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que não deve questionar-se em geral, se esta lei he conveniente aos cidadãos portuguezes, ou não; mas deve examinar-se, se nas circunstancias actuaes deve ou não entrar na Constituição. Para sabermos se ella nas circunstancias actuaes deve entrar na Constituição, he preciso que ella se possa immediatamente executar. Por consequencia, como nas circunstancias dadas na sociedade, segundo dizem alguns Preopinantes subsistem ainda muitos obstaculos fysicos e moraes, que se oppunhão ao augmento da população, e estes não se podem tirar já, antes subsistirão por muito tempo: segue-se, que por muito tempo subsistirão os inconvenientes que se oppõe a que esta lei se ponha em execução. Pergunto agora: se acaso he politico, e conveniente á sociedade, que se ponha como constitucional uma lei, que só daqui a muitos annos se poderá executar? Voto pois, que se regeite a moção inteiramente, porque não póde entrar na Constituição.

O senhor Borges Carneiro: - Trata-se do meio de promover os matrimonios: esta questão, se nós a quizer-mos profundar, ha de levar-nos a um grande aperto. Tenho por certo como maxima politica a necessidade de promover os matrimonios. Ha pouco tive uma carta de Braga onde se mostra que o grande numero dos expostos que havia, procedem em ultima analyse, do grande numero de ecclesiasticos, pois que medizião que a cada ecclesiastico competião 13 mulheres solteiras.

Se procuramos profundar esta questão de promover os matrimonios nós nos metteremos, como disse, em grande aperto! Porque em uma parte temos S. Paulo que escrevendo aos da Epheso diz o matrimonio he um grande sacramento: sacramentum hoc magum est. Que todo o Bispo deve ser casado com uma mulher, e ter os seus filhos bem criados. E escrevendo aos de Corinto diz, que não aconselha a continencia, salvo se fôr a alguma viuva, pois (diz), quando eu trabalhei em Corinto aconselhando o celibato Non sum locutus ex spiritu sede insipienti. O Concilio de Trento difiniu, que todo o que disser que o cilibato não he o estado mais perfeito que o matrimonio, anatema sit. Eis-aqui porque eu digo, se os Deputados quizerem entrar na questão que se expõe, procurando preferir para os empregos casados, darão a entender que o estado do matrimonio he maiz perfeito, que o do celibato: nesta collisão, entre a autoridade do Apostolo e o Concilio, me parecia, que a questão de que se devia tratar, era se o Texto do Apostolo se devia pôr na pratica; porque approvar o addicionamento, seria em certo modo declarar o matrimonio mais perfeito, e ser contrario ao Concilio.

O senhor Bispo de Beja: - O illustre Deputado o senhor Borges Carneiro entre varias observações que fez sobre a moção proposta pelo illustre Deputado o senhor Carlos Honorio, sobre o § 13 do tit. 1.° da Constituição, propondo que se devia accrescentar, que com igual merecimento deveria sempre preferir o casado ao celibatario; advertio, que o Apostolo na Ep.º ad tit. cap. 1. v. 6. ordenara, que o Bispo devia ser casado; e que não podia descobrir razão alguma solida, em que se fundasse o Concilio Tridentino, cara definir, que o estado do celibato era mais perfeito que o do matrimonio. A este parecer me opponho, sustentando, que as duas proposições que o illustre Preopinante tem proferido contem doutrina falsa, que não se deve tolerar.

Quanto á primeira proposição, he claro, que ella contem o erro, que seguirão os protestantes mais antigos; e do mesmo sentimento parece ter sido a confissão de Ausburg. art. 23. São tão futeis os argumentos, com que os antigos protestantes sustentavão a sua opinião, que os protestantes mais modernos, como Fleischer, e outros, querendo sempre arguir a igreja romana de não ter bem entendido a mente do Apostolo, seguirão outro rumo; sustentando que o Apostolo sómente excluia os bigames simultaneos, e de nenhum modo os successivos. A razão em que se fundão he a seguinte. No tempo dos Apostolos erão frequentes os poligamos simultaneos não só entre os gentios, mas ainda entre os judeos; e por isso o Apostolo querendo extirpar este abuso, mandou, que fossem repelidos do sacerdocio os que actualmente tivessem muitas mulheres. Porem a interpretação quasi geralmente seguida pelos P.P. da igreja, e pelos escriptores ortodoxos antigos, e modernos he, que o Apostolo excluia do sacerdocio não só o que tivesse muitas mulheres simultaneamente, mas tambem successivamente.

Com effeito, o Apostolo, na 1.ª ad Timolh. cap. 5. v. 9. manda, que a diaconisa não tenha menos de 60 annos, e que não tenha tido senão um marido: ora ninguem até agora disse, que a polyandria estivesse em uso no tempo dos Apostolos; entre os romanos, e judeos; conseguintemente o Apostolo não podia ter em vista repellir do officio de diaconisa as que actualmente tivessem muitos maridos, mas sim as que tivessem muitos successivamente; e isto pelo mesmo motivo, que moveu o Apostolo a exigir a dita qualidade nos que fossem assumidos ao sacerdocio.

Não se póde porem avançar um maior paradoxo, que o de affirmar, que o Apostolo no lugar citado impozera aos sacerdotes o preceito de serem casados. O discurso do Apostolo na Ep. 1.ª ad Cor. cap. 7. destroe uma tão temeraria asserção. Elle aconselha si continencia a todos, significando o desejo que tinha, de que todos fossem como elle, e ponderando-lhes os obstaculos, que nascião do estado conjugal, e que embaraçavão cogitar em Deos com um animo livre, e desembaraçado das cousas mundanas.

Quanto á segunda proposição. Cumpre formar uma noção verdadeira e exacta da perfeição christã. A perfeição não está nos conselhos evangelicos; e nisto he que peccão os raciocinios, ou para melhor dizer os paralogismos, com que os Deistas pertendem atacar a Religião Christã. A perfeição está na caridade; está em dirigirmos a Deos, como nosso ultimo fim, todos os nossos pensamentos e obras. O que nós chamamos conselhos são meios, que mais facilmente nos levão á perfeição; rigorosamente foliando não ha estado mais perfeito que outro estado; isto he perfeito, e mais que perfeito he para os gramaticos; na lei da ordem tudo he ordem, e segundo os dictames desta, todo e qualquer que for o estado, em que se achão constituidos, estão obrigados a fazer todos os esfor-