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para marido da Rainha um dos grandes do Reino, isto poderá dar lugar a algumas intrigas; mas para isso estão a» Cortes, que porão remédio a esses males. Approvo por tanto a emenda.

O Sr. Pessanha: - Eu tambem a apoio, porque lembro-me que o espirito da emenda salvou a Portugal na morte do Rei D. Fernando.

O Sr. Moura: - Eu não me conformo inteiramente com as opiniões dos três ou quatro Srs. que me tem precedido a falar, e apesar de ser muito digno de louvor o zelo que elles mostrão para que em nenhum caso esteja a nação portuguesa sujeita á influencia de uma pessoa estrangeira, com tudo me parece que elles falão neste sentido, tendo mais em vista a Constituição antiga do nosso Estado, do que esta que presentemente estamos fazendo. Que nós fossemos muito zelosos de que antigamente no trono portuguez se não assentasse, nem se associasse algum estrangeiro, he muito justo, porque a Monarquia era absoluta: ElRei reassumia o exercicio de todos os poderes políticos, e então poderíamos temer com razão a tyrannia de um Príncipe estrangeiro: mas uma vez que assentamos como ponto principal, que o que rasar com a Rainha nunca se chamará Rei, nem o será, e que a Rainha terá o inteiro exercicio do poder executivo, e uma vez que estamos fazendo uma Constituição em que o poder de legislar se concede a um Congresso que se junta periodicamente todos os annos, e o de executar as leis ao Rei coarctado em fim por varios modos, e estabelecendo diversas garantias, que perigo ha em que um Príncipe estrangeiro venha sentar-se n'um throno, a que não sobe para governar? Diz-se que os Principes farão os costumes da sua nação: ha cousa mais fútil que esta e porque as Princezas não hão de trazer do mesmo modo os costumes? Quem terá mais influencia o Rei, se for estrangeiro, ou a Rainha? Consulte cada qual o seu coração, e veja se as mulheres tem menos influencia nos homens, que os homens nas mulheres: pelo menos a influencia será igual. Digo pois, que não julgo, que ha risco nenhum em não admittir a emenda proposta.

O Sr. Sarmento: - São engenhosas as razões do Preopinante; mas não convencem. A influencia das mulheres apenas chegaria a introduzir a moda de algumas cabelleiras de França, ou da maneira de se apresentarem as damas na corte com donaires mais compridos, ou mais curtos; mais a influencia dos homens he de gráo mui differente. Eu já apontei factos, e poderia apontar outros vários. Os Reis estrangeiros são logo cumprimentados por aquelles nacionaes que se amoldão aos seus costumes, e usão de toda a influência que tem a seu alcance, para que se propaguem os principios que quer o Principe. Devemos considerar o caracter da Nação portuguesa, se ha Nação no mundo que abomine os estrangeiros, quando elles os querem governar, he a portugueza; ao mesmo tempo nenhuma he mais hospitaleira com elles, e os agasalha e considera mais. Com elles todavia e sempre se tem tido um certo ciúme, e sempre tem sido vigiados: assim aconteceu com o celebre Marechal Sehemberg, que foi chamado em o tempo da guerra da acclamação, que apezar de dirigir a guerra nunca se lhe entregou o primeiro posto do exercito: assim aconteceu com o Conde de Lippe, que apezar de seus talentos militares era muito vigiado pelo Marquez de Pombal, o qual não dormia, e era muito zeloso de seu poder. Não devemos lambera deixar de considerar o que se tem passado em nossos dias; talvez a revolução não tivesse tido effeito, senão tivesse havido factos, que hião realizar a existência de um Vice-Rei estrangeiro em Portugal. Eu não quero uma utopia ou republica de Platão; eu quero que façamos uma Constituição como casaca que se amolde ao nosso corpo.

O Sr. Moura: - Não se trata de utopia, nem de republica de Platão; fazer uma boa Constituição consiste principalmente em marcar bem os limittes dos poderes politicos; a isto deve dirigir-se o verdadeiro zelo, o mais pouco importa.

O Sr. Castello Branco Manoel: - Eu sou de voto que á Nação portugueza ha de ser quem faça a escolha, dentre seus mesmos individuos, da pessoa que se destinar para marido da Rainha: por tanto approvo a emenda.

O Sr. Camello Fortes: - Sou de opinião que a Rainha sendo successora da coroa não case com estrangeiro senão com nacional; e se assim se praticava nos governos absolutos com maior razão deve continuar-se a observar nos governos constitucionaes; porque dada a hypothese de casar a Reinha com quem quizer, podia casar com um Rei absoluto, e vir por este modo a perturbar-se a manutenção do systema constitucional.

O Sr. Annes: - Um dos illustres Preopinantes, cujas opiniões costumo respeitar muito, diz que he indifferente, que a Princeza hereditaria case fora do reino, e a razão que allega he, porque n'um governo constitucional, estando distribuídos os poderes, o Rei nada pode fazer; porque a responsabilidade recahe sobre os Ministros. Com effeito este argumento parece ter grande força; mas não julgo ter tanta como apresenta. Uma theoria sublime do governo representativo he que o Rei não pode fazer mal; mas he verdadeira? He certo que hão póde fazer mal?

Consultemos a historia dos governos constitucionaes é veremos, que apezar da responsabilidade dos Ministros o Rei póde fazer muito mal; de conseguinte não he indifferente o governo de um Rei. Pergunta-se agora, se o marido póde influir mais na mulher, que a mulher no marido. Diz o Preopinante que as mulheres influem mais nos homens; porem he muito sabido aquelle dito, cuja vulgaridade o tem feito passar como rifão, que não ha governo melhor que o das mulheres; porque então he quando governão os homens, donde se vê, que a opinião publica reconhece, que os homens influem mais as mulheres, que as mulheres os homens, porque em razão de sua sensibilidade, e de sua fraqueza, de donde resultão seus vícios, e suas virtudes, ellas são mais dominados pelos homens, que os homens por ellas; e d'aqui vem, que as leis de todas as nações sempre subjeitárão os mulheres aos homens. Vê-se consequentemente, que a influencia dos homens he maior; logo ainda que o