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legislatura; e nada se faz, nada se organisa; desacredita-se o systema, o povo desespera-se, e lança-se no despotismo, como fez já. Srs., vós chamaes as Camaras unitarias vaporosas, e os nossos povos tem as achado sempre lentas, e é esse o inconveniente, que elles na fórma representativa acham. Ora agora dar-lhe, de mais a mais, uma segunda Camara estacionante: Que leis esperais? Que bens ao povo? Lembrai-vos que a segunda Camara de 1827 não fez senão a lei do papel sellado, e a do cura de Canissos, e que isso ficou para sempre, a respeito das segundas Camaras, no povo adagio nacional. A experiencia pois do gosto do nosso povo a respeito de segundas Camaras é esta: os inglezes que recolham a sua experiencia, nós recolheremos a nossa; se o seu povo acha a legislação vaporosa, o nosso acha-a estacionaria. Eis-aqui a verdadeira experiencia, que cumpre consultar.

Equilibrio. Este pensamento é um sofisma completo, o equilibrio está já no systema; se o não estivesse a segunda camara equilibrava? O Throno é essencialmente mais forte nas monarchias, e não precisa uma camara auxiliar.

Srs., as armas do throno são o veto, e a dissolução; as do povo a reeleição, e reproposição da lei; estes elementos estão naturalmente em equilibrio, não precisam pois ser equilibrados: demais para que essa segunda camara fosse equilibrante, era pois preciso que tivesse direito de fazer face ás armas do throno, e ás do povo igualmente; ora ella não tem direito contra o veto, e dissolução, e tem o de anniquilar a reproposição, e o effeito da reeleição, logo ella não é um equilibrante, mas um desiquilibrante essencial; em fim quando mesmo tivesse direito de oppôr-se ao veto, o veto tem logar depois della votar, e então é absurdo que os seus poderes contra o throno possam servir para nada. Logo ella não vem a ser senão um parapeito para o throno, um peso ao povo, uma barreira á lei. Na theoria pois de forças ella é um desiquilibrante mesmo em abstracto; em concreto, ou na pratica, quanto será, não se póde calcular. Vejam que será pois essa segunda camara no tacto? Se é licito, Srs., sem offender homens presentes, rasgar o véo dos homens na sua generalidade, e de uma excepção d'homens não fazer uma these da especie, filosofo da humanidade eu resgarei a venda do meu seculo a todos os representantes da Patria; um diluvio d'immortalidade é a geração presente, o espirito de Pátria morreu, cada homem não leva ao forum, á cadeira, á tribuna senão o ego, mei, mihi, o espirito da sua classe: e que tenho eu de esperar hoje levantando uma classe nova ao estado? Serão estes resultados; e se os funestos interesses levantarem uma potencia nova no meio da republica, que ámanhã será preciso destruir; em fim exigir mais um estado no estado? Morta estava a velha aristocracia: para que é levantar da lama dourada das ruas, e do pó tartufo das cadeiras, e das secretarias uma nuvem impertinentemente aristocrata, que venha enxovalhar, e empecer o estado? Que levarão elles á tribuna? O espirito que tem: os ricos os seus cambios, os valentes as suas fitas, os funccionarios as suas irresponsabilidades; isto quando cumpre fazer as reformas da corrupção agiota, militar, e funccionaria!!! E' pois este o momento de produzir uma classe pertenciosa, e dependente da legislatura, e em perpetuidade? E o que sahirá, Srs., dessa camara? Para mim um abysmo; conheço os homens do meu tempo; sob o meu do cofre das graças essa camara será uma pura camarilha legislativas, uma corrupção aberta á primeira camara, um movimento d'esperança com o throno sistematizado: impunes e inamoviveis os Senadores, tem nada depender do povo, e com uma magistratura terrivel sobre os ministros, e pelos ministros tambem nomeados; uma camaradagem solemne, um do ut des, facio ut facias se estabelecerá; e que resultará? Impunidade n'uns arbitrio nos outros, e irresponsabilidade em todos; e por fim uma illusão será a reforma, um ludibrio a Patria, e um bello sonho a liberdade! Eis-aqui o equilibrio, que eu espero; Deos arrede este argouro de minha Patria!

Perfeição de leis, não creio: duas camaras tem as mesmas luzes, e de mais o mal da rivalidade; e por tanto pouca prefeitibilidade posso esperar, e o demonstro. Essa segunda camara ha de ser por força uma destas cousas a respeito da primeira; ou contradictoria, ou negativa, ou imparcial; se contradictoria, isto é, se se oppõe ás leis boas, e adopta as más, então perdemos tudo; se negativa, (isto é) oppondo-se ás más, e boas, então perdemos muito; se imparcial, isto é, se se oppõe ás más, e approva as boas, pouco ganharemos, porque as boas serão muitas, e as más poucas. Logo temos tres hypotheses a perder muito, e uma só de ganhar pouco: ora como isto de boas, e mas leis é relativo, e o bem geral é quasi sempre o mal parcial, é provável que todas as leis boas para o povo sejam más para essas classes. A opposição systematica da camara geral com a particular é pois em todo o caso a hypothese mais provavel, e a perda é certa no tal methodo de prefectibilidade. A probabilidade do antagonismo é immensa, isso é o que se está vendo em Inglaterra: ella está ha 400 annos a fazer leis parlamentarmente, e as suas municipalidades ainda são escravas, a reforma regateou-se vigorosamente tres seculos, os feudos ainda estão nos seus castellos levantados. Agora tomara eu que me provassem se essas leis feitas nos parlamentos gémeos de Inglaterra são mais perfeitas do que as que tem sabido da constituinte, da de 1822, isto é, dai camaras unicas? A razão com tudo da perfeição de leis é a unica especiosa; mas é tão precaria, que não vai a pena dos perigos, mais que possiveis, que na segunda camara ha.

Argumentos de sentimentalismo. As camaras unicas exorbitam, e ahi vem a longa procissão dos argumentos lúgubres, e ahi vem não sei por quantas vezes a esta assembléa a historia da conotação, e do longo Parlamento! Mas que tem, Srs., as primeiras camaras com camaras de revolução? Pois que ha aqui que se pareça com a convenção ? Nada; os crimes desses tempos não são da camara por ser unica, são de ser revolucionaria: esses crimes são da convenção, do directorio, dos clubs; em fim de todos os corpos da revolução; isso foi uma anomalia no mundo; pois isso era camara? Isso não tem nome, isso era a resolução inteira assentada, parlamento comités, municipalidade de Paris. Que direi eu? Um povo todo em deliberação, em desesperação, em delirio. Cada corpo era uma gota nesse Oceano, que recebia impulso, não o dava: tem pois primeiras camaras com tudo isso: que tem o estado normal de um paiz em constituição com o de um povo em desesperação constituido? Mas para que é todo este scenario? Longe, Srs., tudo isso!.. Os tempos do crime passaram para sempre, e para que é vir recorda-los em Portugal..... quando por nossos costumes, nossas constituições, e nossas opiniões os Reis são inviolaveis, e elles o foram sempre aos Portuguezes? Ah! não temais pelos thronos na ordem constitucional; quantos Parlamentos ha não podem mais proceda-los na Europa: vós visteis o Julho de França; vós vêdes os costumes do dia: que vem pois fazer as aves da morte aos jardins da Patria? Para que trazer os agouros da noite, da anarchia á aurora dos dias da liberdade?.... Não, Srs., não é boa fé (eu protesto) trazer crimes impios ao meio de uma ordem constitucional, que os veda, e onde não desejam recordar-se. Vêda-o, vêda-o até a ordem do decoro; não, não é licito ensanguentar a scena, (dizem os tragicos) nec pueros coram populo Medea trucidel!! E o que não é decente no Palco, será decoro no Parlamento? (Applausos.)

Para que vem pois aqui sempre o (parltment Street), e praça das vistorias? Mas se me trazem aqui o testamento de Cesar para commover as turbas, eu posso aqui trazer-vos, Srs., as vestes de Lucrecia violada! Ouvi, Srs., muito fez o longo parlamente; mas que fez o governo seu tyranno? Elle rasgou a magna carta, taxou os povos, abo-