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6 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

sendo tres protestantes, que absolutamente não concorrem em cousa alguma para assegurar ali o nosso dominio.

Por isso, 8r. Presidente, dizia ha pouco que o primeiro pretexto invocado pelo Sr. Ministro da Marinha como razão fundamental do adiamento sine die da expedição e da occupação cuanhama e cae pela base.

O segundo pretexto é o seguinte: que a preparação conveniente da campanha era absolutamente incompativel com o tempo e com os recursos materiaes da provincia de Angola.

Não se comprehende uma affirmação d'esta natureza feita pelo Sr. Ministro da Marinha.

Pois S. Exa. cita-nos um trecho do relatorio do official encarregado de organizar a expedição, em que esse official diz que se houver delongas na resolução do Governo não pode tomar compromissos, e affirma que em virtude d'essa declaração é que a expedição foi adiada?

Mas porque?

Porque se demorou a resolução do Governo?

O illustre official em quem o Sr. Ministro da Marinha deposita toda a confiança, como declarou, affirmava que, não havendo demora da parte do Governo, elle se compromettia a tornar effectiva a occupação alem do Cunene, desaffrontando as nossas armas.

Mas então porque foi a demora?

Pois esse distincto official declarava categoricamente que tomava o compromisso de desaffrontar o prestigio das armas portuguezas se não houvesse demora e por essa razão é que a expedição se não fez?!

Pois dizia isto um official que o Sr. Ministro affirmava ser de toda a confiança, e o Governo demorou a expedição, e agora, como a demorou, diz que não pode seguir a indicação daquelle distincto official.

Como tem coragem o Governo para servir-se do mesmo documento procurando defender o seu procedimento tão variado!

Dizia S. Exa. que a impossibilidade em preparar convenientemente a campanha, resultava de varios motivos; não só de não poder estabelecer com toda a segurança a base de operações, como a impossibilidade de se fazer abastecimento de viveres e de materiaes de guerra para a região que constitue a base de operações, e ainda o não se poder estabelecer as linhas de communicação.

Pois no proprio relatorio do official do exercito em que o Sr. Ministro da Marinha declara depositar toda a confiança administrativa, nesse mesmo relatorio, o distincto official que foi encarregado dessa missão affirma, com a sua competencia technica, com os conhecimentos que tem da região, e com a auctoridade do nome que adquiriu na historia das ultimas guerras africanas, que, segundo os elementos que tinha colhido, dentro do prazo marcado podia-se ter feito a expedição com exito brilhante para as nossas armas, pacificando a região alem Cunene.

Portanto, depois d'este official ter affirmado com a auctoridade do seu nome que era compativel com o tempo a preparação conveniente das operações, o motivo foi outro; o motivo sabe-o toda a gente, é que o illustre official pedia ao Governo, para satisfação integral dos seus compromissos, a subordinação da auctoridade administrativa ao commando da expedição, emquanto que o Governo entendia dever desligar o commando militar da expedição da auctoridade administrativa; o que é o mais grave erro que se pode commetter em administração colonial.

Já disse ha pouco e torno a repetir que a missão do Ministro da Marinha que queira bem desempenhar o seu mandato é satisfazer a todos os pedidos dos commandantes de expedições, e dar-lhes todas as liberdades de acção para que elles possam resolver todas as difficuldades.

O Sr. Ministro da Marinha não quiz attender a este justo argumento e por isso causou enorme prejuizo á nação. Remedeie-o se ainda é tempo. Não fale mais S. Exa. em opportunidade, dizendo que está esperando a construcção do caminho de ferro, que Deus sabe quando estará concluido.

Não se fie S. Exa. nas theorias que o Sr. Rodrigues Nogueira apresentou; lembre-se V. Exa. do que succedeu aos allemães.

Sr. Presidente: lembro-me do que succedeu na região do sudoeste allemão. Quando rebentou a revolta dos Herreros estavam 5:000 soldados allemães na testa do caminho de ferro; pois tiveram de chamar mais 8:000 homens para esta campanha tão demorada e de que tantas vezes não teem saido triumphantes! Como se pode affirmar que deante dos caminhos de ferro fogem as insurreições?!... Seria contradizer os factos.

Accentua-se que o caminho de ferro é um dos maiores incentivos para o desenvolvimento economico de todas as regiões: aproximam-se os generos produzidos numa região dos pontos de consumo. Mas hoje não é o caminho de ferro que procura a povoação; são as povoações que procuram o caminho de ferro. (Apoiados}.

Debaixo do ponto de vista economico, o caminho de ferro traz grandes vantagens, que não podemos contestar, porque é esse o ponto de vista economico do partido regenerador. Mas é preciso accentuar que é indispensavel que a construcção do caminho de ferro se coadune com as necessidades do trafico local. (Apoiados}.

O Sr. Ministro da Marinha veio dizer ha pouco, o que me encheu de surpresa, "que de facto o caminho de 0,60 de largura satisfaz ás necessidades do trafico de momento e conforme as necessidades de futuro teria então de ser substituido por um caminho de via larga, aproveitando-se esse ramal para o caminho de ferro de via larga."

Em primeiro logar devo observar que construir um caminho de ferro com 0,60 de largura com o intuito de enriquecer uma região, fomentando o desenvolvimento economico d'essa região, para depois se fazer a substituição por outro, é nem mais nem menos do que deitar perfeitamente o dinheiro á rua. (Apoiados). É um erro que se não pode perdoar neste momento, porque a nossa situação, posto que já bastante desaffogada, não permitte desperdicios d'esta ordem. (Apoiados).

Isto chega a ser extraordinario; foi por certo lapso de S. Exa.

V. Exa. comprehende que estabelecer ramificações num caminho de ferro de via larga com material de via estreita, sujeita por consequencia a baldeação de passageiros, de material, de mercadorias é tudo quanto ha de mais anti-economico, é a expressão mais contraria á verdadeira noção de um caminho de ferro.

Pelo que respeita ao preço ficámos na mesma.

Disse o Sr. Fratel que 1.500:000$000 réis é uma verba que fica muito aquem do valor real do caminho de ferro. Respondeu o Sr. Rodrigues Nogueira:

V. Exas. estão enganados, eu fiz a media de todas as peças kilometricas de caminhos de ferro de via reduzida, e a media é de 9:000$000 réis por kilometro!

Ora, Sr. Presidente, tirar media em preços kilometricos de caminhos de ferro não dá cousa alguma.

Pois o caminho de ferro numa região não pode ser de uma construcção difficil e carissima, e noutra ser baratissima e rapida? E, note V. Exa., em todo o nosso litoral de Africa existe uma elevação de terrenos que constitue, por assim dizer, uma orla que corre parallelamente a toda a linha limitrophe da costa.

A difficuldade do caminho de penetração é vencer as differenças do terreno. Tirar a media kilometrica de construcções de caminhos de ferro é um erro grave, não nos dá ideia de cousa nenhuma, nunca pode servir de argumento.

Disse-se que um caminho de ferro de 0m,60 é um caminho de ferro absolutamente destituido das condições indispensaveis para se conseguir o fim para que foi construido, criticou-se a apreciação espirituosissima que fez o