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4 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

porque sempre me encontrou a seu lado nos transes mais difficeis da sua accidentada vida.

Mas deixemos estes pormenores que menos valem.

Como já disse, assim vivemos muitos annos na mais affectuosa intimidade e tive então largo ensejo para apreciar as grandes qualidades d'aquelle espirito superior, d'aquelle pujante talento e daquelle coração sempre prompto a sacrincar-se por um amigo. (Apoiados), Que se livrassem, porém, de o aggredir, de o melindrar, que a resposta era certa, prompta, e por vezes violenta. Não recuava, não voltava as costas, não se cansava em largas explicações; rompia com desafogo, intemeratamente, sem medir conveniências, nem interesses de ninguem. (Apoiados).

Uma grande qualidade sobresaia n'aquelle espirito complexo-não tinha vaidades nem invejas de ninguém. Quanto mais os seus amigos cresciam em importância e consideração social, mais satisfeito vivia aquelle generoso coração. Nunca se apavorou com as conquistas dos outros. Se lhe aprazia estender a mão aos desprotegidos, envaideciam-no sempre os triumphos dos seus amigos.

Estão ahi a confirmar, entre outros, os seus prezados amigos Villaça, illustre Ministro dos Negócios Estrangeiros, e o Digno Par Dias Costa, duas glorias do partido progressista; e assim o affirmaria tambem Carlos Lobo de Avila.

A ascensão ao poder destes seus dilectos amigos foi motivo de sincero enthusiasmo para Emygdio Navarro; direi mesmo de vaidade, que só assim elle a sentia e comprehendia. (Apoiados).

Quando Emygdio Navarro voltou de Paris, para onde foi em 1892 exercer o cargo de nosso Ministro n'aquella capital, tomou nova orientação politica, discordando da minha. Por este motivo esfriaram as relações politicas entre nós, mas mantiveram-se sempre integras e com igual effusão as relações pessoaes.

Não me demorarei em traçar o perfil do seu caracter, nem a fazer o elogio das suas preclaras e excepcionaes faculdades de jornalista, que foi o primeiro do seu tempo (Apoiados), e de estadista, que deixou affirmações valiosissimas no Ministerio das Obras Publicas, que exerceu com larga e fecunda iniciativa (Apoiados), porque essa descripção já foi feita em ambas as casas do Parlamento por vozes muito mais autorizadas do que a mi nhã, e com outro relevo e brilhantismo que pela minha parte não lhe posso dar. Mas doia-me a consciência se deixasse passar este momento doloroso, sem mais uma vez affirmar todo o meu respeito, toda a minha gratidão pelo homem que foi um dos meus melhores amigos.

Antes de terminar, permitta-se-me que faça uma indicação ou melhor que dirija um pedido ao nobre Ministro das Obras Publicas, Commercio e Industria, homem de bem e espirito recto, que decerto o apreciará justamente.

É o seguinte: Emygdio Navarro nasceu em Viseu. Emygdio Navarro foi o Ministro que mais desenvolveu e radicou, entre nós, o ensino industrial e commercial. (Apoiados).

N'aquella cidade existe uma escola industrial ainda sem nome. Seria mais um preito de homenagem ao antigo Ministro das Obras Publicas mandar S. Exa. lavrar uma portaria que desse á escola industrial de Viseu o nome de Escola Industrial Emygdio Navarro. (Muitos apoiados).

É pouco, bem sei. mas será mais uma modesta affirmação de saudade por aquelle que foi um cidadão illustre e um amigo dedicado. (Vozes: - Muito bem).

Peço desculpa á Camara dos momentos que lhe roubei, mas pareceu-me que era este o meu dever.

(S. Exa. foi cumprimentado).

(O orador não reviu).

O Sr. Ministro da Guerra (Sebastião Telles): - Pedi a palavra para mandar para a mesa uma proposta de lei.

Para não tomar tempo á Gamara, farei mui rapidamente a sua leitura, dispensando-me de ler o seu relatorio.

É a seguinte:

(Leu).

(Vae publicada no fim da sessão).

O Sr. Ministro das Obras Publicas (D. João de Alarcão): - Apesar das más condições da Camara, consegui ouvir dizer no discurso do Sr. Deputado Joaquim Tello, que desejava que, em homenagem a Emygdio Navarro, fosse dado o seu nome á escola industrial de Viseu. Pedi pois a palavra para me associar calorosamente ás palavras que S. Exa. proferiu em homenagem ao Conselheiro Emygdio Navarro, cujo fallecimento todos deploramos.

Foi o Ministro de mais larga iniciativa que tem passado pelo Ministerio das Obras Publicas, e é pois agradável associar-me a essa manifestação a que o illustre Deputado se referiu.

Tenho dito.

(O orador não reviu).

O Sr. Ministro da Marinha (Moreira Junior): - Começo por mandar para a mesa a seguinte

Proposta

Senhores. - Em conformidade do disposto no artigo 3.° do Primeiro Acto Addicional á Carta Constitucional da Monarchia, o Governo pede á Camara dos Senhores Deputados permissão para que possa accumular, querendo, o exercicio das suas funcções legislativas com o do seu emprego e commissões dependentes deste Ministerio o Sr. Deputado Ernesto Julio de Carvalho e Vasconcellos.

Secretaria de Estado dos Negocios da Marinha e Ultramar, em 21 de agosto de 1905. = Manoel Antonio Moreira Junior.

Foi approvada.

Aproveito o ensejo para ler á Camara o relatório referente á situação economica e financeirajdas nossas colonias e propostas da minha pasta.

(Leu.)

Vae publicado no fim da sessão.

O Sr. Oliveira Mattos: - Antes de entrar no assumpto para que pediu a palavra, seja-lhe permittido associar-se ao voto de sentimento que esta Camara deliberou lançar na acta da sessão pelo fallecimento dos antigos deputados Francisco Mattoso Côrte Real e Emygdio Julio Navarro.

Não esteve presente a essa sessão e por isso só hoje o pode fazer.

Outros, com mais auctoridade e competência, fizeram já o elogio dos illustres extinctos; mas elle, orador, faltaria ao seu dever se, na primeira occasiào em que lhe coube a palavra, não se associasse, com a mais profunda magua, á commemoraçâo pela morte desses dois grandes vultos, que foram seus particulares amigos, durante um longo periodo de quasi trinta annos.

Elle, orador, viveu na intimidade de ambos, Conservando sempre uma amizade inalteravel, ainda nos periodos mais accesos das luctas politicas e até quando discordava por completo das opiniões por elles sustentadas, como succedeu muitas vezes com Emygdio Navarro, pois, através de tudo, nunca deixou de lhe reconhecer os seus grandes meritos e excellentes qualidades.

Hoje todos pensam da mesma forma; mas o que é triste é que seja necessario que venha a morte, e quasi sempre com ella a miseria e a pobreza da familia, para que se faça justiça, a intriga cesse e a calumnia se cale.

Sem se alongar nas considerações a que se prestavam