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nunca a verba para a Policia Preventiva do Governo Civil de Lisboa excedeu a 200$000 réis mensaes; e eu peço que se compare a Policia de então com a Policia de agora. E não se entenda de maneira alguma que eu alludo, nem levemente, de um modo desfavoravel, ao nobre Chefe que alli serve, cuja honra e probidade todos conhecem, mas é fóra de duvida que S. Ex.ª póde ser enganado.

A verba marcada no Orçamento para este artigo é de 10 contos de réis; tem-se dado para os Districtos peito de um conto e tanto, logo tem-se quasi até Janeiro absorvido a quantia que devia chegar infallivelmente até ao fim do anno economico ou financeiro. E então, Sr. Presidente, póde haver admiração de que se não pague aos Empregados Publicos? E então póde haver admiração de que os pagamentos em geral estejam tão atrasados? Não de certo. Por estes factos podémos julgar do resto da applicação; o êrro está visivelmente demonstrado, a falta do Ministerio de não applicar as quantias que lhe foram votadas da maneira que a Lei as estabeleceu, está conhecida.

E aquelle mesmo Retrato, se fallasse, Sr. Presidente, não faria uma accusação contra o Ministerio? Um meu Amigo hontem fallou deste negocio, e apresentou-o á Camara, censurando o Ministerio por não o ter mandado fazer pela Academia das Bellas Artes. (O Sr. Cunha Sotto-Maior: — Perdôe-me V. Ex.ª, não foi isso que eu disse.) O Orador: — Supponhamos que disse, isso é questão de nome; e accrescentou que aquelle Retrato tinha custado 100$ réis; não é exacto; eu posso informar mais exactamente a Camara da historia do Retrato. O Retrato custou 180$000 réis (O Sr. Presidente do Conselho: — É exacto) O Orador: — Foi aquillo porque se ajustou, mas a ordem que se passou na Secretaria do Reino é de 400$000 réis; agora peço a S. Ex.ª que me diga se é exacto; e como se explica isto? (O Sr. Presidente do Conselho: — Muito facilmente) O Orador: — Não sei; a explicação está talvez em que ao lado do Retrato havia segundo me informam dous outros, e estes dous outros não eram de certo pertencentes á mesma Augusta Familia a que aquelle pertence. São estas, Sr. Presidente, as informações que me deram, porque todos tem ouvidos, e todos tem olhos, quando se tracta de auxiliar a verdade. Mas eu desejarei que neste e nos mais assumptos, que pelo lado da Opposição aqui venho apresentar, os Srs. Ministros da sua parte lhes opponham materia triunfante. (O Sr. Presidente de Conselho: — Havemos de ter.) Não e do meu interesse apresentar accusações, mas é do meu dever promover emenda. (O Sr. Presidente do Conselho: — Tambem eu as promoverei) O Orador: — É o que devia ter feito ha muito.

E dir-se-ha ainda, Sr. Presidente, que é o despeito, ou a ambição que dirige a Opposição, ou que é o amor da verdade, ou que é o desejo de que o Ministerio marche pelo caminho que deve marchar, e como convem ao Paiz? Sr. Presidente, um sabio Economista dizia, que a incerteza do futuro é um dos peiores males; ao homem para quem não ha esperança do dia seguinte, a vida é um supplicio, e a faculdade da previsão é uma tortura. O Ministerio,

Sr. Presidente, depois de nos mortificar e ao Paiz com os seus actos da administração passada, quer-nos até tirar a esperança do futuro; nos actos que apresenta á Camara, quer-nos condemnar ao inferno de Dante, quer-nos deixar sem esperança.

Sr. Presidente, eu não vejo alli (Apontando para os Ministros) pessoas, vejo só principios de administração, e é aos principios de administração que eu constantemente tenho fallado, e igualmente aos actos governativos dessa mesma Administração; uma Administração qualquer que seguir os principios da justiça, da moderação, da economia e da verdade, que alli se sentar, sejam quem forem os Cavalheiros, hão de ter o meu apoio, em quanto eu tiver assento neste Parlamento: não regatearei esforços, hei de apoial-a com todas as minhas forças; mas quando em vez disto se seguir o caminho opposto, e não se der satisfação á opinião do Paiz, e não se der cumprimento ao pensamento do Parlamento, a minha guerra será franca como o meu coração, leal como o meu procedimento, claro como o meu dever, esse Ministerio hei de hostilisal-o por todos os meios constitucionaes, legitimos, e honestos.

Não corre nas minhas veas o sangue de Castros, nem dos Albuquerques, mas devo a existencia a um pai que symbolisa a honra e a probidade, e nesse ponto não cede nem a uns, nem a outros; transmittiu-ma por nascimento, e soube robustecel-a pela educação, é essa origem, são os serviços, que a educação me habilitou a fazer ao meu Paiz, que eu estimo mais do que os titulos vãos, e nem se intenda que elles me podem jámais fascinar; não, Sr. Presidente; hei de viver, e hei de morrer, e protesto-o na presença do Paiz, José Bernardo da Silva Cabral. Estimo mais o meu nome do que todos esses titulos, que a vangloria, ou o orgulho procuram com tanto empenho (Apoiados numerosos).

Se. Presidente, repito, eu desejo um Ministerio que tenha força, mas força com a Lei. Desejo que tenha economia, mas que a mostre pelos seus actos. Que tenha moderação, mas que não seja só em palavra; mas que seja justificada por seus actos. Que tenha tolerancia, mas que esta tolerancia não seja traduzida em perseguição de opiniões e de individuos (Apoiados). Se um Ministerio, este ou outro qualquer, reunisse essas qualidades, seria o meu Ministerio, seria aquelle a quem eu daria franco apoio: (Apoiados.) mas como estou persuadido, pelos actos que referi e analysei, que o Ministerio actual segue uma vereda differente (Apoiados); como a falla do Throno é dirigida inteiramente a justificar esta vereda a cuja sancção repugna o meu coração e dever, eu não posso deixar de votar contra a Resposta ao Discurso do Throno, porque intendo que sanctifica uma Politica, que é altamente nociva ao Paiz e ao Throno. (Voes: — Apoiados, muito bem, muito bem, excellentemente)

O Sr. Presidente: — A Ordem do Dia para ámanhã e a continuação da mesma. Está levantada a Sessão. — Eram 4 horas e meia da tarde.

O Redactor,

JOSÉ DE CASTRO FREIRE DE MACEDO.