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APPENDICE Á SESSÃO N.º 28 DE 28 DE FEVEREIRO DE 1898 384-A

Discurso do sr. deputado Oliveira Matos, que devia ler-se a pag. 884, da sessão n.° 23 de 28 de fevereiro de 1898

O sr. Oliveira Matos (sobre a ordem): - Mando para a mesa a minha moção de ordem, que passo a ler.

(Leu.)

Sr. presidente, por um acaso da ordem da inscripção, cabe-me n´este debate a honra de responder ao illustre deputado e meu antigo amigo o sr. Cabral Moncada, e devo essa honra a um pequeno incidente passado com outro deputado, tambem meu antigo amigo e patricio, que muito considero e respeito, o illustre membro da minoria, sr. dr. Luciano Monteiro.

Na ultima sessão, antes da ordem do dia, fiz eu algumas considerações e dirigi varias perguntas ao nobre ministro da fazenda ácerca do pagamento dos juros aos portadores da divida interna, referindo-me com mágua e indignação ao alarme que tinha cansado no paiz a noticia de que n´esta casa do parlamento só tinha affirmado por porte da opposição, sem protesto ou desmentido, que durante dois ou tres annos, pelo menos, não se satisfariam os encargos da referida divida e os credores nada receberiam, vendo diminuir o valor dos seus titulos, caso se approvasse o projecto da conversão, que discutimos. Tratei do assumpto como sabia e conforme o permittia o meu temperamento um pouco nervoso, que me faz exaltar quando tenho rasão e defendo o que é justo, no interesse do paiz, sem de fórma alguma querer irritar os debates e ainda menos melindrar os meus illutres collegas; mas o meu amigo sr. Luciano Monteiro, que me interrompeu com os seus habilidosos e repetidos ápartes e interrogações, não gostou das minhas considerados e respostas, achou mal cabido o momento, e um pouco irritado queixando-se dos ouvidos, desafiou-me a que na ordem do dia tratasse a questão, porque achava de mau gosto encabeçal-a tão extensamente no sessão antes da ordem do dia.

Mais pela muita consideração que s. exa. me merece, como um dos mais talentosos e distinctos parlamentares da opposição, do que pelo proprio desejo e vontade de entrar n´um debato tão importante como este, reconhecendo a minha insufficiencia e falta de recursos, pedi a palavra desde logo sobre a ordem, para mostrar que antes ou depois da ordem do dia eu não me arreceava de fallar, como posso e como sei e não fujo a discussão quando o cumprimento do dever o exige, estando prompto a usar n´este caso do direito que a todos assiste, na defeza das minhas opiniões, sincera e honradamente norteadas pelos interesses do paiz. Era-me indifferente tratar, antes ou depois, ou na ordem do dia, assumpto que eu reputava e reputo de muita gravidade e de grande interesse publico e eu entendia e entendo, que para isso todas as occasiões são boas e opportunas.

E aqui está explicada, sr. presidente, a verdadeira e unica rasão porque eu tenho a honra, com que não contava, de fallar em seguida ao illustre deputado sr. Moncada. Pois que sem se ter dado o referido incidente a palavra não me caberia n´esta altura, e certamente que oradores da maioria muito mais competentes e illustrados do que eu, e sobretudo muito mais sabedores da especial- dade de que se trata, a conversão da divida externa, haviam de responder a s. exa. e trazer novos elementos ao debate, com certeza muitissimo melhor do que eu o pesso fazer. Comtudo, vou esforçar-me quanto possa para acompanhar o meu illustre collega nas admiraveis divagações que fez á roda do projecto, quasi sem lhe tocar nem o apreciar e discutir, como têem feito os outros seus correligionarios.

O sr. Moncada, ao contrario do que se esperava, pelo seu feitio parlamentar e pelos exemplos dos seus collegas da opposição, foi tão moderado e correcto no seu brilhante discurso, que eu não posso deixar de o felicitar muito cordialmente por esta sua nova e valiosa feição parlamentar.

Fallou e muito bem, com uma correcção de phrase, serenidade e compostura, que contrasta notavelmente pelo acerto e reflexão das considerações, pela maneira como se dirigiu ao governo e á maioria, fazendo justiça as intenções de todos, sem aquelles grandes e destemperados arrebatamentos de incontinencia de palavra, de falta de bom senso, do exagero inconveniente, improprio e injusto, apaixonado e faccioso, mascarado de patriotismo, com que foi iniciado o debate d´este importantissimo projecto pelos seus exaltados collegas ! (Apoiados.}

Esta digna attitude de s. exa., um orador tão vibrante e nervoso, este seu moderado processo de ataque saindo tanto do molde dos seus irrequietos e turbulentos correligionarios, levo-me a crer que no seu espirito illustrado e justo, de jurisconsulto distincto, entrou o convencimento pela discussão que tem ouvido, de que o projecto não é tão mau como o pintam, e do que não viu apresentar ainda cousa melhor que o substituisse. E tanto assim é, que s. exa. com todo o seu saber, que é muito, não quiz aprecial-o para o combater; limitou-se a achal-o mau sem querer dar a rasão do seu dito, sem contra elle adduzir prova alguma, como demonstrarei.

Mas vamos adiante.

S. exa., repetindo as palavras de um outro orador da opposição, começou por lamentar que não tivessem entrado em fogo na discussão d´este projecto todos os grandes marechaes, os cabos de guerra da maioria. Eu tenho pena de ser um simples soldado, o mais modesto e humilde do batalhão da maioria, embora já não seja recruta pelo tempo de praça, e muito queria n´este momento ser um dos seus mais considerados generaes ou ao menos capitão, para ter a honra de corresponder aos desejos de s. exa.. Infelizmente para mim, a minha vontade e desculpavel ambição não podem supprir a falla dos meus recursos, e os galões como os meritos não se podem improvisar, mas conforme podér e sonhar, irei vendo se consigo responder às considerações que o illustre deputado fez. E desculpará, conto com a sua generosa benevolencia, como com a dos meus queridos camaradas, se eu não estiver, como de certo não posso estar, á altura de um tão notavel estrategico, que bem podia ser generalissimo.

E direi já, como soldado que não volta a cara ao inimigo, que me cansou grande estranheza que os illustres deputados d´esse lado da camara tanto tenham notado que os cabos de guerra da maioria não entrem em fogo, n´um assumpto tão importante como este, sem se lembrarem de que eu podia dizer-lhes e é verdade, que se assentam nas cadeiras da opposição quatro ministros de estado honorarios, não contando o sr. João Franco, ausente, e que nem um só d´elles entendeu ainda dever ter pedido a palavra para discutir, combater, apreciar, explicar ou