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Eu sei muito bem que ha duas classes a attender, a productora, e a consumidora; e que sendo esta a mais numerosa, e alguma parte della indigente, merece todas as nossas attenções, e ser muito mais contemplada que a productora; e particularmente nos generos da primeira necessidade.

Sei que devem tomar-se as mais sabias providencias para que elles sejão baratos, para que jamais possão faltar, e até para que não possa haver receio de que faltem, pois que até o mesmo receio póde ter funestos resultados.

Mas tambem sei, pois o tenho ouvido asseverar nesta Augusto Congresso, que temos azeite para mais de hum anno, e que a maior parte das oliveiras estão livres de ferrugem, e permittem huma abundante colheita. Só debaixo desta certeza he que sou de voto que se prohiba a importação de azeite; e porque estou certo que esta prohibição he temporaria, e que semelhantes deliberações nunca podem deixar de o ser.

Devemos tambem attender que as sabias providencias que se esperão a respeito das Pescarias, tanto em Portugal como no Brazil, nos proporcionarão grande abundancia de azeite de peixe. E finalmente que sendo provavel generalisar-se mui bveve a Bulla para se comer carne em quasi todos os dias do anno, haverá muito menor consumo de azeite.

E ainda mesmo que fosse necessario agora comprar-se alguma cousa mais caro, até se restabelecer hum pouco a sua cultura, deveriamos fazer este sacrificio para depois o comermos mais barato, e até podermos exportar grandes porções.

Ouvi a outro Illustre Deputado instar de novo sobre as grandes vantagens que tinha havido ha muitos annos em favor do nosso Commercio na importação, e exportação do azeite. E como outro Illustre Deputado o senhor Soares Franco acaba de responder sobre este assumpto; limito-me só a dizer que no mappa, que se apresenta, esqueceo fazer-se entrar em linha de conta a mui notavel differença entre a bondade do azeite Portuguez, e o azeite Estrangeiro; e por conseguinte a grande differença dos preços. E esqueceo tambem notar a enorme quantidade de azeite que entra por contrabando, principalmente pela Raiasecca, que he muito maior que aquella que entra pelas alfandegas. Omittindo-se pois estes, e outros dados que tem huma tão grande influencia no resultado do mappa, não merece a importancia que o Illustre Deputado lhe quer dar. E ainda merece menos attenção huma observação que ouvi; dizendo-se que pouco interessava a plantação das oliveiras, porque o fruto viria só para os netos. Esta proposição he diametralmente opposta aos mais solidos, e claros principios de economia, rural, e de interesse Nacional; e até totalmente falsa. Ninguem ignora que nas Provincias do Noite começão as oliveiras a produzir antes dos quinze annos, e nas Provincias do Sul muito mais cedo.

Se este principio, destruidor dos mais solidos e verdadeiros de economia rural, pudesse admittir-se, em breves tempos bem poucos frutos teriamos, nenhumas madeiras, nenhumas lenhas, etc. Hum Governo sabio, e providente anima sempre, e com muita mais preferencia, as plantações que dão fructos para os netos, do que aquellas que os dão para os que as plantão; e as razões são bem claras.

Porem voltando á questão principal devo lembrar a este Augusto Congresso a desconsoladora idéa da grande falta de numerario; e que augmentará muito se continuarmos a desprezar a cultura dos fructos que podemos vender aos Estrangeiros, e a comprarmos-lhes os que elles nos importão, e que muito bem podemos ter no nosso Paiz. Aprendamos com as Nações mais illustradas, e pratiquemos com ellas, o que ellas praticão comnosco. Lembrerão-nos que a agricultura foi sempre em todos os tempos hum manancial inexgutavel de riquezas Nacionaes, que alenta, e vivifica todas as classes; os pobres, os ricos, os velhos, e os novos. Lembremo-nos que se os agricultores não tiverem dinheiro, nada poderão comprar aos artistas, aos fabricantes, e tis mais classes, e por conseguinte estas tambem não poderão existir. Lembremo-nos que sobre os agricultores pezão os maiores tributos; não fallo só dos pecuniarios, fallo tambem dos filhos que elles dão para o serviço da Patria, dos seus transportes, dos seus generos, em fim de tudo quanto elles tem, e que de muito boa vontade o promptificão, sempre que he necessario para a defeza, e felicidade da Nação, como tantas vezes temos observado. Da agricultura dependem directamente o augmento da população, a abundancia do pão, e do trabalho, a saude publica, a independencia, a boa ordem, em fim, a felicidade Nacional.

Todos os bens, e riquezas que procedem da agricultura, são sempre os mais solidos, reaes e independentes das continuas alterações politicas, e economicas das outras Nações, e até mesmo da nossa. Nada he menos precario que a agricultura. Quanto he facil destruir-se hum Exercito, e por conseguinte a segurança interna, e externa! Quanto he facil destruir-se a Marinha, e por conseguinte o Commercio! Quanto he facil destruirem-se as fabricas, a industria, e outros muitos semelhantes estabelecimentos! E que impossibilidade não haverá em os estabelecer, principalmente não havendo abundancia de população, e de generos para a sua subsistencia! Huma Nação agricula he sempre a mais independente, a mais frugal, e quasi sempre a mais virtuosa. E desprezaremos nós hum paiz que produz quasi todos os frutos, hum terreno o mais fertil, hum clima o mais temperado, tantos e tantos bens que nos prodigalisa a natureza!

Concluo pois que será do maior interesse para Portugal aproveitar todos os terrenos proprios para a plantação das oliveiras, e que presentemente estão abandonados; e que se deve prohibir a importação do azeite, e promover, proteger, e premiar a exportação.

O senhor Bettencourt. - Eu confirmo com todas as minhas forças, o que acaba de expender o Illustre, Deputado, pois tenho viajado pelas Provincias do Norte, e então conheci, que a agricultura do Azeite, faz a principal riquesa daquelles sitios, e que