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mos defender os Direitos da Liberdade, e da Propriedade? Que delicto commettêrão os Padres de S. Vicente de Fóra para os desterrarmos para a fea, e desrabidissima Villa de Mafra? Com que jus os constrangeremos a trocar a sua Casa de S. Vicente pelo Mosteiro de Mafra? Diz-se que restabelecerão o Collegio que noutros tempos tanto floresceo! A decidida protecção do Marquez de Pombal, e a do Arcebispo Confessor o fizerão florecer: acabou-se a protecção, e o Collegio decahio repentinamente. Os Pays de familias doèrão-se de mandar educar seus Filhos n'huma Terra, que só parece propria para degredados; e não obstante a riqueza do tratamento, e a despesa annual ser só de settenta mil reis, os Conegos Regrantes achavão-se com pouco mais de doze Collegiaes quando vierão para Lisboa, tendo havido no Collegio muito acima de cem. E he de notar que isto aconteceo quando nesta Capital havia tanta mingoa, de Casas de Educação. O que succederá agora que ha tal abundancia, e não estando aquelles Padres em circunstancias de tratar os seus Educandos por preço tão diminuto, que não bastava de certo para ametade da despesa, fazendo-se como antigamente. Alem disto, senhores Deputados, nós vamos buscar hum bem incerto, perdendo hum que temos certo. Nas Aulas de S. Vicente ha duzentos Estudantes, que alli aprendem gratuitamente, e nas Aulas de Mafra talvez nem hum só appareça. E este Congresso que tem mostrado tanto interesse pelo estabelecimento de Livrarias Publicas, quererá perder a de S. Vicente de Fóra, onde desde alta manhan até às horas que convem a cada hum, e sem interrupção, se póde ler por livros excellentes, franqueados com muito boa vontade, e com muita polidez; e não como na Bibliotheca Nacional, que só de horas a horas se franqueão, a pezar do augmento de ordenados, e ser de todos? E que prejuiso, não hiremos fazer á Freguezia de S. Vicente! O espirito bemfazejo, e caritativo daquelles Padres se faz conhecer não pelas esmolas publicas, em que a vaidade póde ter muita parte, mas sim pelas esmolas occultas, que a gratidão dos que as recebem continuamente denuncia; esmolas que vão entrar no seio de muitas familias honestas, e que se põe a salvo da mendicidade; dadas sem ostentação, distribuidas com sabedoria. Concluo pois, votando afirmativamente pela primeira parte do Projecto, e negativamente pela segunda.

O senhor Borges Carneiro. - Eu não insistirei neste Projecto, porque já disse que verdadeiramente ha de occasionar despesas aquelles Padres, e não deixa de parecer-me dura a sua sahida do Convento. Por outra parte tambem me fez grande peso que se estejão a gastar 16 contos de reis com os Padres (que verdadeiramente não he com os Padres, senão com os Empregados) e que se esteja deitando a perder a Tapada.

O senhor Pimentel Maldonado. - Os Padres de S. Vicente já dão tres contos de reis, para as despesas de Mafra, porque motivo hão de elles ser os que carreguem com toda a despesa? Como hão de elles cuidar na agricultura da tapada, que confiança podem ter em que o seu trabalho lhes aproveitará, observando que os não deixão quietos em parte alguma?

O senhor Sarmento. - Apoyo o Projecto de Ley sobre as duas mudanças dos Padres Vicentes para Mafra, e dos Padres Arrabidos para fóra de Mafra. Não acho inconveniente algum nessas mudanças, e pelo contrario descubro muita vantagem para a Fazenda Publica, e grande utilidade para a Nação, a quem ambas as Congregações devem fazer sacrifícios, porque, á sombra das leys da Patria, ellas tem existido, e sido protegidas, alem dos deveres de Cidadãos, que eu supponho estão promptissimos a desempenhar. De toda a attenção ao que se tem dicto contra o projecto, e igualmente ao que em nome dos povos de Grijó se requereo, e não encontro argumentos, que senão de maior ponderação às seguintes considerações, que proponho a este Augusto Congresso. - Ninguem duvida que a despesa feita em Mafra foi huma das grandes calamidades Nacionaes por que passou a Nação Portugueza; eu seguramente se estivesse em circunstancias dos que estiverão ao lado do pomposo Monarcha, e fosse consultado, não aconselharia similhante empreza; porem o edificio existe, he soberbo, e, apesar de tudo, he sem duvida a obra prima de architectura, que nos tempos modernos se edificou em Portugal: deixalla arruinar seria lastimoso, e com justiça traria sobre nós o labéo de barbaridade. Entretanto a conservação de tão sumptuoso edifício exige despesas consideraveis, com que o Thesouro não póde. Nestas circunstancias não descubro outra combinação senão a que se propõe no projecto de Decreto, providencia tanto mais recommendavel, quanto da practica da mesma já a Nação tirou proveito. Tira-se igualmente vantagem para a Nação, estabelecendo-se hum collegio de educação proximo a esta populosa Capital, poupando ás familias, que prezão os beneficios de huma boa educação, as despegas extraordinarias, que se fazem em paizes estrangeiros, como em Inglaterra, França, e Allemanha: a educação he sempre precisa, porem nunca foi tão urgente como presentemente, quando a Nação Portugueza recobrou os seus direitos, e estabeleceo hum Governo representativo: necessita-se de sabios e de oradores para defenderem os direitos da sua Patria, advogar a causa da humanidade, e descobrir os meios de se augmentar a prosperidade publica: nunca se abrio á mocidade Portugueza huma perspectiva tão brilhante! Eu nunca fui de opinião que a mocidade fosse entregue á direcção de homens, que pertendem fugir do mundo, quando a mocidade se destina para viver no mundo; sei igualmente que os Padres Cruzios são taxados de fanaticos, porem como as Cortes devão sempre ter huma continuada superintendencia sobre os grandes pontos de administração publica, ellas cuidaráo com desvelo na educação da mocidade, e affastaráõ todos os estorvos que a empecerem, e não haverá então perigo de que tenha lugar o collegio, que o projecto de Decreto propõe. Pelo que diz respeito á represcutação dos povos de Grijó, eu seria de opinião que os Padres Cruzios do Convento da Serra defronte do Porto passassem para Grijó: naquella Cidade e visinhanças estão tão apinhoados os Conventos, que sería tal-