excluir de votar nas eleições a classe dos nobres, porque tem interesses oppostos aos do povo, e aspirão sempre a escravizalo, e sómente deveriamos admittir a classe media, porque he no meio, onde consiste a virtude.

O Sr. Alves: - Esta indicação tem sido discutida pró e contra com tanta quantidade de doutrina; tem-se dito tanto, que será difficil accrescentar alguma cousa que seja novo; com tudo não me parece necessario dizer mais, he o que vou provar. Quando se tratou da questão das eleições; lembro-me que estas razões que trouxe o illustre autor da indicação forão as mesmas com que se quiz combater as eleições directas; disse-se que em muitas classes da viação não havia a independencia necessaria, não obstante triunfarão as eleições directas; logo se queremos ser coherentes comnosco mesmo não devemos admittir a indicação porque dia he fundada em razões que se rejeitarão, quando se tratou das eleições directas. (Apoiado.) Quando se tratou dellas disse-se que era necessario que fossem feitas por toda a nação.... Ultimamente apezar de serem para mim muito respeitaveis as razões do illustre Deputado autor da indicação; apezar de serem essas as razões que expendi quando se tratou das eleições directas, se acaso nós queremos ser coherentes comnosco mesmo, devemos não admittir a indicação, porque essas mesmas razões hão de excluir outras muitas classes, pois como já se disse, os proprietarios pouco abastados estão quasi mo mesmo catado, e esta visto que os deveriamos tambem excluir; mas para excluir todo o numero delles que em Portugal se achão nessas circunstancias, seria um grande numero de votantes que se excluião. Por consequencia, sou de opinião que se rejeite esta indicação e todas as mais que lembrarem.

O Sr. Manoel Antonio de Carvalho: - Sr. Presidente, o illustre Preopinante que acaba de falar disse o mesmo que eu queria dizer. Uma vez que a nação portuguesa he representada, tem cada cidadão o direito sagrado de encolher os seus representantes. Para se elegerem bons representantes da nação não he preciso grandes conhecimentos, basta a opinião, essa minha do mundo, que sempre ha de reinar no coração dos homens. Esta indicação não só nos não poria ao abrigo dessa classe numerosa de que trata; antes pelo contrario nos faria talvez cair no abysmo de que felizmente temos escapado. Convem que haja opinião publica constitucional, para se elegerem os constitucionaes. Eu quereria, que ninguem absolutamente fosse privado de votar; mas como isto não póde ser, escolha-se muito embora assim, que a opinião mostrará á nação como se deve portar nas eleições.

O Sr. Ferrão de Mendonça: - Sr. Presidente: eu tambem não tenho esta classe de jornaleiros e artistas em conta de automatos, entes ao contrario, sei por experiencia, que elles tem todo o discernimento necessario, para escolherem bem os Deputados e Representantes da nação. Sei mais que entre elles, muitos se distinguem, a quem olhão como seus mestres a doutores; e que estes no mesmo trabalho lhos estão dando lições constitucionaes; porque he necessario que se saiba, que em toda a parte hoje ha Cortes, pois que em toda a parte se fala nas materias que aqui se discutem. Eu assisti a uma eleição de parochia, que constava de 700 a 800 listas, e cada uma de 31 compromissarios, e notei sempre o cuidado e esmero que todos os cidadãos (a maior parte não proprietarios) procuravão as pessoas mais capazes da freguezia, e indagavão se tinhão sentimentos constitucionaes. Notei mais, que a pluralidade dos votos recahiu sobre as pessoas que tinhão mais talentos e virtudes! Não se diga pois, que esta classe não tem instrucção nem capacidade para bem votar: não he assim: tem, como disse sufficiente conhecimento e discernimento; e os votos que eu examinei, forão sempre bons. O povo não está tão ignorante como se pensa. Algum dia os papeis publicos erão lidos sómente pelas pessoas literatas: hoje vê-se estar lendo o Diario e os jornaes em todas as das e em todas as lojas, sem exceptuar as dos artistas. Até nos mesmos chafarizes, sentados nos barris se estão lendo gazetas! O povo portuguez sempre em todos os tempos se distinguiu pelo seu patriotismo. Em 1640 não querendo nunca ser hespanhol, quebrou os ferros castelhanos: em 1808 não querendo ser francez, expulsou de Portugal as tropas francezas: em 1821 não querendo ser mais escravo, fez-se constitucional e livre; eu estou certo que sempre ha de querer ser portuguez, e constitucional, e que ha de forcejar para manter a liberdade e a Constituição. - Por estas razões, e por outras que omitto, voto contra a indicação, e sou de parecer que os jornaleiros e artistas tenhão voto nas eleições dos Deputados. (Apoiado, apoiado.)

O Sr. Guerreiro: - Farei por ser o mais breve que me for possivel. Tem-se pertendido demonstrar que os jornaleiros, e mais pessoas comprehendidas na indicação não são mais dependentes do que quaesquer outras: porem ainda não vi provados estes principios. Os jornaleiros não vivem senão da mercê que outros lhes fazem em troco dos seus officios, eis-aqui o motivo de dependencia. Disse-se que então não haveria classe que o não fosse; comtudo parece que estão acostumados toda a sua vida a buscarem sómente uma mesquinha subsistencia, deve ter mais dependencia do que os proprietarios que lhes fornecem esta mesma subsistencia, e sem que elles hão podem viver: aqui está estabelecida a differença da dependencia; quasi toda a sua vida estão sujeitos á vontade alheia, cousa na verdade incompativel com a verdadeira independencia. Um illustre Preopinante depois de dar outras razões pertendeo fazer competir a bondade das eleições he segredo dellas, por isso que qualquer podia prometter dar o voto num, e depois na occasião de o dar votar noutro, depois de lhe terem bebido o vinho de que se falou. Triste da nação portugueza se da immoralidade de certos sujeitos proviesse a felicidade della. O mesmo Preopinante para tornar esta indicação odiosa, pretendeu mostrar que Rosseau seria excluido de votar porque a indicação só admitte proprietarios, o exclue os officiaes de officios. Creio que Rosseau não pertence a esta classe; mas quando mesmo em Portugal houvesse um homem semelhante á elle haveria outros tão dignos: infeliz a nação cuja felicidade depende sómente de um homem, e mesmo