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interesses do Douro, e do Porto. O exclusivo existe ha tantos annos, que importa que exista mais sessenta dias? Para que havemos de estar com discussões importunas? Dizem que a Companhia não póde comprar por falta de numerario: isto não he assim. Se a Companhia não póde comprar, he porque a sua existencia está ameaçada: seguremos-lhe esta existencia, e ella terá dinheiro para si, e para seus amigos. Diz-se que o vinho do Douro soffre o mesmo empate que o das Ilhas, se soffre tal empate he em consequencia do projecto da extincção da Companhia pela abolição do exclusivo das aguas-ardentes. Tambem aqui ouvi dizer que a Companhia podia mandar distillar; e que o não tinha feito por dolo e malicia. Se a Companhia estava com 5:000 pipas de agua-ardente que era preciso consumir, como mandaria ella distillar mais, tirando-se-lhe o exclusivo? He uma contradicção manifesta querer que ella distille, e prohibir-lhe a venda. Dizer tambem que a Companhia prohibiu os seus alambiques aos Lavradores, não he exacto: ella deu licença a todos os Lavradores de Trás-os-Montes para distillarem: eu distillei o meu vinho. Assim a rasão por que os Lavradores tem deixado de distillar, não he a opposição que a isso faz a Junta; mas sim o estado em que se acha a lavoura, que não tem vintem para distillar uma pipa de agua-ardente: gastão-se ao menos 30:000 réis, e não ha dinheiro para tanto. Concluirei pois o meu discurso, dizendo: ou nós queremos ajudar os Lavradores, e remediar a miseria, em que se acha presentemente o Douro, ou não; se o queremos, o remedio está na nossa mão, que he prolongar o exclusivo das aguas-ardentes.

O senhor Presidente. - Esta materia está vencida: o privilegio das tavernas he a ordem do dia.

O senhor Innocencio. - Eu proponho isto, porque não se segue de estar vencida, que não se deva revogar. Venceu-se na boa fé: o Augusto Congresso deseja fazer bem; adoptou uma opinião, julgando ser amais acertada; agora conhece ter feito mal, assento que não deve persistir na mesma opinião por capricho. Logo que nós conhecermos o mal, havemo-lo de emendar; se não estamos no caso do Evangelho: Novissimus error peior priori. Se estamos pois na deliberação de fazer bem ao Douro, he necessario conservar o exclusivo nas tavernas: por tanto approvo o que propoz o senhor Ferreira Borges.

O senhor Pessanha. - O illustre preopinante, segundo os principios que estabelece, quereria que ninguem mais comprasse os vinhos do Douro senão a Companhia. Para que, perguntaria eu, se lhe concedem privilegios, senão para a exportação? Mas nós vemos que de 21 mil e tantas pipas só exportou tres mil. Se não havemos de tirar bem algum da Companhia, nem augmentar a exportação, para que serve então ella? só para negociar no paiz? O que agora digo, não he para que se lance já por terra o exclusivo: proceda-se com toda a madureza na reforma da Companhia; mas entretanto cumpre-me observar que os principios do preopinante não são admissiveis.

O senhor Sarmento. - Eu fui o Deputado curioso que trouxe a lista, que tanto encheu de indignação ao senhor Abbade de Medrões; e ella era muito importante para se ver a exportação relativa dos vinhos de feitoria despachados nas Alfandegas: duas casas de negociantes no Porto quasi exportão tanto Vinho como a Companhia. Isto são factos, e não invenção minha. Se a Companhia exporta para o Brazil, os Negociantes do Porto o fallão tambem, se lhes fosse anteriormente permittido exportar. A falta destas exportações, e a causa de se não fazerem he a Companhia. Já ontem expuz aqui o que me parecia conveniente fazer-se. Seria abusar da paciencia do Congresso, e tornar-lhe o tempo, o referir as mesmas razões, que ontem apontei, e que não forão destruirias pelo preopinante, nem pelo senhor Abbade de Medrões, e outros que falarão sobre esta materia. Os vinhos que se não exportarem pela barra, hão de ter consumo nas terras proximas do Douro e Minho; porque ainda que a população do Minho em geral seja pobre, e não possa comprar senão os vinhos mais baratos, com tudo a povoação do Minho he muito grande; e por isso havendo um meio franco e liberal de fazer a exportação dos vinhos do Douro para a provincia do Minho e cidade do Porto, ha de haver maior consumo do que havendo a exportação pelo systema de restricções da Companhia, Este parecer, que ontem dei, torno hoje a ratificar, porque não occorerão ideas algumas, que me fizessem mudar de opinião. Falo como um Deputado que não he lavrador do Douro: não tenho vinhos de alto, ou baixo cargo; a felicidade da minha patria he quem assim me faz falar; e tenho a maior satisfação de ver um illustre Deputado, o senhor Girão, que possue vinhos na parte do Douro, onde elles são menos reputados, e que havia de soffrer o maior golpe, se se realizassem as preoccupações, que existem sobre este objecto, advogar a causa dos lavradores. Estou bem persuadido que, segundo a medida por mim proposta, o vinho inferior ha de ter consumo não só no Porto, mas na provincia do Minho; uma vez que sentem estes tropeços, e que o commercio se faça com liberdade, que he alma delle, e sem a qual nem agricultura, nem commercio podem jamais prosperar.

O senhor Correa de Seabra. - Considero esta questão por um lado diverso daquelle por que atégora tem sido tratada. A provincia do Douro está dividida em duas opiniões, a saber: conservação da Companhia, e extincção da mesma; mas defendidas com tanto calor, que mais propriamente se podem chamar partidos que opiniões. Observo com tudo que a maioria dos habitantes do Douro pugnão pela conservação da Companhia; conservação que me parece necessaria para evitar que saião repentinamente do giro mercantil grandes sommas de numerario, e manter a reputação do nosso vinho. Julgo por conseguinte que se deve tomar uma resolução tal, que, não contrariando a opinião geral da provincia promova os interesses da lavoura e do commercio: e no supposto, a minha opinião he, que a Companhia se conserve no estado actual; que as Cameras do Douro nomeiem cada uma com a maior brevidade uru ou dois lavradores; que estes lavradores, retinidos em dia determinado, em lugar central, que poderia ser a Regoa, nomeiem uma commissão de lavradores pa-