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chamam atrasado, e estupido, reelegeu sempre aquelles dos portuguezes, que neste recinto pugnaram pelos interesses publicos, pelas economias; fallo da antiga opposição: e não vemos tambem que o povo honrou com sua confiança aquelles dos nobres pares antigos, que pugnavam na extincta camara dos pares pelos mesmos princípios? Não são elles hoje Deputados? Sr. Presidente, não quero tomar mais tempo ao Congresso, voto para que a camara senatoria seja de eleição pura do povo; quero tirar a possibilidade ao poder de arranjar uma camara como a dos antigos pares (salvas as honrosas excepções), que sistematicamente votavam pelas decantadas reformas, que os homens viajantes da Europa civilisada nos trouxeram, e que nos levaram á desgraça, em que estamos; desses homens, que suplicaram os dinheiros conseguidos para a extincção do papel moeda em pagamentos de pomposos ordenados aos seus confrades, e que devoraram as preciosidades dos convenios; de uma camara, que já em 1826 se oppoz a medidas de vital interesse approvadas em camara dos Srs. Deputados, (que tendiam a anniquilar a facção liberticida commandada em Tras os Montes pelo Marquez de Chaves) como era a organisação das guardas nacionaes, e batalhão academico: quero-a temporaria, por quanto, ensinando-nos a triste experiencia que os homens mudam todos os dias de caracter, e á maneira que os seus interesses particulares os chamam ao caminho da infamia, convém que o povo es exclua da representação nacional, quando elles se constituírem em tal estado, e chame outros, que zelem melhor o seu bem. Não vimos nós, Sr. Presidente, no seio da representação nacional uma notabilidade protestar fidelidade, constituição ou morte, e fugir nessa mesma noite para Villa Franca?!! Tenho concluído.

O Sr. João Victorino: - Sr. Presidente, eu votei por duas Camaras, e dei os motivos, que tive de votar assim; votarei agora por uma segunda Camara sendo electiva, e agora tenho a discutir se deverá ser vitalícia, ou temporaria: tenho razões para seguir que deve ser temporaria: está formada a minha opinião: hei de votar por uma Camara temporaria (Apoiado); mas voto só por um motivo, e nisto para que os Srs. Tachigraphos sejam bem explícitos nesta nota. Nenhuma suggestão, nenhuma força reconheço, que me possa determinar externos os meus sentimentos: voto só minha, unica persuasão. Ignoro o que seja medo, quando estou sentado na minha cadeira: longe de mim votar por ameaças, são para mim perfeitamente indifferentes. (Apoiado, apoiado). Sou fraco, não sou homem d'armas; posso deixar nesta cadeira a minha cabeça; por mim nenhuma resistencia opporei, mas sou mandado por muitos milhares de cidadãos, que me vingarão. (Apoiado, apoiado). Voto como disse; e unicamente porque estou persuadido que aquella doutrina é a mais util ao meu paiz. (Apoiado.) Voto por ella pelas razões seguintes. (Aqui fez uma pausa, e depois disse) Sr. Presidente, como o bem da minha Patria é o meu unico norte, julgo que lhe póde ser mais util o poupar-lhe alguns quartos de hora, que consumiria meu desordenado discurso: cedo da palavra.

O Sr. Fernandes Thomáz: - Sr. Presidente, eu quando pela primeira vez tive a honra de faltar nesta questão manifestei qual era a minha opinião, e produzi os argumentos, que me pareceram fonda-la; agora, posto que eu confesso que ainda não vi nem levemente destruídos esses argumentos, e os outros produzidos pelos meus illustres collegas da minha opinião, por aquelles dos Srs. Deputados, que defendem o parecer da maioria da Commissão, nem por isso os repetirei, Sr. Presidente, mas unicamente me limitarei a mostrar a insufficiencia, e nenhum peso das razões, que tem sido allegadas por esses Senhores, que defendem o parecer da maioria da Constituição.

Vamos ao primeiro, e mais forte argumento "Se a segunda camara não for de nomeação regia, e vitalícia não será estavel, não será duradouro o systema constitucional; por conveniencia e utilidade publica é preciso pois que ella assim seja constituída." Eis-aqui a primeira asserção, que ainda se não provou. Appello para todos os Srs. Deputados se já ouviram a demonstração della.....Outro tanto podemos nós dizer da camara electiva, e temporaria, e eis-ahi asserção por asserção, e igual direito de argumentação, mas a questão indecisa! Eu declaro que, se acaso vi-se provada a primeira dellas, eu me retractaria de tudo quanto tenho avançado, e votaria pela camara vitalícia.

Eu bem claro disse, quando se tractou do projecto de constituição em geral, que eu queria um systema estavel, e de dura: que queria menos liberdade, mas segura, mas praticavel, mas estavel, e rejeitava mais liberdade menos segura, liberdade só theocratica, e inexequível. Se tal é o caso presente, eu desdigo-me; mas peço aos Srs. Deputados de contrario sentir que me provem, que me convençam. Entremos porém na analise, e conheceremos que o mais estavel é uma camara temporaria, e electiva. E na verdade, Sr. Presidente, qual dará maiores garantias de estabilidade, uma camara que tem raízes na nação, que se identifica com os interesses geraes, ou uma camara de camarilha, e sujeita ao capricho do Monarcha, e ao patronato de um Ministro? Qual será, mais estavel, aquella que abre a porta a todos os cidadãos nas circumstancias de entrarem nella, ou aquella que cheia dos dilectos e encolhidos do poder fecha a mesma porta a todas as nobres ambições de tão altas funcções? Qual será a que reunirá maior numero de interesses, e que só funda num principio da exclusão, ou aquella que abre a uma a todos os interesses? Não será esta a mais estavel? Não tem sempre maior numero de inimigos um systema exclusivo? Que se me responda. Demais. Sr. Presidente, quer-se dar o caracter de estavel ao que termina com a vida? Estabilidade e permanencia poderão jamais ligar-se á passageira existencia humana?! Numa camara hereditaria entendo eu que ha essa permanencia, porque ha o interesse não de uma vida só, mas de uma geração inteira; mas numa camara vitalicia!... Mas vamos aos mais argumentos. "Se a segunda camara não for vitalícia, e de nomeação real, ella não representará interesses diversos, será apenas uma secção de primeira, e então inutil."

Sr. Presidente, ou esses interesses diversos existem, ou não; se existem, elles hão de ser igualmente representados, quer seja o Rei que escolha, quer o povo, porque ambos os vão buscar á cothegoria, que os encerra; ou é a grande propriedade, a madureza dos annos, a pratica dos negocios, que convém representar; e então tanto o Rei como o povo ahi ha de ir buscar os Senadores, e é diversa da primeira a composição da segunda; e nada disto existe, e nada se deve representar, ou a simples nomeação real cria interesses que não existiam ainda, e a representação então é fictícia, inconveniente, e absurda. (Apoiado.) Sr. Presidente, eu quero duas camaras, porque entendo que na primeira, onde entra a especialidade de todas as classes sociaes, onde entram idades mais novas, e cheias de fogo, onde se assentam os menos experientes dos negocios, se representa o movimento, e o progresso. Na segunda camara, onde mora a madureza dos annos, a pratica dos negocios, a amisade á grande propriedade, e por isso mais ligação ao paiz, representa-se o elemento da conservação. Só destas duas instancias oppostas, mas não inteiramente contrarias, é que sabe como resultante aquella conveniente e pausada marcha, que convém á sociedade. Só essa marcha vagarosa é que é profícua, porque as sociedades humanas caminham a par da natureza " sem dar saltos." Todo o progresso, que muito se sente, é intempestivo, é, ipso facto, revolucionario. O verdadeiro progresso é apenas sensível. Que o diga a emancipaçaão dos catholicos, que o diga a reforma parlamentar na Inglaterra. Se 50 annos de opposição não achassem na camara dos Lords,