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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

taina. Gabinete de bispo, governo de hyssope, crise de patriarcha!

Dizem os que saíram, que salvaram o dogma, a infallibilidade, o poder temporal e a liberdade, nomeando patriarcha o sr. bispo do Algarve. O imperador julgava servir a liberdade, quando extinguiu o patriarchado por este decreto que aqui tenho, em 4 de fevereiro de 1834, referendado por José da Silva Carvalho.

Cada um é pois reformista a seu modo, e todos são mais liberaes uns do que os outros.

Os que ficaram dizem que o ministro saído, e que aqui tem logar, não foi leal aos seus collegas; queriam outro patriarcha: o prelado de Goa. E eu disse que a crise talvez se podesse remover! O modo era difficil, mas era de certo unico, em tão seria e grave extremidade! Tudo se harmonisaria (se não ha outro motivo occulto na crise), se se podessem despachar dois patriarchas em logar de um, visto que a duas cabeças pertenciam duas mitras. Não póde porem harmonisar-se a crise com o silencio no systema parlamentar. Adiamento em janeiro, porque não havia crise; adiamento era fevereiro, sem dar conta da crise á camara, ficando o paiz na ignorancia dos motivos que deram logar a ella, bem como dos motivos por que se não tem resolvido até agora... não me parece bem...

O sr. Francisco de Albuquerque: — Não está presente o governo.

O Orador: — Mas está presente metade, a situação caída; está presente um dos ministros demittidos, e eu, sem querer obrigar ninguem a ser inconveniente, sinto que o partido que deixou o poder, ou d'elle foi expulso, julgue util que a obscuridade e as trevas fiquem pendendo sobre actos tão importantes da sua vida constitucional (apoiados).

Mas, sr. presidente, expostas estas considerações, tão lisonjeiramente apoiadas pelos meus amigos politicos, aceitas por todos os lados da camara, é dever para mim não abusar da palavra que v. ex.ª me concedeu, porque de certo se estão contando por segundos os momentos de vida d'esta assembléa politica.

Desmoronou-se o gabinete; mudou a politica; levantam-se uns, caem outros e, como estes phenomenos não se dão nas questões vitaes do reino, nós estamos hoje como estavamos hontem, esperando que se entre na vida regular do governo constitucional.

Não embaraçámos ninguem; não levantámos difficuldades a nenhum homem politico, nem a qualquer combinação que tenha por fim governar e dirigir no interesse geral os negocios que dependem da nossa approvação (apoiados).

E se sentimos que as divergencias internas da situação obriguem o governo existente a dispensar a discussão das graves medidas, que deviam ser-nos presentes, é unicamente porque nos parece que os individuos nada ganham, e que a causa do povo, a administração publica, a paz e os interesses do reino decididamente perdem, e que eram dignos de maior consideração (apoiados).

E peço licença para me sentar.

O sr. Eduardo Tavares: — Mando para a mesa o seguinte requerimento, ao qual v. ex.ª dará o destino conveniente (leu).

O sr. Julio Rainha: — Mando para a mesa o seguinte requerimento (leu).

Não vejo presente nenhum dos membros do gabinete; naturalmente s. ex.ªs estão dando a ultima demão nos projectos financeiros com que nos hão de salvar, ou preparando as metralhadoras com que hão de dispersar este grupo de revoltosos e inquietos que nada fizeram, e nada deixam fazer!! Seja o que for, a camara está no seu posto; e logo que nos despeçam, iremos occupar o nosso perante o paiz.

Mas como não posso chamar a attenção do nobre ministro da fazenda para este requerimento, apesar da ausencia de s. ex.ª, peço licença á camara para dizer duas palavras sobre o requerimento que mando para a mesa.

Desejava chamar a attenção do nobre ministro, ou antes que eu, por esta

lembrar-lhe a conveniencia summa de se proceder á alienação d'estes bens a que alludo no meu requerimento, porque toda a demora é em prejuizo da fazenda publica. Ainda ha pouco uma grande parte do extincto convento da Madre de Deus de Vinhó caiu, e a camara comprehende o prejuizo que isto póde causar á fazenda nacional.

Queria tambem lembrar ao sr. ministro que na alienação d'estes bens não deve comprehender-se a igreja, que já ha tempo está servindo de matriz, visto o estado de ruina em que está a igreja que servia de matriz, nem o adro ou largo que tem em frente.

Tambem desejava chamar a attenção do sr. ministro das obras publicas para o estado miseravel em que está parte da estrada que vae do Alva a Celorico; e se não se olhar para esta estrada é inutil todo o dinheiro que n'ella se gasta.

Algumas outras considerações desejava fazer, mas como não vejo presente nenhum dos srs. ministros, fico por aqui.

O sr. Francisco de Albuquerque: — Fazia tenção de pedir alguns esclarecimentos ao governo, dos quaes precisava para interesse do circulo e do paiz; mas, como não vejo presentes os srs. ministros, dispenso-me de fazer as considerações que tencionava apresentar, bem como em mandar para a mesa alguns requerimentos.

Uma voz: — Mande o requerimento.

O Orador: — Pois se temos o adiamento da camara, não sei mesmo se o decreto se acha já sobre a mesa, para que hei de estar a mandar para a mesa um requerimento, que tenho de repetir quando se tornar a abrir o parlamento?!

Não o mando. Mas permitta-me v. ex.ª que eu, por esta occasião, lamente o facto do adiamento.

Eu lamento este facto porque me parece que não tem rasão de ser (apoiados). Havia a questão financeira a resolver, que era aquella de que especialmente se precisava tratar (apoiados). Alem d'isso não acho que houvesse rasão para o governo abrir o parlamento ha quatro dias, e vir hoje fecha-lo.

O sr. Luiz de Campos: — Muito bem, apoiado.

O sr. Barros e Cunha: — E o adiamento de janeiro?

O Orador: — Eu não trato do adiamento de janeiro, não quero justifica-lo, nem quero mesmo declarar a minha opinião a esse respeito; no entanto sempre direi que não tinha comparação alguma com este (apoiados). A camara mostrou-se muito cansada, aqui estavam muito poucos srs. deputados, e se a camara se abrisse com seis dias de intervallo de sessão a sessão, estou convencido de que não vinha cá o numero preciso de srs. deputados para ella funccionar.

Repito porém que não trato d'esse adiamento. O que entendo é que o adiamento, que nos está imminente, é prejudicialissimo ao paiz, significa profundo desprezo pelo systema parlamentar, e parece mostrar que nós vivemos muito melhor sem o systema representativo do que com elle. O systema representativo ha muito que é sophismado da base ao cume. É por isso que as crenças são nenhumas.

Eu lamento tanto mais agora este adiamento, quanto é certo que o paiz esperava e precisava reformas (apoiados). Estava ancioso e quieto, disposto, pela sua parte, a que o livrassem das difficuldades em que se acha.

Era tambem n'esta occasião em que se necessitava das indicações do parlamento para o complemento ou formação do gabinete que nos mandam para fóra d'esta casa! Não comprehendo, talvez porque sou novo em politica.

Lamento que o meu illustre amigo e collega, o sr. Barros e Cunha, fosse hoje pedir explicações ao governo quando elle aqui não estava, tendo occasião de as pedir hontem ou nas sessões anteriores quando esteve presente (apoiados).

O sr. Barros e Cunha: — Eu não pedi explicações ao governo.

O Orador: — V. ex.ª mostrou desejo de que elle as desse