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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

bidade, amor ao trabalho e provada competencia em differentes ramos de administração publica, amigos e adversarios reconhecem (apoiados); mas ao homem menos revolucionario de todos quantos homens publicos tem havido em Portugal (apoiados) e fóra d'elle. Entregar a revolução a um estadista n'estas condições, foi o mesmo que suffocar o movimento e fazer desapparecer a revolução (apoiados). Foi o que succedeu. Revogaram-se tres leis que o parlamento tinha votado e a punjança da revolução parou ahi. Os programmas desappareceram e as aspirações dos que n'elles acreditaram ficaram illudidos.

Mas era tal a sede do paiz de mudança, pelo menos, de pessoal politico, que, pelas eleições que se fizeram então e que foram tão livres como o podem ser eleições feitas pelo systema até hoje usado, o paiz mandou pela primeira vez ao parlamento 85 deputados novos.

Mas oh desapontamento! Oh desengano! Oh dor para a patria! Em vez de uma camara revolucionaria na accepção grande, nobre e larga d'esta palavra; em vez de uma camara movida de intuitos generosos, ciosa das prerogativas populares, e fanatica pelas liberdades publicas, appareceu uma pleiade de jovens cheios de talento, mas com animo de velhos sem sangue, sem vida e sem enthusiasmo, e de tesourinha alçada para cortar no orçamento alguns tostões nos ordenados dos funccionarios publicos, e de punho fechado para quem queria acabar com os terços e abolir os passaes (apoiados).

Depois d'este desengano o paiz voltou outra vez ao lethargo antigo, decidido a não saír d'elle, salvo se o quizessem obrigar a pagar mais para a continuação de uma administração e de uma politica de que elle não gosta.

Foi o que succedeu, e é o ponto em que estamos.

Appareceu este ministerio; ministerio unico em todos os systemas de governo, quer republicano, quer monarchico, quer absoluto, quer parlamentar.

Nascido nas vesperas de umas eleições geraes da regia prerogativa, desajudado de quaesquer indicações parlamentares, este ministerio perdeu, quasi à nascença, o seu presidente do conselho, que era o chefe illustre do partido da conciliação, e, por uma troca de barretes cardinalicios, perdeu um barrete episcopal, que é o chefe illustre do partido reformista. E só depois d'estas duas importantissimas perdas, é que apparece a conciliação, e que apparecem as reformas!

Mas que conciliação!... Mas que reformas!...

Todos os grupos, todos os partidos apoiam o governo, e a cada manifestação d'este apoio, o governo sente-se mais fraco e mais debilitado.

Como o marido ciumento, que, no dia em que recebe da esposa mais afagos e mais carinhos, mais se sobresalta, mais se assusta e mais desconfia, assim este ministerio, que quiz a conciliação e que a obteve, que procurou a unanimidade e que a alcançou; a cada abraço d'esta conciliação, a cada beijo d'essa unanimidade, mais desconfia, mais se entorpece e mais se amua! (Apoiados. — Riso.)

Quaes serão as causas d'este grande phenomeno?

Apresentou o nobre ministro da fazenda as suas medidas, e d'essas a primeira que tem uma tal eu qual discussão é esta, que se refere à contribuição pessoal.

O apoio promettido, a conciliação desejada manifestam-se immediatamente.

O meu illustre amigo e distincto orador o sr. Alves Matheus, o meu illustre amigo o sr. Tiberio, e o meu illustre amigo o sr. Osorio de Vasconcellos immediatamente manisfestam o seu apoio ao governo, na pessoa do sr. ministro da fazenda, pelas considerações que fizeram.

S. ex.ª o nobre ministro da fazenda condescendeu comtudo no seio da commissão, porque é de notar que as questões politicas afastaram-se d'esta casa, mas foi para se levantarem na commissão de fazenda; lá é que tem havido questões politicas, para lá é que se transportou o parlamento. Eu posso fallar n'isto, porque não pretenço à commissão de fazenda, e portanto tudo quanto aqui digo são informações que tenho pelas vozes publicas; não venho devassar segredos dos factos lá passados.

Ora, tendo o nobre ministro da fazenda condescendido com todos os alvitres propostos na commissão, e tanto que da sua proposta primitiva não ha aqui senão uns tristes e insignificantes restos, as bases fundamentaes d'ella desappareceram; tendo o nobre ministro procedido assim, pensava s. ex.ª, ou devia pensar, que depois de tantas condescendencias ficaria a coberto de todas as arguições, de todos os golpes, porque estas condescendencias eram filhas do desejo de continuar a conciliação, e que portanto, apparecendo este projecto de lei, a camara vota lo ía sem discussão. Vinha tudo preparado do grande laboratorio politico, que é a commissão de fazenda, e nós aqui não tinhamos senão que dar a sancção ao projecto.

Pois eu creio que as manifestações de apoio dadas pelos illustres deputados que acabei de citar não são de certo as mais proprias, não digo para conservar o governo, o actual ministerio, mas para conservar no seio d'elle o nobre ministro da fazenda. Se essas manifestações se transmittem a todos os outros partidos, se de cada grupo saem com o mesmo enthusiasmo abraços de tal ordem, afagos e carinhos pela mesma fórma manifestados, eu não supponho que a compleição fraca do nobre ministro da fazenda, a sua compleição physica, possa resistir a tantas provas de amisade e de interesse. (Riso. — Apoiados.)

Mas não tratemos agora da commissão de fazenda, nem do illustre ministro da fazenda, tratemos das resistencias que se têem apresentado da parte do paiz, da parte de todos os contribuintes, não digo bem, das manifestações que se tem apresentado da parte de todos os contribuintes, sempre que se apresentam ao parlamento quaesquer medidas de impostos. Será porque o paiz não quer pagar? Não. Dizem-no essas mesmas manisfestações, dizem-no todos os representantes do paiz que estão n'esta casa, e digo-o eu tambem profundamente convencido.

Ha uma escola, porém, o partido reformista sobretudo, que diz que o paiz resiste ao imposto e resistirá emquanto se não fizer todas as economias possiveis, emquanto se não evitar no orçamento todas as sobejidões e escalrachos, phrase do meu illustre amigo, o sr. Saraiva de Carvalho.

Assim será. Mas pergunto eu, porque se não apontam essas economias que é necessario fazer? Porque se não denunciam essas sobejidões? Responde o meu illustre amigo, o sr. Alves Matheus, respondeu o sr. Tiberio e respondeu ainda hontem o illustre relator da commissão: «O governo que as aponte, o governo que as denuncie, porque o governo é que é o competente, é quem está informado». Mas a isto responderei eu, pois se não sabem, pois se ignoram, para que pedem o que o ignoram? (Apoiados.) Pois se não estão informados, se podem ou não fazer-se reducções, porque pedem reducções sem essas informações? (Apoiados.)

Ainda ha mais, vós fostes governo e governo dictatorial, porque não cortastes mais fundo? (Apoiados.) Ao contrario, quando apresentastes as vossas medidas tributarias, dissestes, estão feitas as economias possiveis, é tempo agora de pedir ao contribuinte que concorra tambem para salvar o deficit (apoiados). Vós o dissestes.

Sinto não estar ainda presente o illustre relator da commissão; mas o que lhe vou dizer em nada lhe é desagradavel; porque ao talento superior de s. ex.ª, à sua illustração e ao seu honrado caracter me felicito de fazer mais uma vez justiça e prestar homenagem (apoiados).

Disse nos s. ex.ª que era necessario que se fallasse mais com numeros, do que com palavras...

(Os srs. Luiz de Campos e Visconde de Moreira de Rey pedem a palavra.)

Assim o desejava e o queria Goethe, o illustre auctor do Fausto. Venho tambem munido de numeros para fazer a vontade a Goethe e ao illustre relator da commissão.

Tenho aqui diante de mim qual foi a despeza feita pelo

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