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SESSÃO N.° 26 DE 5 DE SETEMBRO DE 1905 5

trou não terem sequer a menor relacão com o nosso caso e que, antes pelo contrario, são exactamente a condemnação mais formal dos processos empregados pelo Sr. Ministro da Marinha.

O Sr. Fratel no seu discurso de hontem contou o que se deu com a Inglaterra quando o seu Governo pretendeu assegurar a soberania do seu paiz numa parte dos seus territorios, organizando uma expedição tardia e bastante cara - o resultado d'essa expedição foi infeliz e a opinião publica numa onda de agitação patriotica obrigou o Governo presidido por Gladstone a deixar as cadeiras do poder.

Sr. Presidente: vê-se pelas exposições que teem sido feitas deste lado da camara que o Governo não estudou a questão como ella devia ser estudada.

isse o Sr. Ministro da Marinha que felizmente o estado dos espiritos em Angola, permitte e aconselha uma prudente demora para bem se estudar a questão. Todos os factos provam precisamente o contrario, e teem demonstrado á evidencia quão falhos são de razão os argumentos apresentados pelo Sr. Ministro da Marinha. A verdade é, Sr. Presidente, que as informações vindas d'aquella provincia dizem que a effervescencia, já não digo a rebeldia, para comnosco e para com os estrangeiros, que até agora tinha intermittencias, tomou um caracter de persistencia que nos deve fazer pensar. Deve-se calcular por aqui o estado de desassocego em que se encontra a provincia de Angola.

Para provar quanto é desacertada a affirmação do Sr. Ministro da Marinha basta citar o seguinte facto: depois do desastre de Cunene, tendo o governador geral de Angola mandado uma columna atravessar o Cunene para recolher o material de guerra que lá tinha ficado, teve ella de retirar, não só sem trazer o material que ia buscar, mas deixando ainda o que levava.

E então o Sr. Ministro da Marinha diz, "que o socego d'aquella região é de molde a permittir delongas!"

Mais ainda, Sr. Presidente.

O Sr. Ministro da Marinha, que tive a honra e o prazer de ouvir na sessão de maio ultimo, antes do adiamento, quando aqui nos trouxe um telegramma, em que se dava parte ao paiz de mais uma gloriosa victoria das nossas armas no Libollo, referiu-se a um pequeno incidente que havia na região dos Gambos, dando-lhe a menor importancia! Mas para se mostrar quanto é falha de confirmação pratica esta informação, ouvimos pela boca auctorizada do Sr. Cabral Moncada que esta campanha, que não tinha importancia realizada nos Gambos, era uma contenda entre dois potentados, a um dos quaes démos auxilio das nossas forças, pois esse foi derrotado e a embala não ficou em poder do soba e das armas portuguezas; as nossas tropas fugiram deante de alguns guerrilheiros negros! Mas o Sr. Ministro da Marinha continua a dizer - que o estado de quietação d'aquella região de Angola é de molde a permittir delongas!...

"Limitava-se a contenda entre dois sobas; com isso não tinhamos nada e em nada affectava as armas portuguezas!" Isto prova como estão desorganizadas as forças militares de Angola. (Apoiados).

Mas depois do desastre de Cunene e depois destes factos continua-se a affirmar -que a quietação dos espiritos dos indigenas e de todas as hordas gentilicas do sul de Angola é de molde a permittir delongas!...

Mas ha mais. Noticias de recente data colhidas num jornal de mais circulação no paiz affirmam que alguns commerciantes, aventurando-se a fazer os seus negocios na região do Ovampo, tendo atravessado o Cunene, estabelecido as suas barracas e iniciado as suas negociações, tiveram de fugir precipitadamente, deixando barracas e todos os generos para evitar serem massacrados!...

Acresce ainda que terminadas as chuvas as consequencias poderão ser muito mais funestas. Baixando o nivel do Cunene, os cuanhamas e cuamatas e outras hordas gentilicas d'aquelle paiz hão de atravessar o rio e confraternizar com todas as tribus selvagens da margem direita do Cunene.

É preciso que se saiba uma coisa que é uma grande verdade; em todas as tribus da margem direita do Cunene a submissão é mais platonica do que real, ha naturalmente em todas as tribus selvagens o espirito de hostilidade para com os dominadores europeus, e esse espirito, quando seja impulsionado por outros seus irmãos, converte-se fatalmente num espirito vivo de vingança, que será difficil, muito difficil, de dominar. (Apoiados).

Mas mais ainda, é preciso não esquecer este grande principio de Antonio Ennes, de que o sertão tem a sua diplomacia, mas que aquella diplomacia só cede á força dos factos, das campanhas militares, muitas vezes regadas com o sangue dos nossos irmãos.

O Sr. Ministro da Marinha continua a fiar-se nas promessas de submissão, em palavras de amor de tribus selvagens, esquecendo-se de que tantas vezes as regiões civilizadas esquecem as palavras proferidas, quanto mais uma região de seres naturalmente inferiores, e que hão de ser sempre levados pelo instincto de rebeldia contra os seus dominadores. (Apoiados).

Um facto porém, debaixo do ponto do vista internacional, ha muitissimo mais grave, que vem demonstrar que a opportunidade neste momento era absolutamente exigida pelos mais sagrados interesses do paiz. (Apoiados).

Sabe V. Exa. que na região do sudoeste africano a Allemnnha tem uma fronteira commum com o nosso paiz, alem Cunene. Estão ali 20:000 dos melhores soldados, allemães, commandados pelos melhores officiaes d'aquella poderosa nação, que estiveram na fronteira franceza.

Nessa região rompeu uma revolta entre os herreros e os allemães e 20:000 soldados allemães pisam o terreno de uma quasi inhospita paragem, que confina com a região alem Cunene. Comprehende V. Exa. que, de duas, uma das hypotheses ha de dar-se:

Ou os allemães vencem os herreros ou os herreros vencem os allemães.

Na primeira hypothese, os herreros vencidos e acossados pelo inimigo, galgando a fronteira commum, hão de invadir o nosso dominio e os allemães, precipitando-se em perseguição d'elles, sem obstaculo, e não vendo fronteiras conhecidas, invadirão o nosso territorio e ali se fixarão definitivamente, tirando nos o que de direito é nosso dominio.

Virão depois as reclamações diplomaticas e de nosso lado estará a razão; mas eu lembro a V. Exa. a celebre pbrase tão conhecida, de que os diplomatas assignam os tratados, mas quem prepara as pennas com que os tratados são assignados são as campanhas e as batalhas.

Na segunda hypothese, se os herreros ficam vencedores detendo-se nas regiões de alem Cunene, e impulsionados os seus irmãos de Ovampo pela victoria que lhes viram alcançar, ou ainda acossados por elles, hão de pensar em fazer o mesmo que elles fizeram e, peor do que isso, hão de transpor o Cunene, hão de ligar-se com todos as tribus onde temos soberania mais effectiva e estas, obrigadas, ou aproveitando o ensejo, hão de entender-se até nos deixarem só o litoral.

É esta a bella situação que o Sr. Ministro da Marinha nos procura, a nós que temos na provincia de Angola um dominio duas vezes maior do que o que está abrangido nos limites das fronteiras.

Lembrou nos hontem o Sr. Fratel um facto gravissimo que ha de resultar como consequencia funesta d'este adiamento: refiro-me á conferencia de Berlim.

Nós não levantámos o prestigio das nossas armas, nem fizemos a occupação effectiva da região alem Cunene, onde temos uma missão catholica subsidiada pelo Governo Portuguez, mas onde ha tambem varias missões estrangeiras,