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natureza; vou pois combater primeiramente os argumentos de localidade, e o farei com este mappa na mão.

Temos a freguezia de Alvega ao sul do Tejo, e ao nascente de Abrantes; e da sua maior população, ou antes da aldêa que constitue a principal parte da mesma freguezia, e onde está a igreja, ha uma distancia, e que distancia a Abrantes e ao Gavião no espaço de quatro legoas, duas de Alvega a Abrantes, e duas ao Gavião.

Temos a Casa Branca, limite da freguezia ds Alvega, e tambem do concelho de Abrantes, a meia legoa, com pequena diferença, da freguezia, ou igreja; e ahi uma ribeira multo caudalosa e rapida, que divide n'esse sitio o concelho de Abrantes do Gavião, chamada mesmo a ribeira da Casa Branca pelos indigenas, e além da povoação de Alvega, á sabida logo, fica outra grande ribeira principalmente de inverno, de modo que os povos da Casa Branca, e alguns outros, e casaes situados entre Alvega, e Casa Branca, tem de passar no inverno a grande ribeira da Casa Branca ; e a quasi totalidade dos habitantes da freguezia tem de vencer duas grandes ribeiras para irem ao Gavião, que são a da Casa Branca, e a de Alvega, quando os da Casa Branca, e de alguns casaes, vindo a Abrantes só passam a de Alvega; e os de Alvega, e todos os mais sómente tem a passar um riaxo, ou antes um arroio, que ha perto de Alvega para o lado de Abrantes. Ora a communicação dos póvos de Alvega é toda com Abrantes por terra, e pelas aguas do Tejo, que é de bella navegação até o porto de Alvega, vantagem que não tem o espaço intermedio de Alvega ao Gavião, que tem sómente a má serventia por terra: e aqui se faz já patente quanto é vantajoso para os póvos, que em Abrantes tem todos os recursos necessarios para suas exigencias, e ainda sem o pequeno incommodo de passarem as bem servidas barcas do Tejo se podem prover de tudo no rocio de Abrantes, que é um brilhante ponto para consumo, e commercio da provincia do Alem-Tejo, e hoje tão florecente que n'elle se encontra tudo o necessario para as commodidades da vida.

De mais, de Alvega para Abrantes ha um excellente caminho, que dá serventia para a provincia do Alem-Tejo e Beira Baixa; e onde vem dar junto a Alvega a estrada larga de Niza e Portalegre, que as carretas, e transportes grandes são obrigados a buscar com grande circuito por causa do pessimo caminho da Casa Branca ao Gavião; mas esta boa estrada acaba na Casa Branca, e d'ahi para Gavião apenas hoje admitte cavalgaduras carregadas, que seguem os almocreves, e não podem passar seges ou transportes pesados. O illustre Deputado o Sr. Soares Caldeira sabe muito bem que em Novembro de 35, quando eu, e elle fomos eleitores a Castello Branco, indo nós em companhia de outros eleitores, que viajavam em seja, sempre tivemos de ir fazer a volta de uma legoa, ou mais, e que tendo eu a honra de vir na sua companhia, quando regressamos pela estrada de Gavião para Alvega e Abrantes, tive de me apear, por ter medo de me desgraçar em algum daquelles barrancos, não sendo eu com tudo dos menos affoutos. Nem póde dizer-se que a Camara de Abrantes tem recebido impostos de Alvega, e que não tem concertado a estrada; esta estrada nunca pertenceu ao districto de Abrantes, e o máo caminho é da Casa Branca até ao Gavião, e seu concerto pertence á municipalidade deste concelho.

Disse tambem o illustre Deputado, que ninguem melhor do que elle poderia informar sobre esta questão, porque tem na freguezia de Alvega uma grande parte dos seus bens, e que é senhor de duas terças partes da mesma freguezia, pelo menos!! Ainda que esta particularidade fôsse certa, e notoria, como parece da affirmativa do illustre Deputado, acho que isso só não basta. Eu fui para Abrantes em 1811 de idade de vinte e dous annos, e resido alli ha vinte e seis annos; e ainda que o illustre Deputado, que certamente não tem permanecido muito mais tempo nessa aldéa, tenha a sua casa em Alvega, terá, mais conhecimento dos individuos da freguezia, mas não da sua, localidade em geral, e particular o illustre Deputado, que tambem se acha presente, e que é governador de Abrantes, está alli residindo ha tres annos, tem tido tempo para conhecer aquellas localidades, e por isso mesmo que nem elle nem elle temos alli cousa alguma que nos interessa, (como acontece ao outro illustre Deputado) podemos ambos ter o merecimento de estarmos despidos de todas as circunstancias, que poderiam fazer suppôr qualquer, ainda mesmo pequena, paixão particular, ou influencia pessoal em nossas opiniões sobre a questão: o illustre Deputado, governador de Abrantes não tem alli um palmo de terra; e quanto a mim, nenhum palmo tambem do meu pequeno terreno é situado na freguezia de Alvega, ou toca em ponto algum com a mesma freguezia por tanto quando tiver qualquer dependencia, fico do mesmo modo sujeito no julgado de Abrantes, pois que a nova divisão do territorio não tocou em cousa alguma dos maus interesses pessoaes; e talvez não aconteça o mesmo a respeito d'alguem: (trago isto para mostrar que uma outra pessoa se póde preoccupar). O povo de Alvega, ficando como estava, tem o seu juiz de direito, e a sua correição a duas legoas de distancia; o povo de Alvega, passando para o concelho de Gavião, tem o seu juiz ordinario a duas legoas, e a onze a sua correição; o povo de Alvega está acostumado com Abrantes; e o estado de prosperidade, em que se acha essa freguezia, deve-o às suas relações com Abrantes, onde vem fazer o seu commercio. {Risada de escarneo do Sr. Soares Caldeira). Ainda que seja um ponto de passagem para as terras do Alem-Tejo não póde ser independente de Abrantes, e se se resolver a desannexação, neste caso será muito oneroso no povo de Alvega pertencer a um concelho d'onde não tira recursos, e sómente os incommodos, ficando realmente dependente em todas as suas relações d'outro, onde vem buscar tudo que lhe é mister; e porque, ficando Abrantes no transito de Alvega para Lisboa, os habitantes desta freguezia, os seus barcos, tudo depende do concelho de Abrantes para os usos da vida, e do commercio.

Ora, Sr. Presidente, é principio sabido que, em tudo quanto for possivel, se deve fazer a vontade aos povos, que tem por fundamento usos, costumes, e pertenções innocentes, e que nas divisões de territorios é conveniente que assim se verifique, ainda quando sã haja de prescindir da dimensão do terreno, como a offerecem sómente as considerações estatisticas da localidade. Eu estou persuadido que para todos os objectos às administração publica, para lançamentos, e pagamentos de decimas, para eleições de qualquer especie que ellas sejam, e para a administração de justiça, como ha pouco fiz ver, é mais util aos povos de Alvega virem a Abrantes, do que irem ao Gavião; porque nesta ultima hipothese, além de tantas razões de conveniencia, já mostrei as ribeiras, que tinham a passar; isto é um facto, porque aqui estão marcadas n'um mappa, e quem quizer, e souber se póde desenganar.

O Sr. Soares Caldeira tem neste Congresso todo o peso, que se póde dar á opinião dum homem; mas este peso não é tal que possa influir para a exclusão do peso, e consideração, que merecem tambem as opiniões de dous homem. Estamos aqui tres Deputados conhecedores destas localidades, um delles, (o Sr. Soares Caldeira) pugna pela annexação de Alvega ao concelho do Gavião; e dous, (o Sr. Raivoso e eu) entendemos o contrario. Deixo isto á consideração do Congresso, e elle decidirá. Disse um Sr. Deputado por Lisboa que lhe tinha feito muito peso o ter visto que um mesmo homem assignára duas diversas representações a este respeito, com a pequena differença de ser a pena, com que escrevera, grossa ou fina. Eu não entrarei no detalhe do aparo da pena, ou grossura da tinta, e peso da mão; mas do que o Sr. Deputado vai, que se segue, visto que o Sr. Deputado diz que elle assignou duas, uma primeiro para pertencerem ao Gavião, e a outra para ficarem para Abrantes?