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é a causa dos illustres defensores da democracia caminhando rapidamente á conquista de todos os governos; tal é ainda a causa dos patronos da classe media absorvente de todas as outras classes, e de todas os poderes; desse meio sem extremos, desse absorvente menor do que o absorvido!

Por mais que se tenham afadigado os campeões destas duas especies de soberania para a constituirem numa forma de Governo, que mereça o nome de monarchico, representativo, baldados tem sido os seus esforços; porque toda a sua habilidade não póde fazer que uma cousa seja, e não seja a mesma n'um só tempo.

A monarchia constitucional, e representativa consiste essencialmente n'um governo composto d'um Rei, a quem exclusivamente compete o poder executivo, e que concorre por sua indispensavel sancção, e direito de proposta, para a factura das leis com duas Camaras co-legislativas, uma patriciana e permanente, e outra de origem popular, e electiva. Querer esta especie de organisação politica, e rejeitar os seus elementos, é querer, e não querer ao mesmo tempo; é sahir da posição logica, em que os oradores, que assim praticam, se ostentam tão seguros; é representar por si mesmos essa sonhada phantasmagoria, cuja representação elles tem attribuido aos seus adversarios. Estes por mais attentos que observem as duas Camaras, (ou antes as duas secções d'uma só Camará) que lhes querem dar em boa composição, os juizes de paz entre duas theorias essencialmente repugnantes, não pódem ver neste tractado senão uma Camara optica de Senadores, e uma Camara dupla de Deputados; quero dizer: a monarchia real, e representativa em phantasmagoria, e a democracia real em corpo e alma!

Neste caso diria eu = Non sunt multiplicanda entitates obsque necessitate. Não haja tanto incommodo: se o nosso fim é sómente obter mais alguma pausa, e reflexão nas deliberações do corpo legislativo e dar garantias á propriedade, não apuremos mais a paciencia do povo portuguez, já cançado do motu continuo eleitoral com uma nova eleição: elejam-se sómente, e por um só methodo os Deputados do povo; e em chegando a S. Bento diga-se-lhes: eia, Srs., os mais moços, e mais pobres fiquem aqui nesta sala; e passem para aquella outra os mais velhos, e mais ricos. Mas outras são as indicações, que preenchem as duas Camaras; e por isso não posso approvar este methodo, álias mui elegante, e expedito. (Apoiado.)

Um distincto filosofo politico, historiador da revolução franceza, fallando do modo, por que foram tractadas na Assemblèa constituinte de França as questões, que occupam actualmente os constituintes portuguezes, diz: que os partidistas da Constituição ingleza Neeker, Munier, e Laly, não souberam ver, em que devia consistir a monarchia, e que, ainda mesmo que o soubessem, elles não teriam ousado dizer á Assembléa que a vontade nacional (depois de constituido o governo) não podia ser omnipotente, e que esta vontade devia impedir mais do que devia obrar.

Honra, Sr. Presidente, honra seja feita, não só á Assembléa portugueza, mas a todo o povo portuguez, que está mais civilisado para ouvir dizer em que consiste a monarchia constitucional. Os defensores da monarchia de Neeker, Munier, e Laly não carecem de coragem civica para a definir e sustentar nesta Assembléa, e perante os seus constituintes. (Apoiado, apoiado.)

O mesmo historiador diz tambem que a Constituição de Inglaterra era o modello, que se apresentava naturalmente a muitos espiritos, por ser uma especie de transacção entre os tres grandes interesses, que dividem os Estados modernos da Europa; a realeza, a aristocracia, e a democracia. Mas reflecte que esta transacção é um tractado de paz, que não póde estipular-se senão depois de exhanridas as forças dos combatentes. " Querer (accrescenta elle) operar a transaçção antes do combate, é querer fazer a paz antes da guerra. Esta verdade é triste; mas ella é incontestavel: a Constituição ingleza não era por tanto possivel em França senão depois da revolução. Deos não tem dado a justiça aos homens, senão depois dos combates!"

Combateu por esta lei do destino das paixões dos homens, combateu a França como a Inglatarra; soffreu aquella como esta havia já soffrido a democracia, e a usurpação. Longa, e ensanguentada foi a lucta: por toda aparte nos dous paizes. " Sunt lackrymaz rerum." Mas cançados já de luctarem os tres grandes elementos politicos, e escarmentados todos das suas desfeitas, e dos seus proprios triunfos, aprenderam a viver juntos, e amigos, e concluiram esse celebre tractado de paz, que tem por titulo = monarchia real, e representativa, ou Imperium bene constitutum regali optimo et populari compositum. Ora, Sr. Presidente, assim como a França, e Inglaterra tem guerreado, e pactuado; assim tem guerreado, e pactuado muitas outras nações da Europa: e onde quer que não está ainda assignado o tractado de paz nos seus devidos termos "Agnosco oeteris vestigia flamma." (Apoiado.) Cuidava eu, Sr. Presidente, que os tres grandes interesses das sociedades da Europa já tinham luctado assás entre nós os portuguezes; e que estes como os Gregos em Virgilio, depois da guerra de Troia, "jam fructi bello fatisque repulie: queriam pactuar sincera, e definitivamente, e que nós eramos os seus plenipotenciarios. Mas quando eu esperava ouvir de todos os lados desta sala.

"Jam satis terris nivis atque. dirac;
"Grandinis misit pater......"

"Façamos e paz naquelles termos, que a experiencia, abona como capazes de a tornar duradoira."

Ouço ainda algumas vozes, que, se fossem escutadas e attendidas pelos pacificadoras da patria, deixariam no tractado uma estipulação, que não póde ser acceita por doas das partes contrastantes, senão com reluctancia; e eu teria razão para receiar, e praza ao ceo que seja vão o meu receio! Nunca mortal algum dirigiu a Deus Optimo, e Máximo um voto mais sincero do que eu lhe dirijo nesta solemne occasião! Praza ao ceo que seja vão o meu receio! Mas repito que eu teria motivo para receiar que não fossem applicaveis ao nosso preterito sómente os maviosos versos do poeta moralista.

"Audiet pugnas, vitio parentus, Rara juventus."

Agora já poderá o meu illustre adversario da seita dos escrupulosos conhecer, a razão, que eu tinha no meu discurso antecedente, para me admirar de se pôr de novo em problema um principio, que segundo os publicistas, e historiadores politicos mais ubalisados, constitue actualmente um dogma de direito publico constitucional; e que não era um mero phantasma, que eu perseguia, depois da decisão deste Congresso que sanccionou as duas Camaras.

A democracia real ainda aqui me apparece com suas pertenções exaggeradas contra a purpura, e contra os arminhos; e, com o dogmatismo das suas máximas absolutas, argúe d'intolerancia mais que theologica uma opinião, que até ao presente se tem reputado por excellencia a opinião conciliadora !!!

Mas quaes são os fundamentos desta pertenção, a meu vêr, intempestiva e demasiada?

Se eu os dispo dos ornatos oratorios, com que os tem enfeitado os seus defensores; se rejeito as dissertações historicas, com que se tem forçado os factos das discordias civís, a servir exclusivamente esta má causa, e as phrases habilmente calculadas, para os tentar como um serviço, e como uma justiça devida ao povo uma exigencia, que eu respeito em detrimento dos verdadeiros interesses populares, não posso observar nos argumentos dos oradores desta opinião, mais do que o perpetuo commentario dos sermões politicos de Re-