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sempre o poder executivo movido da ambição procura sobornar, corromper, e peitar as eleições; isto nos ensina a historia antiga e moderna; isto viu-se nos tempos antigos, e vê-se em Inglaterra; não he possivel que as eleições deixem de ser feitas sem alguma influencia: esta verdade he confirmada desgraçadamente pela experiencia, mas na eleição indirecta são mais os meios de subornar e corromper; quando pelo contrario na eleição directa, não ha tantos meios de corrupção; he maior o numero dos obstaculos, que se oppõem a que manobre a corrupção. He grande o numero dos eleitores, toda a nação forma o grande circulo da eleição directa; quando na eleição indirecta he este muito pequeno, e em consequencia maior a facilidade de corrupção. Traz-se contra a eleição directa, que ella produz tumultos e confusão; olhando-se para a Inglaterra assim acontece. He verdade que na Inglaterra ha tumultos, mas não he só lá que, se quebrão vidraças, e se dão assobios, e com tudo he certo que os inglezes julgão que estes tumultos são o meio mais solemne da nação declarar a sua vontade; elles até erão tão agradaveis á imaginação de J. J. Rousseau, que elle diz a ser está a occasião unica em que o povo inglez era livre e soberano. Todavia estes tumultos nascem de outras causas; que entre nós não existem. A eleição póde fazer-se por fracções, sendo cada freguezia chamada á cabeça do concelho em vez de se chamar toda a população á capital da comarca, ou condado como em Inglaterra, aonde este systema nasce das instituições antigas. Antigamente não erão só as eleições, mas os ajuntamentos populares se fazião em campos, tendo a céo por telhado; foi depois de um ajuntamento no campo de Runnimead que elles conseguirão a Magna Charta no tempo do rei João sem terra. Estes ajuntamentos tambem tinhão antigamente lugar nas Hespanhas: houve-os no tempo de João 2.º de Castella; e o mais celebre foi o ajuntamento no campo de Cabezon no tempo de Henrique 4.°, onde se ajustárão as differenças entre aquelle rei, e o Marquez de Vilhena, chefe dos descontentes. Em Inglaterra estes costumes dependem de instituições antigas, que os inglezes são muito costumados a seguir, porque são aferrados aos seus usos antigos, e estilos. Outro argumento de que se servem he, de que por meio das eleições directas o povo não poderá ser informado da escolha de seus representantes, isto he um engano: o povo nunca vai para as eleições sem se aconselhar com as pessoas mais capazes de lhe dar conselho. He melhor a influencia do conselho do que a influencia do suborno; por isso pode haver todos os meios, para que o povo se apresente bem informado com as pessoas que julgar capazes de o aconselhar. Na America Ingleza se adoptão as eleições directas, e não ha receio do povo se apresentar ás eleições sem ser informado; o diccionario politico da America tem até um termo, que he a palavra caucus: os partidos naquelle paiz formão suas associações directoras das eleições para os cargos politicos, e a historia nos informa que um dos mais respeitaveis eleitores politicos, o ex-presidente Adams, foi eleito membro de Boston por aquelle modo. Verdade he que semelhantes associações ressentem-se do espirito de parido, porém partidos são inseparaveis das ideas de liberdade; e eu não acho inconveniente em que em associações se averigue a capacidade, os talentos, as virtudes, os principios politicos daquellas pessoas, que dão nos olhos da Nação, para poderem ser seus representantes em Cortes.

Voto por tanto pela eleição directa; a fim de que a Nação portugueza possa eleger os seus Deputados sem influencia do poder executivo nem de facções. Ouvi tambem um argumento de que nós nos achavamos aqui reunidos, e ninguem dizia mal das nossas eleições. Eu li em papeis publicos que a minha propria eleição tinha sido injusta; talvez que o mesmo se diga a respeito de outras; por isso não considero de muita força semelhante argumento; antes he mais uma razão para se estabelecer um methodo de eleição; para senão dizer que a eleição de fulano foi injusta, o que se não dirá sendo a eleição feita pela Nação, sem dependencia de pessoa alguma; porque á Nação pertence escolher os seus mandatarios como for da sua vontade, e á eleição indirecta restringe visivelmente um direito tão sagrado; e entrega á disposição de poucos uma escolha, que pertence a muitos, e á qual somente se poderia pôr alguma limitação, quando houvesse impossibilidade de poder qualquer cidadão desempenhar uma tão importante prerogativa pessoalmente.

O senhor Miranda: - O illustre Preopinante diz muito bem, que a eleição directa he melhor, e seria bom que as Cortes fossem á eleição de todos os cidadãos; mas quereria que se apresentasse um meio para este se poder praticar; isto não he possivel, nem nos devemos tratar se he conveniente ou não. Devemos examinar um meio de verificar esta eleição; não quero que imitemos os Inglezes nas eleições; e tambem não podemos imitar a republica da Grecia nem a de Roma, he necessario, apresentar uma eleição que seja a melhor para fazer conhecer qual he a vontade da Nação: nisto, he que devemos dissertar. A mim lembrava-me um meio: nós temos tres milhões de habitantes, e por conseguinte um numero de pessoas correspondente a 100 Deputados, cada Deputado a 30 mil habitantes; por ora não determino se o Reino se ha dividir em comarcas, julgados, ou concelhos, não falemos nisto. Não haverá grande inconveniente em que cada comarca corresponda a 3:000 habitantes; por isso não ha inconveniente era que se reunão estes 3 mil habitantes para darem o seu voto para a eleição de um Deputado, e isto logo directamente; poderão propor um ou tres, isso como lhes parecer: far-se-ha uma lista, a qual será apresentada na comarca, e depois irá á cabeça de comarca fechada, e rubricada para ahi se juntar com as outras mais listas, sendo acompanhadas de 5, ou 6 compromissados de cada concelho para evitar que se alterem. Estas listas abertas darão os Deputados respectivos á maioridade de votos. Eis o melhodo que me parece deverá adoptar-se.

O senhor Leite Lobo: - Aquelle methodo tem difficuldades que podem evitar-se; a eleição pode fazer-se nas paroquias sem tirar os povos das suas freguezias; nós vimos fazer juntas nas paroquias com o