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bre — está em discussão, peço a v. ex.ª que me dê a palavra.

O sr. Presidente: — Póde ficar descançado o nobre deputado, que lhe hei de dar a palavra.

O sr. Carlos Bento; — Sr. presidente, não continuarei a fallar mais, sómente digo que este negocio pertence á camara; e intendo que o auctor de uma proposta «qualquer não tem satisfações a dar desde que essa proposta pertence á camara. O que posso asseverar a v. ex.ª e á camara, é que se acaso acabar a ordem da inscripção que eu propuz, vou para minha casa com a major resignação possivel; este revéz parlamentar ha de ser para mim um desgosto, que hei de soffrer com a maior resignação,

O sr. José Estevão: — Sinto ter de lastimar que o nobre deputado estragasse a sua vasta erudição arrastando os oradores gregos e latinos para uma discussão, que se póde considerar grande, porque foi suscitada por um talento illustrado, e porque é tractada n uma assembléa parlamentar, mas que em si é absolutamente pequena, é realmente nada. O nobre deputado fez lucubrações importantes sobre a natureza das diversas especies de eloquencia, em que se mostra (como era de esperar) muito mais adiantado do que o nosso mestre Quintiliano, para mostrar que a divagação era uma das partes mais fortes da oratoria. O illustre deputado fallou n'uma certa penalidade que na Grecia se impunha contra os oradores que divagavam; mas o illustre deputado deve saber que o pró e o contra não foram introduzidos na practica parlamentar para evitar a digavação, foi para evitar o espectaculo enfadonho que se presenceava, vendo os oradores, quer sustentando quer combatendo o objecto que se discutia, succederem-se uns aos outros, repetindo as mesmas razões e os mesmos argumentos, de maneira que a discussão perdia todo o interesse, e toda a attenção; foi este o motivo porque se introduziu o pró e o contra. Ora a inscripção — sobre — póde estar admittida em alguns parlamentos, como o illustre deputado disse, mas o que é certo é que se usa muito pouco della. E porque se usa pouco della? O motivo é porque todo o mundo quer debater e não quer sermocinor para fazer adormecer aquelles que o ouvem, acabando por fazer adormecer o proprio orador que falla.

Portanto, sr. presidente, intendo que é melhor voltarmos á antiga practica do pró e do contra, do que repetir-se esta scena sensaborona em que os oradores no parlamento, parecem um côro de frades franciscanos a rezarem vesperas e ladainhas. (Riso) Por ultimo direi ao illustre deputado que o — sobre — não seria introduzido por contrabando, mas acho que o foi sorrateiramente e com intenções sorrateiras.

O sr. Lobo d'Avila: — Sr. presidente, usando da palavra fallarei sobre alguns pontos incidentes que se tocaram, mas não seguirei o sr. Deputado Carlos Bento naquella viagem que fez á roda do mundo administrativo, viagem muito brilhante sim, mas que nos desviou da principal questão que se tracta. O emprestimo contraído no Porto, que faz o objecto da discussão actual, não mereceu a attenção do illustre deputado; já um outro orador teve occasião de notar isto, por isso não insistirei agora nesta observação; mas direi ao illustre deputado que este emprestimo já está subscripto, e por firmas dignas de todo o conceito, na sua quasi totalidade; sinto que não esteja presente o sr. ministro da fazenda, porque elle faria á camara esta participação. A totalidade desse emprestimo, que são 500 contos, póde calcular-se que é sufficiente para a feitura das estradas projectadas, que são — do Porto a Amarante, de Braga a Valença, de Barcellos a Braga, é de Barcellos a Vianna — a extensão total destas estradas anda por umas 28 a 30 legoas, ainda que não se póde calcular exactamente, porque se precisa verificar os traçados.

Ora o nobre deputado referiu-se a uma proposta feita n'outro tempo, em que s offerecem 400 conto para construir a estrada do Porto, e lastimou que se não tivesse acceitado estes 400 contos; porém eu direi ao illustre deputado que essa proposta era offerecida com condições que de certo não eram tão vantajosas como as da proposta actual.

A proposito da applicação destes dois emprestimos disse o illustre orador que a applicação do outro era mais proficua que a do actual, porque julgava a feitura da estrada de Lisboa ao Porto muito mais conveniente para a felicidade do paiz que a feitura do caminho de ferro do norte, que está projectada, e para que está auctorisado o governo a applicar o rendimento que pertencia ao fundo de amortisação. O illustre deputado, para fazer ver que a estrada do Porto era muito preferivel ao caminho de ferro do norte, insistiu sobre dois pontos importantes; disseque a estrada do Porto satisfazia as necessidades actuaes da nossa viação melhor que o caminho de ferro, e que nós não eramos um povo que estivessemos no caso de comprar cara a velocidade; concluindo que a vantagem que apresenta o caminho de ferro sobre uma estrada, é apenas a da economia de tempo; mas não acontece assim, e nesta apreciação parece-me haver um grande, equivoco. Os caminhos de ferro não tem sobre as estradas unicamente a superioridade da economia de tempo, offerecem tambem a superioridade da economia do preço do transporte, tanto em referencia a passageiros como a mercadorias. Eu fiz um calculo, que até já publiquei ahi nos jornaes, e que não foi combalido, em que, suppondo que a estrada do Porto custava 1:000 contos com o seu material de circulação, e o caminho de ferro 10:000 contos, cifra já exaggerada, vinha este a dar uma economia de 1:380 contos annuaes; tirando-lhe a economia de tempo ficavam ainda quatro quintos dessa economia de 1:380 contos, isto é, para cima de 1:000 contos. Portanto não ha só a considerar a economia de tempo, ha tambem a considerar a economia do preço de transporte. Nas diligencias e em carros de transporte o termo medio do preço é de 120 réis por cada tonellada transportada a uma legoa de distancia, e no caminho de ferro o preço anda por 70 réis a tonellada levada á mesma distancia.

O preço que acabo de dizer nos carros de transporte é naquelles que não são accelerados, pois nestes paga-se década tonellada por legoa 180 réis. Já se vê que ha uma economia perfeita e completa; e n'uma questão tão seria como esta, em que o caminho de ferro tanto póde influir sobre a prosperidade do paiz, é preciso considerar estas differentes economias, e não fazer espirito em economia publica, vindo dizer que não estamos no caso de comprar caro a velocidade; é preciso entrar na analyse. Bem sei que isto é secco, arido, não diverte tanto, mas é mais essencia] para se chegar a uma resolução acertada em uma questão tão importante, e que tanta influencia póde ter no desenvolvimento da prosperidade publica.