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Disse tambem o digno deputado que por ora não acha meio de realisar o caminho ide ferro, e não julga que os capitaes se apresentem; mas que todavia deseja muito o caminho de ferro, e estima muito que elle possa fazer-se. Pois, sr. presidente, o melhor meio de fazer com que o caminho de ferro venha, appareça, é tractar de se desacreditar a construcção delle? É tractar de desacreditar os meios que se empregam para obter n construcção desse caminho? Será o melhor meio para que elle se construa, o dizer-se que leva 10, 100 annos a construir, que não satisfaz ás necessidades da nossa circulação, que vai parara atoleiros, que é uma anomalia, que é um absurdo em referencia á estrada ordinaria do Porto? Será vindo lançar este desfavor sobre uma vi» que é mais perfeita, será desacreditando-a, que chegaremos a obte-la, que chegaremos a crer na sua possibilidade e a construí-la em tempo mais breve? Parece-me que não. Quem deseja que o caminho de ferro se construa, quem está convencido da immensa utilidade que a -economia publica deve tirar delle, em logar de desacreditar essa idéa, tracta de provar que é facil construí-lo, como effectivamente é. Por consequencia eu acho que a logica do digno deputado pelo Minho é demasiado excentrica, não a posso comprehender

O illustre deputado veiu com o exemplo de que o caminho de ferro de Marselha levou 10 annos a construir. Cita-se este facto talvez pelo que se leu em jornaes; mas se se referir com exactidão, se se lerem os documentos officiaes, se se souber o que se passou a respeito daquelle caminho de ferro, ver-se-ha que essa asserção e bastante destituida de fundamento. Em primeiro logar disse-se que o caminho de ferro de Marselha tinha uma, extensão de 400 kilometros, que ligava os dois mares, o Mediterraneo com o do norte, e que apesar de ser esta linha tão importante: a França tinha levado 10 annos a construí-la.

Sr. presidente, a linha de ferro desde Marselha até ao Havre tem 1:000 kilometros, não tem 400. Só a parte de París a Marselha tem mais de 700 kilometros; e não foi construida em tantos annos coimo se diz. A construcção desta linha não marchou regularmente. Em 1845 o governo francez destinou 11 milhões para a construcção de uma fracção dessa linha a parte que vai de París para Châlons; do pois em 1841 destinou outra somma de 71 milhões, tudo por conta do governo, e só em 1845 é que o governo fez a concessão definitiva dessa linha a uma companhia, que a largou em 1848, e passou de novo para o governo. Por consequencia não se applicaram logo desde o principio todos os capitaes á construcção desta linha; mas apesar disso, desde 1842 até 1815, são 3 annos, abriu-se uma secção á circulação na extensão de 256 kilometros. E que extensão tem a linha de ferro daqui para o Porto, quer dizer, alinha que vem entroncar na linha de leste? 240 a 250 kilometros, é maximo. Já podemos dizer alguma cousa sobre essa linha, o governo não tem tractado della unicamente por inscrever esta linha em relatorios; eu sei que alguns engenheiros portuguezes que estudaram lá fóra, e que têem conhecimentos desses trabalhos, fizeram um reconhecimento daqui para o Porto; tive occasião de ver esse trabalho, e as difficuldades da construcção da linha não são extraordinarias. A linha vem entroncar na de leste perto da Barquinha, apenas offerece alli a necessidade de construcção de algumas obras de arte, e ha alguns viaductos um pouco mais difficeis de construir ao partir da Barquinha; depois, seguindo até Coimbra é facil a construcção da linha, e depois só junto do Porto offerece difficuldade; a linha de Marselha a Lyon é mais difficil, e não fallo na linha de Liège na Belgica, que é muitissimo mais difficil de construcção.

Por consequencia não venha dizer-se aqui que esta linha, que é de 240 a 250 kilometros, não se póde construir senão em 10 annos.

Isto depende dos meios que se empregarem para a construcção; e esse systema que se empregou em França, póde aqui seguir se para se construir a linha do Porto,

E não se diga que não ha elementos nenhuns, e que é impossivel apparecerem 15:000 contos no paiz; digo que não é impossivel apparecerem; tanto mais que o digno deputado, asseverando que a linha não se constroe em menos de 10 annos, deve vêr que os 15:000 contos são para esses 10 annos, não são para apparecerem de uma vez; por consequencia, são 1:500 contos cada anno; e o paiz não está no caso de applicar 1:500 contos cada anno para o caminho de ferro? E uma somma tão extraordinaria, tão exaggerada, que a não possa dar o paiz? Os 15:000 contos são divididos eu prestações, e não julgo que nenhum paiz os não passa apresentar assim.

Demais o governo tem no fundo de amortisação consignado ao caminho de ferro do norte 2:650 contos em titulos de divida publica, além de 4:000 a 5:000 contos em bens e fóros pertencentes ao estado.

Por consequencia, o governo tem alguns elementos, tem muitos, tem bastantes para proceder como procedeu o governo francez. Póde fazer começar e continuar por algum tempo os trabalhos do caminho de ferro por sua conta, e depois tractar de organisar uma companhia quando as circumstancias se propiciarem. Não vejo nisto inconveniente nem impossibilidade.

Essa questão desanimadora deve ficar fóra de terreno.

Que fez a Belgica, quando em 1834 quiz assignalar, e confirmar com um acto grande a sua independencia, e melhorar toda a suas circumstancias economicas e administrativas? Planeou uma grande rêde de caminhos de ferro. Mas disse-se logo da parte da opposição — que era loucura fazerem-se alli caminhos, de ferro, porque havia rios canaes, tinha muitas estradas ordinarias, emfim tinha muitas vias de communicação — argumentou se alli contra a feitura de caminho» de feno, porque havia rios, canaes, estradas, muitas vias de communicação; já se vê que com tudo argumenta quem se quer oppôr a qualquer medida, argumenta com o pro e contra mas o governo daquelle paiz, conscio dos immensos resultados economicos, que haviam de vir do estabelecimento daquella rêde de caminhos de ferro, decretou e pôz em execução o projecto. Mr. Roger que era ministro, apresentou e defendeu na camara o seu projecto, levou-o por diante, e apesar das contrariedades que se offereceram, as linhas de caminhos de ferro fizeram-se, e a Belgica tem tirado immensos resultados dessas vias de communicação. A feitura das linhas ferreas começou em 1834, em 1837 tinha concluido 256 kilometros, e em 1844 ou 1845, 9 annos depois, já estava a rêde de caminhos de ferro toda concluida,