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que mereçam uma representação separada, basta vêr-se que esses restos de elementos, esses poucos destrosos feudaes, é que estão superiores; e porque é isto, Sr. Presidente? Por que lá fóra, aonde se equilibram, aonde se confundem todas as opiniões, aonde se temperam e se conglutinam.... todas as preponderancias, esses elementos tem pouca preponderancia; porque se tivessem muita, nós não estavamos aqui: desenganem-se que, se a tivessem, já nós teriamos ido daqui para uma forca; as tentativas tem sido grandes, tem-se pôsto em prática todos os agentes que podiam leva-la ao fim. Então se nós em Portugal não temos elementos privilegiados, que façam em sufixar os respeitos publicos, e que magnetisem todos os elementos do movimento, como batemos nós dar-lhe uma representação separada? Isto seria irmos constituir a nação de uma maneira violenta,, porquanto nada mais violento do que querer por uma lei, por uma simples palavra dar preponderancia a uma cousa que a não tem: isto é impossivel, a não ser pela força e pela violencia; mas diz-se, Sr. Presidente, sempre é preciso uma segunda Camara, ainda que não seja privilegiada, está feito do mal o menor; mas vejamos agora qual é a necessidade publica, que exige que nós vamos lançaresse rochedo no meio da sociedade. E tudo quanto se tem dito em favor de uma segunda Camara, Sr. Presidente, á excepção do que se allegou a favor da segunda Camara privilegiada, reduz-se, no meu entender, unicamente á necessidade, da meditação, e reflexão nas decisões legislativas; mas não poderemos nós, Sr. Presidente, conseguir essa madureza e reflexão, sem crearmos uma segunda Camara, que, como já disse, ha de fazer nascer entre os portuguezes novas entidades, novos desejos, um novo partido, que depois se ha de debater com o resto da nação, e que lhe ha de custar muito cangue, ou para o derrubar a elle, ou para que a derrube ella?... Para que pois havemos de plantar, essa arvore que um dia ha da produzir fructos venenosos?

Eu já me servi da analogia entre a madureza das deliberações do homem, e a de um corpo legislativo.... Se nós não acharmos a reflexão dentro do mesmo Congresso que pensou; ou não a havemos achar fóra delle, ou se a acharmos, havemos de ter um tutor desse mesmo Congresso, que represente a nação portugueza. Esse outro corpo co-legislador, ou ha de concorrer na formação das leis com voto consultivo, ou deliberativo: se elle concorrer, com veto consultivo, não vem a ser senão um conselheiro d'estado da primeira Camara; se tiver voto deliberativo, não póde de maneira nenhuma, no caso de ser opposto ao da primeira, deixar de ser um tutor della; e dar um curador a uma nação, é compeli-la a ser escrava, ou degradar a sua dignidade, e reduzir a representação nacional á qualidade de um triste pupilo, sujeito aos conselhos ou interesses da segunda Camara. Sr. Presidente, tem-se argumentado aqui nesta casa contra a existencia de uma só Camara sobre um ponto de vista em quanto a mim errado, porque se tem entendido que a primeira Camara, que representa o povo, representa só uma parte da nação, isto é, a democracia. Tem-se entendido este vocabulo povo na excepção que se lhe dava ha 1200 annos; olhe-se para o que representava este vocabulo; entendia-se que por elle se designava terceira classe, isso a que só chamava terceira classe de sociedade; mas em governos constitucionaes pode-se por ventura entender por esse vocabulo semelhante idéa? Sr. Presidente, eu entendo que essa terceira classe é hoje propriamente dita a classe media, porque essa é que tem hoje em Portugal influencia sobre as outras classes; recorra-se aos factos; recorra-se ao que se está passando diante de nós, e então se verá que a classe media, em si observe junto á uma todas as influencias das outras duas classes. Como podemos nós dizer que este Congresso representa uma classe separada da nobreza, do clero, e dos grandes literatos &c. &c. se esses nobres, esses grandes, e esses literatos foram alli votar, influiram com a sua opinião, preponderando sobra as classes menos elevadas de sociedade, em ultimo resultado produzia a urna, o maximo das influencias nacionaes? Ora, Sr. Presidente, como se poderá persuadir alguem que a reflexão não se ha de encontrar em um Congresso, formado com estes elementos, e se ha de ir encontrar na cabeça de certos homens, que nasceram de certas familias, ou que tem certos rendimentos &o. &o.?. Porque não havemos nós temer que os interesses privados e mesmo oppostos, e o medo de perder, o que já tem obtido do Governo, os domine? Quem nos diz que em logar de termos uma Camara, que venha a regular o movimento social ella venha, reprimir essa movimento, ou desmorona-lo em proveito de sua clientella? Muita se exaggerão os temores de que em Portugal se repitam, as scenas da resolução franceza, senão houver segunda Camara; porque se julga que o povo é uma féra. Mas que pedia o povo quando se revolucionou na França? Pedia a cousa mais simples; elle queria a continuação dos tres estados, mas que o estado do povo tivesse dois votos: negaram-lho; comprimiram-no; ella rebentou como a polvora, e arrazou os outros estados. Queremos nós fazer o mesmo? Não. Então porque não havemos trabalhar, quanto seja possivel, se não para mais, ao menos, ajudar o movimento social, para que a nação, se redusa a uma só classe, ou a uma gradação de notabilidades tão inasoffriveis, que não possa estremar se uma classe entre ella? Diz-se que isto é impossival; tem se difficultado, Sr. Presidente, porque se lhe tem posto grandes embaraços, mas a prova de que é possivel, é que todos os dias se fazem conquistas contra esses mesmos obstaculos, e um dia ha de vir, que havemos de ver isso, e não obstante cada um ha de possuir a sua sciencia; ha de possuir os elementos da sua industria, e da sua propriedade; mas cada um será tido no seu justo valor; não correrá moeda falsa era materia de notabilidades. Disse um Sr. Deputado, que a representação entregue a mais de um corpo legislador era conforme aos nossos usos e costumes nacionaes: eu convenho com o Sr. Deputado, que isso é conforme com os nossos usos e costumes nacionaes, e é por isso que sustento uma só Camara, porque ella: representa as classes todas, e muito mais conforme aos interesses publicos, do que o eram pelos tres estados. Estou perfeitamente no espirito de nossos, usos antigos; mas quero evitar os seus abusos.

Eu, quando já fallei na discussão da Constituição em geral disse que na minha opinião a divisão do poder legislativo em tres ramos, não é, senão uma representação muito semelhante á dos tres estados; não é outra cousa mais; eu disse que nos tres estados o povo, ou as municipalidades, a fallar a verdade, não era o povo, e isto faz muita differença; o povo era nada nesse tempo; tinha uma representação, a classe do clero outra, a classe da nobreza outra; mas a do povo era sempre vencida; porque os votos não eram contados por individuos, mas sim por classes: daqui se seguia, Sr. Presidente, que o povo não tinha voto nenhum, ainda mesmo essas municipalidades, que lá mandavam seus representantes, e a quem pagavam; e isso era mais um entrave contra a representação municipal; não tinha voto nenhum, porque a classe do clero, e a da nobreza tinham iguaes interesses, uniam-se, e suffocavam o voto municipal; ora se formos dividir o exercicio do poder legislativo em tres ramos, um da representantes da nação, outro dos representantes de certas classes, a o terceiro do Rei, o que ha da acontecer, Sr. Presidente? Justamente o que acontecia nesse tempo: com a unica differença (eu o digo em abono de verdade, e será uma prova de que eu questiono de boa fé, apesar de ser contra o que estou a expôr) ha de haver uma differença para melhor, a favor das sociedades de hoje; mas não é devido a essa fórma de governo representativo, mas devida a outra cousa, que não appareceu nesse tempo, que é a liberdade de imprensa; terem a liberdade de imprensa, e temos