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verdadeiro defensor, porque as outras muralhas, que se pertendem levantar sem esta base, não sustentam, o impeto, se elle chega; e para não irmos muito longe pergunte-se a Carlos X.. e aos seus ministros!...

Agora quanto aos interesses dos Reis, pelo que fica dito, já se vê que é falsa a idéa de os suppor diversos do interesse dos povos; se o Rei interessa na segurança, na paz da sua nação, no seu engrandecimento, porque dahi lhe resulta gloria, na riqueza geral, porque delia facilmente lhe provirão as rendas de que precisa, no contentamento de todos, porque dahi lhe virão louvores, e a satisfação que um tal aspecto infunde; tudo isto precisamente é o interesse de cada individuo da sociedade; e então estejam os Srs. Deputados certo!! que a segunda Camara, que pugnar pelos verdadeiros interesses do povo, tambem advoga os verdadeiros intesses do Throno; e que não é preciso faze-la da escolha privativa da Coroa, nem vitalicia, porque nisso é que póde entrar a illusão, a affeição especial do Throno, e muitas vezes, indo a Camara levada pôr estes sentimentos a querer dar preferencia a exigencias privativas da Coroa, iria, tem o pensar, minando o mais seguro baluarte, que póde e deve defende-la, que é o amor, e affeição dos povos! Um nobre Deputado que aqui nos citou um respeitavel Prelado da Igreja Gallicana, o illustre Fonelon, e as suas idéas na formação da republica de Salento, que leia nelle, que lá ha de achar tambem estas saudáveis maximas, que elle quer inspirar aos Reis; e queira a fortuna que todos as aprendam....

Um segundo argumento tenho eu visto procurar na necessidade de representar a alta propriedade, os talentos, e as summidades sociaes, concluindo-se daqui, não sei como, que para isso é necessario que a segunda Camara, onde taes representações se devem verificar, seja nomeada pelo Rei, e vitalicia! Para se conhecer toda a improcedencia desta argumentação, e mesmo os falsos suppo-los, que nella se apresentam, é mister considerar o seguinte.- Na sociedade são tantos os interesses, quantos os individuos, porque cada um tem o seu proprio; ou pelo menus são tantos, quantas as ciasses, e profissões distinctas, porque ordinariamente o que faz conta a uma desagrada á outra; desta forte, se na organisação social se quizessem representar especialmente todos os interesses em corpos distinctos, seria preciso organisar tantos, quantos os individuos, ou pelo menos tantos, quantas as diversas classes; mas como isto seria absurdo por inexequivel, é evidente que a theoria da representação dos interesses não póde ser individual, mas geral, isto é tomar os interesses do lodo da sociedade, em globo, e combinados.

Mas insta-se, dizendo: a representação que na segunda Camara se pertende é só das classes da alta propriedade dos talentos, e da nobresa, porque estas são essencialmente conservadoras, por não terem mais para onde subir; e são indispensáveis para obstar ao movimento progressivo das outras classes, que tendem sempre a nivelar-se com as superiores. Assim será; mas eu creio que ninguem duvidará de que essas mesmas classes podem entrar bellamente na segunda Camara electiva, e temporaria, assim como entram na primeira Camara, porque a uma a todas chama; e eu me honro muito de ver assentados neste Congresso tantos nobres indivíduos, que o comprovam; e então para que fazer tanta hulha com a necessidade dessa representação, se ninguém jamais tentou excluir nenhuma dessas designadas classes? Venham, e de certo virão sempre pelo chamamento da uma, porque a sua natural influencia as trará infallivelmente; mas cesse de uma vez semelhante falsa supposição de que alguém as quer excluir. Agora que ellas venham formar um corpo separado, e distincto, e só representante dos seus exclusivos interesses, isso é que me parece um estranho contra-senso, pouco digno das luzes deste século! Allega-se que essas classes são naturalmente conservadoras, e que resistirão ao movimento accelerado das classes inferiores; mas quem, Sr. Presidente, não conhece e que são os homens? Quem ignora que na mais abatida choupana mora às vezes o coração mais virtuoso, e comedido, quando pelo contrario, o que se assenta debaixo de dourados tectos, é o mais emprendedor, e ambicioso? Quem ignora que a probidade muitas vezes reside longe do talento, da riqueza, e da nobresa? Quem não sabe que estas decantadas classes são naturalmente orgulhosas, e se não aspiram a subir mais, por não ter para onde, tendem naturalmente a dominar os inferiores, e a faze-los cegos instrumentos, ou admiradores da sua vaidosa superioridade? Quantos são os que chegando aos ultimos grãos dos empregos, ou a conseguir grande reputação, ou fortuna, não exigem dos outros uma espécie de reverencia supersticiosa, que se não revestem de uma intolerância exclusiva, ou pelo menos de certo despreso para comtudo que os não lisongeia? Consulte cada um o que sente em si nas menores occorrencias, e diga se isto não é verdade? E então estes defeitos inherentes á condicção humana ainda se hão-de reforçar? Ainda se ha de organisar uma segunda Camara, onde todas estas classes se reunam com absoluta independencia de todos os outros, se reforcem, e se tornem dominantes? Será prudente que a organisação social se dirija de modo, que se augmente a força a quem sempre foi, é, e será mais forte pela nuturesa das cousas? Ou será plausivel que às classes, que já discorrem livres por toda a parte, que desconcertam todas as pertenções do povo, ainda se vá entregar á primeira fortaleza, e entrinxeira-las nella para sempre, para que do alto de seus muros possam escarnecer, e apupar as classes, que ficam amontoadas no campo?!.. Finalmente não será uma iniquidade revoltante pertender uma representação especial para os poderosos, e deixar todas as outras classes como embrulhadas num feixe?
A nobreza, os talentos, a mesma fortuna sejam respeitados, debaixo da idéa de que foram dignamente adquiridos; pela minha parte olho-os sempre dom toda a deferência e acatamento, e julgo que sempre assim devem ser olhados em quanto conspiram para o fim social, para o maior bem do maior numero; mas desde o momento em que os individuos d'essas classes que quizessem andar aos hombros dos outros homens, quizessem folgar á custa do suor dos que trabalham, quizessem finalmente ser venerados como entes de outra, especie privilegiada; desde esse momento de claro que entendo se lhes deveria fazer toda a resistencia,
tracta-los como inimigos perigosissimos, e procurar todos os meios de os enfraquecer. Chamemos a nobreza, o talento, e a fortuna a dirigir os destinos do povo: o mesmo povo interessa nisto; mas nas condições do chamamento entre 1.º a liberdade de rejeitar todos aquelles, que só costumam usar daquellas circumstancias para satisfazer as sias vontades ou dos seus apaniguados, e aqui temos a eleição; 2.º a condição de remediar em períodos mais breves qualquer engano da escolha, e aqui temos a eleição temporária (Apoiado). N'uma palavra, colloquemos as superioridades sociaes á frente dos negócios, façamos mesmo alguma distincção para a segunda camara, de modo que seja gratuita, e revestida de certo prestigio de maior gravidade, mas sempre a escolha seja nacional, e dependente da nação , porque só assim esse segundo corpo gozará da plena confiança da nação, e poderá entender-se com ella, e acalma-la, se algum dia vier essa onda que se receia: só assim elle poderá servir de firme amparo ao Throno, se de tanto elle precisar, porque de outra forma, olhado como creatura do Throno, ou como immutavel, provocaria dobradas reacções, e 50 ou 100 homens de certo não susteriam esse imaginário impeto nacional, a não ser por termos, e bons modos! (Apoiado, apoiado.)

Nesta discussão a historia, e o exemplo das nações tem sido outro arsenal, onde se tem procurado munições de todo o genero; mas vejamos o que nisto ha, que possa convir-nos, porque tenho notado que cada um pinta as cousas

SESS. EXTRAORD. DE 1837 VOL. III. 48