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o quantum, a maneira porque ha de ser pago já a Lei o declarou, o Decreto, e todos os Empresarios que tractaram desta materia, ou que nella tomaram parte, sujeitaram-se á Lei; vieram essas reclamações posteriores, sei mui bem que agora reclamam a reintrega dos seus contractos; mas porque não o fizeram quando o Decreto de 19 de Novembro foi publicado? Porque não representaram immediatamente ao Governo. então, que não era aquella a maneira de serem indemnisados?... Mas ponhamos de parte isto. — Voto agora pelo Adiamento por cortesia para com o Governo; não pelos fundamentos dados, porque nenhum delles procede, absolutamente nenhum.

O Sr. Cunha Sotto-Maior: — Sr. Presidente, tomarei muito pouco tempo á Camara, porque nem sei nem posso, e ainda quando soubesse e podesse, não queria dizer palavras que nada significam, nem trazer argumentos que embrulham, e não esclarecem a questão.

Eu encaro esta questão debaixo de um ponto de vista inteiramente differente daquelle porque tem sido encarada até agora; talvez seja resultado da minha posição especial: e se esta questão não se referisse á Repartição do Ministerio do Reino, eu não receiasse que esta Camara tomasse as minhas palavras como desforço ou reconvenção, entraria nella muito mais largamente.

Sr. Presidente, a questão é muito simples; ou hei de combater o Adiamento, ou o Governo; mas acceitar o Adiamento, e acceitar o Governo não póde ser; não posso concordar estas duas especies.

Sr. Presidente, este Projecto foi apresentado em Agosto de f848. Quaes são as razões que se invocam para o adiar hoje? São os direitos da Companhia das Obras Publicas, e da Companhia das Estradas do Minho! Esses direitos existem só desde hontem?.. Não, Senhores, existiam então, existem ha muito tempo. Porque razão pois se trouxe este Projecto á Camara? Porque razão se enviou á Commissão para o examinar, e esta apresentou o seu Parecer. Porque se nomeou uma Commissão Externa? Porque razão se annunciou para Ordem do Dia, e se deu para a discussão? Que prova tudo isto. Sr. Presidente? Prova que o Governo não tem Systema algum. Pois que quer dizer trazer o Governo um Projecto á Camara para discutir, ir á Commissão, dar esta o seu Parecer, e na occasião da discussão, pedir o Governo que se adie o Projecto, porque fallam os esclarecimentos necessarios? Pois o Governo não tinha os esclarecimentos necessarios em Agosto de 1848, quando se apresentou o Projecto á Camara?! Pois a Commissão deu o seu Parecer sobre esse Projecto sem ter para isso os esclarecimentos necessarios?! Pois o Governo deixa abrir o debate sobre o Projecto, e é nesta occasião que pede o seu Adiamento por falta de esclarecimentos?! Quer a Camara que lhe diga para que veio aqui o Projecto? Foi para matar tempo, para nos entreter, para não fazermos cousa alguma.

Não é meu costume gastar muito tempo á Camara, não faço grandes dissertações; acceito os factos como se apresentam, e digo sobre elles aquillo que entendo. O Governo não tem Systema, não tem pensamento algum, e a prova é o que se esta passando com este Projecto. O Governo apresentou-o na Sessão passada; e no fim de todo este tempo declara, que ainda não sabe se as Estradas se. devem fazer por conta do Estado, se por conta das Companhias!..

Pois se o Governo não decidiu a questão em tantos mezes, como querem, como é de esperar que a decida era 15 dias?.. Eu não contesto o direito das Companhias; a minha questão não é com o direito que as Companhias teem, ou deixam de ter; a minha questão é com esta falta de Systema do Governo de dar para a discussão um Projecto para o retirar depois. O ponto de vista do Governo é este; abriu-se hontem a discussão sobre o Projecto, o Governo propoz o Adiamento, gastou-se com elle toda a Sessão, e hoje aconteceu o mesmo, e isto muito de proposito para consumir tempo, e nada fazermos... (O Sr. Silva Cabral: — De proposito, não.) O Orador: — De proposito. (O Sr. Silva Cabral: — De proposito não, isso não se póde dizer.) O Orador: — Pois bem; esta é a minha opinião, póde ser que não seja assim, duvido porém. Um Sr. Deputado disse, que a Maioria deve ter confiança no Governo; não duvido que essa deva ser a marcha, mas a Opposição não está nesse caso; a Opposição não tem confiança, não póde, não deve ter. Eu declarei que a Opposição era systematica. A Opposição é Systematica, porque tem um Systema, e combate o Governo, porque não tem Systema algum. (Rumor) Systematica não é uma palavra indecorosa; as Opposições que se preparam para subir ao Poder, devem ter um Systema certo, e são estes os principios que eu sigo; pois um Governo que confecciona com duas Commissões um Projecto, que falla tanto nelle, que por vezes tem pedido na Camara que elle se discuta, que sabe que está dado para Ordem do Dia ha uns poucos de mezes, apresenta-se agora a declarar que não está habilitado para entrar nessa discussão, e que ainda não sabe se as Estradas hão de ser feitas por conta do Estado, ou se hão de continuar por conta das Companhias!.. Pois um Governo que procede assim, póde dizer-se que tem Systema?.. Sr. Presidente, esta questão do Adiamento é uma questão do Carnaval, é propria do tempo, e então não admira (Riso.) (Vozes: — Ordem) Vou já concluir, Sr. Presidente, mas hei de faze-lo com uma anecdota.

A Condeça Coligni de la Suze fez-se catholica, porque o marido se fizera huguenote. A Rainha Christina da Suecia que estava então em París, explicou a apostazia da Condeça e do Conde com as seguintes palavras, A Condeça não quer viver com o Conde, nem neste Mundo, nem no outro, Assim estou com relação á Maioria. Combato o Adiamento, porque ella o approva.

O Sr. Presidente: — A Camara ouviu o Sr. Deputado, e ouviu-o placidamente; eu devia interromper o Sr. Deputado em certas occasiões; não o fiz, mas agora convido-o a retirar algumas expressões de que usou no seu Discurso. O direito que tem qualquer Sr. Deputado de propor o Adiamento, é tão grande como o que tem para apresentar um Projecto de Lei; e esta questão de Adiamento não se póde classificar como Questão de Carnaval, como a classificou o Sr. Deputado; são estas umas das palavras, que peço que retire. Não se póde dizer tambem que isto tem sido feito de proposito para consumir tempo. Peço tambem ao Sr. Deputado que retire essa expressão. (Apoiados)

O Sr. Cunha Sotto-Maior: — Tudo se póde decidir em paz e socego, Sr. Presidente. (Riso) A palavra Carnaval é uma palavra do tempo, estamos no Carnaval, por consequencia não merece ella grande