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SESSÃO N.º 18 DE 21 DE AGOSTO DE 1905 3

ABERTURA DA SESSÃO - Ás 3 horas da tarde

Acta - Approvada

EXPEDIENTE

Officio

Do Ministerio da Marinha remettendo 160 exemplares do relatório e propostas de lei apresentados pelo titular d'aquella pasta.

Á secretaria.

O Sr. Presidente: - Chamo a attenção da Camara.

Como alguns Srs. Deputados, e entre elles o Sr. João Franco, tiveram motivo bastante para crer que não havia sessão no dia 17 do corrente, em que foi commemorado na Camara o fallecimento dos Conselheiros Castro Mattoso e Emygdio Navarro, e como S. Exas. desejam usar da palavra nesse sentido, vou consultar a camara sobre se consente que se abra inscripção especial para esse fim.

Consultada a Camara, resolveu-se affirmativamente.

O Sr. Martins de Carvalho: - Sr. Presidente: V. Exa. acaba de communicar á camara o motivo por que os Deputados do partido regenerador-liberal não se associaram na ultima sessão á homenagem prestada á memoria tanto de Mattoso Côrte Real como de Emygdio Navarro.

Calculávamos que não havia sessão, e só por esse motivo não comparecemos aqui a prestar a homenagem que estava absolutamente no nosso espirito.

Como advogado, conheci Mattoso Côrte Real juiz da Relação e juiz do Supremo Tribunal de Justiça, e foi sempre o mais honroso possivel para S. Exa. o conhecimento que tive das suas qualidades como magistrado e como homem.

Sr. Presidente: confesso que com grande custo tomo a palavra para me associar á homenagem prestada á memória de Emygdio Navarro, e por uma razão simples: é que estão gastos com mediocridades todos os adjectivos que se poderiam applicar com justiça a um homem como o fallecido jornalista. (Apoiados).

Tudo quanto se possa dizer de um homem excepcional, como Emygdio Navarro, encontra-se, por assim dizer, compromettido e prejudicado pelo esgotamento dos adjectivos e por isso a homenagem mais própria á memoria d'elle, seria talvez um silencio justificado, para o não confundir em adjectivos com os elogios a individuos que lhe são absolutamente incomparaveis.

Sr. Presidente: Emygdio Navarro foi a matéria prima de um estadista, e foi-o num paiz onde é vulgar a materia prima para Ministros de Estado; mas foi, principalmente, um jornalista. Caracteriza-se este paiz pela uniformidade desoladora dos homens e dos factos. São elles tão iguaes na sua mediocridade que a historia do paiz podia, quasi que com vantagem, ser substituida por simples estatisticas.

Emygdio Navarro, se era incomparavel como jornalista, não foi precisamente um logico; foi antes um psychologo dominando pela suggestão, e o seu processo caracterizava-se pela harmonia do aspecto, pela maneira como elle sabia collocar qualquer questão, e collocá-la habilmente, porque esse foi sempre o mais brilhante dos seus talentos.

Emygdio Navarro tinha a singular habilidade de por tantas vezes dar à sua psychologia um tal aspecto, que chegava a apresentar a forma de uma simples verdade do senso commum.

Emygdio Na varro caracterizava-se tambem pela qualidade excepcional de, falando do tempo presente e dos factos a que estava ligado, o fazer por forma como se effectivamente estivesse seculos afastado d'elles e escrevendo acima dos homens e das circumstancias.

Como jornalista tinha um poder de improvisação verdadeiramente de orador, mas a sua penna era um singular instrumento de precisão.

Eu, que fui sempre um admirador da prosa, e que conheço pela biographia dos grandes prosadores o grande trabalho que a prosa perfeita importa, admiro principalmente em Emygdio Navarro o talento com que da simples improvisação jornalistica, immediata e espontanea, lhe saia tantas vezes uma prosa absolutamente perfeita.

Quem sabe que a naturalidade tem as suas evoluções como a propria natureza, não pode deixar de admirar o talento maravilhoso de um homem como foi Emygdio Navarro.

Como jornalista atacou por vezes com o seu estadulho proverbial e muitas vezes, ultimamente, se defendia com as argucias de um florete, mas num ou noutro processo, fosse qual fosse a phrase de evolução, elle melhor que ninguém sabia resistir a todos os ataques de todos aquelles para quem a penna é de ponta e mola.

Associo-me, como disse, á homenagem prestada por esta Camara á memoria do extraordinario talento que foi Emygdio Navarro e faço-o pessoalmente e pelo partido a que pertenço e que me confiou essa honra.
(O orador não reviu).

O Sr. Joaquim Tello: - Agradeço a V. Exa. e á Camara a benevolencia com que accederam ao meu pedido.

Vou fazer algumas referencias muito ligeiras e muito resumidas sobre o assumpto a que acaba de referir-se, com muita eloquencia, o meu illustre collega Sr. Martins de Carvalho.

Por incommodo de saude não pude assistir á sessão de quinta-feira, do que peço desculpa ao Sr. Presidente e á Camara. Também não suspeitava de que nesse dia se faria a commemoração do fallecimento de dois homens illustres, que foram membros d'esta Camara, porque do contrario, mesmo com esforço, não teria faltado.

Os homens illustres a que me refiro, sabe-o a camara são os Conselheiros Francisco do Castro Mattoso e Emygdio Navarro.

O primeiro foi um magistrado integro e um caracter de eleição.
Não foram intimas as minhas relações com o illustre extincto, mas sempre affectuosas e bastantes para apreciar os seus dotes de intelligencia e primores de caracter.

Mas a Emygdio Navarro prendiam-me relações de outra ordem. Conheci-o desde os bancos da Universidade e fui seu companheiro inseparável durante muitos annos. Com elle collaborei em tres jornaes politicos, Progresso, Correio da Noite e Novidades. Dos dois ultimos fomos até dos seus fundadores.

Durante este largo periodo não occorreu entre nós um accidente, o menor attrito que perturbasse ou empallidecesse esta affectuosa intimidade.

Vivemos sempre como irmãos, auxiliando-se e aconselhando-se consoante as forças de cada um. N'esta reciprocidade de serviços, é claro, tomei eu sempre o melhor quinhão. Devia-lhe, por isso, altas provas e muitas attenções.

A elle, principalmente, devi a situação que hoje occupo, aliás disputada então por quem se abordoava em boas influencias. Prevaleceu, porém, o patrocinio da amizade. E elle bem sabia que não distinguia um ingrato,