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6 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

ministeriaes progressistas, mas que acabou por ser posta de remissa, attentas as dificuldades de toda a ordem que assoberbam os nossos Governos.

Se, porém, as grandes obras não podem pedir-se e muito menos impor-se aos Ministros, na situação actual do nosso paiz, alguma cousa de util poderia já tentar-se, como sejam a criação da lei a que me referi, a qual deveria ser elaborada por uma commissão mixta de agricultores, advogados e engenheiros, e o fornecimento immediato de sondas ás secções hydraulicas - hoje chamadas secções fluviaes e maritimas - para que, a expensas do Estado, fossem desde já feitas pesquisas de alguas instantaneas ou artesianas, á imitação do que se faz em Hespahha e na Argelia. Para não falar sem provas da utilidade das sondagens, basta-me citar o exemplo da provinda do Albacete, em Hespanha, e do Far-West americano, que com elles augmentaram a sua producção agricola de modo muito consideravel.

E para estes dois pontos que me atrevo a chamar em especial a esclarecida attenção do nobre Ministro das Obras Publicas, que, a par de uma alta capacidade juridica e litteraria, é um dos mais distinctos agricultores do nosso paiz, e do seu illustrado collega do Ultramar, que, especialmente nas ilhas de Gabo Verde, daria talvez applicação vantajosissima á minha ideia.

Tinha ainda muito mais a dizer sobre este assumpto, mas como, apesar das suas amaveis negativas, receio cansar a attenção da Gamara, limitar-me-hei apenas a affirmar que a agua applicada aos usos agricolas produz muitas vezes outras utilidades não menos preciosas, tal como o aproveitamento da força motriz que ella cria pelo seu movimento; quando convenientemente aproveitada nas rodas Pelton, ou nas turbinas de Voith, Wiss, Hercules-Progrès e tantas outras. Em todos os tempos se teem feito aproveitamentos da força da agua, mas ultimamente, com o transporte da força a distancia, é que o problema tomou um novo e mais importante aspecto, sendo para elle que me atreverei a solicitar a attenção da Gamara, durante os poucos minutos que tenho disponiveis.

Sr. Presidente: esta magna questão do aproveitamento da força criada pela agua dos rios e ribeiros, e muito especialmente da que escachôa em grandiosas cascatas pelas encostas das montanhas, está merecendo o estudo dos mais distinctos engenheiros de todas as nações, tendo sido já celebrado um congresso em Grenoble, ha tres annos, onde se discutiram os variados aspectos de tão importante questão - chamada da hulha branca - que pode muito bem produzir uma deslocação dos grandes centros industriaes do mundo. Os paizes planos, como a Allemanha do norte, a Belgica, a Hollanda, a Russia, etc., não poderão concorrer com a França, Italia e Suissa, e a propria Inglaterra pode vir a soffrer uma grande desvalorização dos seus jazigos de hulha.

Todas as nações tratam do aproveitamento da sua hulha branca: a França, no departamento do Isère, utiliza já uma força hydraulica de 37:000 cavallos-vapor e no de Saboya 30:000 e tem nos Alpes e Pyrineus mais de 10 milhões que poderá aproveitar.

A Noruega, na installação de Kikkelsrud, a 53 kilometros de Christiania, tem 44:000 cavallos de força motora, produzidos com uma queda de agua de 21 metros de altura. Não falando já da catarata do Niagara, cuja potencia é calculada em 12 milhões de cavallos-vapor, dos quaes só ha 50:000 aproveitados, diremos que se trata do aproveitamento das grandes cataratas do Zambeze, as quedas Victoria, que poderão fornecer mais de 35 milhões de cavallos-vapor, que serão em breve applicados ás minas, caminhos de ferro e fabricas de toda a Africa Meridional, mediante uma rede electrica com 700 kilometros de raio.

Mas não é só a enorme potencia das grandes cataratas que pode ser vantajosamente utilizada. Ha em França um pequeno rio, o Eure, que, com uma queda de 4 metros,
daria mais de 13:000 cavallos de força em seis mezes, quando fosse bem aproveitado.

Até mesmo as modestas correntes são, portanto, uma riqueza importantissima, que nós deixamos de aproveitar, e, o que peor é, que não mostramos o menor desejo de vir a aproveitar.

É triste na verdade que quando todas as nações tratam de resolver os grandes problemas da sua economia, nós nos entretenhamos com frioleiras que só dão perda de tempo e do forças, distanciando-nos de seculos dos progressos das nações que não param porque não querem, morrer.

Não será, pois, tempo ainda de olharmos para o Douro, que já foi estudado, sob este ponto de vista pelo nosso illustre collega e amigo, o Sr. engenheiro Serrão; para o Zezere; que tambem teve o estudo do Sr. conductor Schiappa; para o Tejo e para tantos outros rios que nos poderiam fornecer milhares e milhares de cavallos-vapor que hoje tão caros pagamos á Inglaterra?!

E não haverá nunca oradores eminentes que tratem aqui d'estas cousas que são importantissimas?

Pois se andamos sempre a dizer-nos um paiz essencialmente agricola, e nem ao menos temos um Ministerio de Agricultura!

Vou terminar porque não posso, por mais tempo, abusar da benevola attenção da Camara, esperando que pelo menos este Governo que me ouve tome estas minhas considerações na conta que merecem, dando-lhe foros de questão nacional, de que depende o futuro da agricultura e da industria portuguezas, isto é, o futuro da nossa Patria.

E por ultimo faço votos para que Portugal não seja um paiz perdido, mas que, pelo contrario, alguem possa terminar um futuro discurso parlamentar com a palavra final do livro patriotico do Sr. Conselheiro Anselmo de Andrade:

Resurrexit!

Tenho dito. (Vozes: - Muito bem, muito bem).

O Sr. Ministro das Obras Publicas (D. João de Alarcão): - Sr. Presidente: ouvi com toda a attenção as observações que acaba de fazer de um modo brilhante o illustre Deputado, o Sr. Alvaro Simões, que chamou a minha attenção para um assumpto deveras importante.

Procurarei satisfazer quanto possivel o seu ideal, dentro dos acanhados recursos de que disponho, podendo o illustre Deputado ficar certo que envidarei para isso os maiores esforços.

Mas eu tinha pedido a palavra tambem para responder ás observações que o illustre Deputado, o Sr. Claro da Ricca aqui fez ha algumas sessões e a que não pude até agora responder cabalmente. Não pude vir aqui na sessão seguinte áquella em que S. Exa. se tinha referido a negocios que correm pela minha pasta; faltei a outras duas sessões e por isso só agora vou responder ás observações de S. Exa.

O Sr. Deputado Claro da Ricca, referindo-se ao decreto de 27 de fevereiro que estabeleceu armazens geraes para o deposito de vinhos e aguardente, notou que esse decreto não tinha inteiramente satisfeito os fins que tinha em vista e havia illudido a ideia de naturalmente proteger a agricultura vinicola; pelo contrario, das suas disposições resultam prejuizos para a agricultura!

Ora direi a V. Exa. que estas mesmas observações que o illustre Deputado o Sr. Claro da Ricca fez nesta sessão já tinham sido apresentadas no meu gabinete pelo presidente da Real Associação da Agricultura e por uma deputação que tinha recebido de um syndicato agricola do norte.

Ouvi-os expor as suas observações e discutindo bastante com elles pareceu-me que os deixei convencidos de que não eram tão grandes os perigos como se lhes afigurava. O decreto não é da minha responsabilidade, mas se eu