O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

N.º 14

SESSÃO DE 20 DE JANEIRO DE 1857.

PRESIDENCIA DO Sr. FRANCISCO DE CARVALHO (Decano.)

Secretarios os srs.

Conde de Samodães (Francisco).

Manuel Firmino da Trindade Sardinha.

Chamada- presentes 75 srs. deputados.

Abertura—ao meio dia.

Acta-approvada.

O sr. Pereira da Cunha: — Sr. presidente, eu declarei na primeira sessão da junta, que se chegasse a ser proclamado deputado, proporia algumas alterações no regimento que se adoptou provisoriamente; como hontem ao fechar da sessão fui proclamado deputado, entendo que é chegada a occasião de o fazer; no entanto, vejo que é indispensavel que eu defina primeiro a minha posição n'esta casa; vou procurar defini-la e hei de faze-lo com toda a lealdade e desassombro, porque não costumo occultar o que sou, e porque tenho a maior confiança na benevolencia com que hei de ser escutado por esta junta, onde ha caracteres, tão nobres, tão illustrados, tão tolerantes, e que me têem dado taes provas de agasalho, que nunca poderei esquecer-me d'ellas, que nunca deixarei de as confessar, nunca, em nenhum tempo, em nenhumas circumstancias; (Vozes: — Muito bem.) quando porém, não m'as tivessem dado, porque não havia eu de proceder do mesmo modo? Respeitei sempre as opiniões dos outros, tenho direito a esperar que se me respeitem as minhas. (Apoiados.) Sei ser justo para com todos, não temo que se me faça a injustiça de me suppor dominado por uma paixão menos nobre. Não o estou; acredite a junta que o não estou. (Vozes: — Muito bem, muito bem.)

Sr. presidente, o partido politico a que pertenço, ca cujos esforços devo a honra de entrar n'esta casa, deliberando nos seus comicios ir á urna, por entender que da continuação da sua abstenção resultariam prejuizos para o bem publico, decidiu ao mesmo tempo, mas sem a menor sombra de acinte, que aquelles, em quem houvesse de recaír o seu suffragio, propozessem uma formula para o juramento prescripto pela carta constitucional, que, exprimindo o respeito pelas instituições, estivesse mais em harmonia com os poderes da nossa procuração, e podesse ser aceito sem a menor repugnancia pelos homens de todas as crenças. Com esta condição me offereceram a minha candidatura, com esta condição a aceitei, com esta condição fui votado por mais de dois mil eleitores no circulo n.° 2. E este compromisso foi Ião solemne, tão publico, que nem eu podia proceder de diverso modo, nem a junta e o paiz esperar de mim outra cousa. Se em vez de me achar em uma assembléa justa e tolerante, eu estivesse em uma assembléa intolerante e injusta, havia de fazer o mesmo, sem tergiversar um momento, sem recuar um só passo no caminho que me esta traçado. Isto não é fazer de Calão, nem armar á celebridade; eu não tenho pretenções a heroe nem quero fazer n'esta casa scenas dramaticas; isto é cumprir um dever sagrado que me foi imposto pela grande maioria dos eleitores do circulo n.° 2, e que, quando(elles m'o não impozessem, a minha consciencia me impunha. E já que é preciso fallar de mim, fallarei. Sr. presidente, eu não sou revolucionario, nunca o fui: pelo contrario, prezo-me de ser um cidadão pacifico, um cidadão obediente e respeitoso; mas entendo que nem o meu profundo respeito pela auctoridade constituida e pela augusta pessoa do chefe do estado, nem a minha obediencia ás instituições se oppõem a que eu continue no meu culto, culto intimo e inoffensivo a um principio em que tenho fé, e que julgo salutar. Como bom portuguez que sou, que me glorio de ser, desejo de todo o meu coração ser util ao meu paiz, zelar a sua independencia, manter a sua paz, promover o seu progresso moral e material e defender a sua liberdade; (Apoiados.) porque eu, sr. presidente, já aqui o disse e agora o torno a dizer alto e de bom som, diante de amigos e adversarios, e sem temer que ninguem m'o conteste, eu fui, sou e serei sempre um campeão ardente e strenuo do progresso e da liberdade. Quem combater lealmente por essas duas idéas, por esses dois principios puros, como eu os concebo, ha de achar-me sempre a seu lado. O absolutismo abomino-o, venha elle d'onde vier, quer se diga illustrado, quer não; abomino-o, porque quero aberta esta tribuna, (Apoiados.) porque quero franca outra tribuna, não menos augusta e proficua, a da imprensa (Muitos apoiados. — Vozes: — Muito bem, muito bem.) Desejo, repilo-o, ser util á minha patria, e servi-la como o permittam as minhas fôrças; mas para isso não preciso de renunciar ás minhas crenças, nem de sacrificar as minhas affeições. Isso não o faço, não o farei nunca.

Se eu imaginasse que aquella porta havia de servir-me de forca caudina, eu jámais a teria transposto. Esta cadeira, por mais que me honre de a occupar, sobretudo quando vejo aqui tantos caracteres nobres e illustrados, não a quero por tal preço. Hei de d'aqui saír como entrei, com a cabeça erguida e a consciencia tranquilla.

Sr. presidente, é preciso que nos entendamos; eu não proponho uma formula para o juramento, e não me recuso a aceitar a actual, nem para vir para aqui conspirar, porque não conspiro em parte alguma, nem para trazer para este logar questões politicas, porque, além d'isso não ser permittido, tanto eu como o meu partido só viemos aqui com um fim administrativo; nem para aggredir, a meu salvo, o governo constituido, porque já declarei que o respeitava, que lhe não fazia uma opposição acintosa, e agora acrescento, que o louvarei sempre que elle faça cousas louvaveis e uteis para o paiz, é sim, unicamente para não falsear os meus compromissos, e para não tomar em vão o santo nome

Vol. I—Janeiro —1857.

10