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APPENDICE Á SESSÃO N.° 24 DE 1 DE MARÇO DE 1898 410-A

Discurso do sr. deputado Oliveira Matos, que devia lêr-se a pag. 395 da sessão n.° 24 de 1 de março de 1898.

O sr. Oliveira Matos: - Sr. presidente, pedi a palavra para fazer uma rectificação a um mal entendido, que parece ter-se dado, por parte talvez da camara, e porventura das galerias, mal entendido que se repercutia desagradavelmente fóra d´esta casa, como se repercutem pelos mal intencionados, muitas vezes com propositados intuitos politicos e até pessoaes, factos que aqui se dão, e que se não deviam prestar a interpretações duvidosas e erroneas.

Quando hontem fallei, na ordem do dia, sobre o projecto da conversão que actualmente se discute, referi-me a todos os illustres oradores que n´esta camara antes de mim têem discutido o assumpto.

Não podia de modo nenhum, sem desconsideração que não queria fazer, omittir o nome do sr. conselheiro Dias Ferreira, chefe de uma situação transacta, com responsabilidades de governo, porque s. exa. tinha tomado parte importante na discussão do projecto, e porque da minha parte seria até uma descortezia se a elle me não referisse.

Quando comecei a referir-me ao notavel discurso de s. exa. principiei por declarar com toda a correcção e lealdade, que sentia não o ver presente na sua usual cadeira de deputado, e que me associava, profundamente magoado, ao enorme desgosto que s. exa. devia sentir n´este momento, visto estar ausente dos trabalhos parlamentares, por motivo de doença grave de pessoa querida de sua familia, que o obrigou a saír para o estrangeiro, como era sabido.

E declarei mais, que as minhas relações antigas com s. exa., quer como collega, na camara, quer como amigo e patricio, eram de tal natureza cordeaes e estimaveis, que me impediriam, quer na sua presença, quer na ausencia de s. exa., de poder dizer quaesquer palavras que fossem offensivas, ou sequer desfavoraveis, ao seu bom credito de cidadão honesto, honrado e independente, que eu muito considerava e considero pelo seu caracter e saber.

Parece-me que a camara ouviu claramente esta minha manifestação do apreço feita muito expontaneamente antes de me occupar da resposta ao seu discurso.

Uma voz: - É verdade, é verdade.

O Orador: - E começando, acrescentei que pelo facto de s. exa. estar ausente, eu seria escrupuloso nas minhas apreciações, que distinguiria perfeitamente entre o homem politico, cujas responsabilidades na sua administração eram grandes e não podia declinar, e o homem particular, que respeito e considero pelos seus merecimentos, mas que diria tudo o que tinha á dizer e fosse preciso, para a justa apreciação das suas obras politica e financeira, que reputava nefasta e prejudicial ao paiz.

Mas, ou porque se não ouvissem bem d´este lado da camara as palavras que disse, ou porque emfim os melindres de amisade mais intima e particular, que respeito da parte de quem se manifestou n´esse sentido, fossem de grande susceptibilidade, o que é certo é que o nosso prezado colega o sr. Luiz Osorio, disse claramente que lamentava que, na ausencia do sr. José Dias Ferreira, eu me tivesse aqui referido áquelle parlamentar, censurando cruelmente os seus actos.

Não chegou s. exa., por muito delicado que é, a censurar-me. Estranhou apenas o facto e remarcou-o, e a meu ver, perdos s. exa., estranhou muito mal, depois da declaração que eu tinha feito antes de entrar no assumpto, e que parece s. exa. me não deu a honra de ouvir. No que eu disse estava muito no meu direito e não fui alem do que devia e é permittido.

Uma cousa são relações pessoaes de intimidade e de parentesco, e outra cousa mui diversa são, as politicas, e as apreciações a actos publicos de homens politicos em evidencia, ou de funccionarios.

Eu nunca tive o costume, nem n´esta casa do parlamento, onde já não sou dos mais novos, nem na imprensa, aonde escrevi durante muitos annos, de devassar para fins politicos, ou trazer á discussão, a vida particular de alguem, ou de para amesquinhar meritos reconhecidos de quem quer que seja, por vingança ou despeito, fazer da pena ou da palavra uma como que succursal de soalheiro.

Invoco o testemunho d´esta casa do parlamento, que respeito, como me respeito a mim proprio, para que diga se uma unica vez proferi aqui qualquer palavra que podesse offender ou sequer melindrar o caracter de quem quer que fosse, salvo quando intencionalmente o quero ou devo fazer, nunca tendo até hoje de retirar uma phrase ou de pedir uma desculpa!...

Dou estas francas e claras explicações á camara, para que aquelles que não ouvindo as primeiros palavras que disse ao referir-mo ao sr. Dias Ferreira, não possam pensar que eu esperava a ausencia de s. exa. para lhe fazer referencias desagradaveis, que não estavam nem podiam estar no meu animo.

E dou estas explicações, repito, expontanea, sincera e lealmente á camara, e só a ella, porque aqui dentro respondo pelas minhas palavras e lhe assumo toda a responsabilidade; porque às apreciações injustas e calumniosas, que baseadas em falsidades malsinam as minhas palavras e as minhas intenções, fóra d´esta casa do parlamento, sejam ditas por quem for, ou sejam feitas pela imprensa, não respondo nem quero responder, porque tenho o mais soberano e absoluto desprezo por quem, fallando, ou escrevendo, siga taes processos politicos.

Escusado é declarar que isto que digo se não refere nem podia referir a nenhum nosso collega d´esta camara, que aqui tenha assento o que seja jornalista.

Tenho dito.