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dos, sem motivo bem fundado, e existente, uma engeitada, ou orfã, que se achava no referido hospital, Sala das Côrtes, em 13 de Abril de 1837. = O Deputado Bernardo Gorjão Henriques.

O Sr. Gorjão Henriques: - Sr. Presidente, quando hontem motivei esse requerimento, disse (e ainda o repito), que o facto chegara ao meu conhecimento, por differentes pessoas; que eu não o presenciei, nem poderia presenciar quantos me viessem ao meu conhecimento de similhante natureza a este Congresso; entre tanto, que não interpuz o meu juizo relativamente á boa ou má opinião do individuo, a quem se diz tocar o mesmo facto. Eu observei alguma especie de descontentamento nesta assembléa, por se trazer aqui este, facto, talvez por parecer que seria uma accusação particular. Declaro altamente, que não sou accusador de pessoa alguma; que mesmo o não tenho sido dos meus inimigos capitaes, e dos meus inimigos politicos, que tantos prejuizos me causaram: não o serei por tanto, nem de individuos particulares, nem mesmo de pessoas do Ministerio; nunca: porque nau vim do meu paiz para fazer Ministerios, ou desfazer Ministerios, nem para pôr homens, ou tirar homens, deixando antes a accusação á liberdade de imprensa, e o castigo á opinião publica: eu vim aqui para advogar a causa da patria: - quanto fôr conducente a este fim eu o farei. - Sr. Presidente, parece-me que com alguma injustiça se disse, que este não era o logar proprio de apresentar este requerimento. Acaso não apparecem aqui todos os dias outros, que involvem pertenções pessoaes? Outros desta, ou daquella corporação - isto julga-se proprio, do logar. Então será improprio gastar algum pouco tempo a este Congresso com uma requisição, que toca a uma pertenção que é geral a toda a Nação, e filha de um dever meu, e não de especialidade, qual é a pertenção... da justiça, e da execução da lei? Ou da reparação do bom nome de qualquer funccionario abocanhado pelo rumor publico? Sr. Presidente, em defeza dos direitos da desgraça opprimida, que não tem sempre defensores, eu lanço a luva aos que se encarregarem de...pôr por parte do poder, ou dos interesses pessoaes; e quanto mais abatida eu vir a causa, que jurei sustentar, com tanto maior coragem e promptidão vestirei as armas: é genio e caracter meu soccorrer o mais fraco. - Sr. Presidente, desenganemo-nos: eu reclamo que tenhamos muita imparcialidade em tudo, e com todos: veja-se o objecto, ainda que não agrade a alguns, quem o apresenta. Quero que se note bem que eu disse, que se existia esse facto, que se attribuia ao administrador; era necessario que depois de uma escrupulosa, e imparcial averiguação, apparecesse a verdade, e o resultado dessa descoberta; não respondendo pela exacção. Julgo-me sufficientemente informado, e não é a mim, que pertence andar a perguntar por elle a todos que encontrar, ou instaurar summario, ou tirar devassa para seu conhecimento. Se fôr verdade, castigue-se o culpado; e se o não fôr ficará illesa a probidade do individuo, do qual, em homenagem á verdade, se me tem feito elogios, e será pena que nelle se encontrasse uma fragilidade revestida de tão carregadas circumstancias, e eu, a não estar ao facto (o que devéras desejo), ficarei conhecendo aquelles que me informaram mal; e não mais me fiarei em suas informações: respondendo deste modo ao que se continuar a dizer, ou escrever sobre tal materia, cuja discussão bom é atalhar. (Apoiado, apoiado.)

O Sr. Presidente: - Devo lembrar ao Sr. Deputado, que me parece não houve discussão alguma, em que eu dissesse que o seu requerimento era improprio, nem mesmo se podia estranhar; porque ainda senão tratou de lhe dar destino.

O Sr. Gorjão Henriques: - Perdoe V. Exca. Disseram vozes deste lado da Camara, é verdade que em pequeno numero, que aqui não era logar para se apresentar similhante requerimento; é verdade que tive a honra de ver, que a maior parte dos Srs. Deputados eram de opinião contraria, porque até me disseram que fallasse, e eu por isso continuei, conhecendo-se por esse facto que opinião em contrario era parcial, e talvez pessoal; mas termine-se este incidente tambem, remettendo-se o requerimento ao Governo, se assim se julgar que deve ser, e ficando ao testemunho desta assembléa a verdade do que disso sobre o occorrido homem.

Vozes: - E' verdade, é verdade, apoiado, apoiado.

O Sr. Franzini: - Bem longe de censurar o illustre Deputado, por ter feito este requerimento, eu louvo o seu amor á justiça e humanidade, e acho este logar muito conveniente para apresentar requisições desta ordem, quando se suspeite que taes factos existem; mas ahi é que está a duvida. Eu hontem sahi d'aqui cheio de ira contra um similhante atentado, e procurando immediatamente haver informações a respeito do accusado, sube que o administrador, a quem se imputa o facto, é um cidadão, que goza de muita reputação, e que tem feito grandes serviços na casa da misericordia, extirpando muitos abusos e malversações que lá havia, e que por esta razão tem granjeado grande numero de inimigos. Por isso é que peço ao Congresso, que suspenda o seu juizo a este respeito, (apoiado, apoiado) até que se averigue o facto; se se provar, teremos logar de exigir o bem merecido castigo; e se não houver prova delle, então deve ficar ilesa a probidade do administrador da casa da misericordia.

O Sr. Presidente: - Creio que é a unica cousa, que ha a fazer.

O Sr. Leonel: - A misericordia de Lisboa, assim como uma grande parte das misericordias de Portugal, são hoje administradas por Commissões, e a experiencia mostra, que essas Commissões tem desgostado muitissima gente, e em consequencia tem-se-lhes tambem levantado muitos testemunhos. (Apoiado.) Ora a respeito desse facto direi, Sr. Presidente, que não sei, se é verdadeiro, ou não: direi mais, que a pessoa, a quem esse requerimento se refere, procurou-me esta manhã, e eu não lhe quiz fallar; pois ainda que lhe fallei, disse-lhe, que lhe não queria fallar: respondeu-me: bem, não me falle embora, mas faça as diligencias para que a verdade seja averiguada. Por tanto digo, que se façam as averiguações possiveis se é calumnia, é muito grande, quando d'um homem se diz isto; se fôr verdade, então soffra o resultado do facto, que cometteu.

O Sr. Ferreira de Castro: - Sr. Presidente, disse o illustre Deputado auctor deste requerimento, que lhe parecêra, que o Congresso tinha estranhado muito a materia delle...

O Sr. Gorjão Henriques: - Uma parte do Congresso.

O Sr. Ferreira de Castro: - Bem, e V. Exca. disse tambem ha bocado que o Congresso o não estranhára: eu tarar bem não o estranharei, (porque esta palavra parece-me um pouco forte) mas estimaria que este facto nunca tivera vindo ao Congresso.

Uma voz: - Tambem eu.

O Orador: - Porque ha factos, que quando se apresentam, principalmente no seio da representação nacional, por mais justificados que sejam, e pelo modo que neste paiz se administra a justiça, deixam impressões, que jámais só apagam. (Apoiado.) Hontem sahi d'aqui com a minha consciencia inquieta; posto que o Sr. Deputado disse, que não affiançava as informações, que ácerca delle tinha.......

O Sr. Gorjão Henriques: - Já as affiancei.

O Sr. Ferreira de Castro: - Este facto, Sr. Presidente, é daquelles que lançam um ferrete de opprobrio e de immoralidade na raça humana!

Vozes: - E' verdade.

O Orador: - Ainda bem que elle vem acompanhado de circunstancias, que fazem honra á virtude feminina; porque ainda neste seculo, em que tanto se tem querido desacreditar esse sexo, houve uma mulher que na posição dependente, em que se achava, teve a virtuosa coragem de repelir tão monstruosa seducção. O administrador da casa da misericordia, que não conheço, e que nem seu nome sabia, segundo estou