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Digges. O rei julgando-se ultrajado com a lingoagem de que elles fizeram uso procedeu contra elles, e que fez a camara dos communs? Declarou que se não tornaria a reunir em quanto não recebesse a satisfação que exigir, e o rei foi obrigado a dar-lha. Desde aquella época memoravel muitas vezes tem a opposição naquelle paiz da liberdade reclamado medidas analogas ás que requeremos, e ninguem ousaria dizer em Inglaterra que uma petição respeitosa ao soberano sobre qualquer objecto era um ataque ao poder moderador. O direito de petição está na Carta, e eu não posso, nem quero prescindir como Deputado dos direitos que me compilem, direitos que hei de defender como cidadão. Ha dous annos que o dugue de Wellington fez passar na camara dos lords uma petição para que o rei mudasse de política a respeito de Portugal, aquelle poder moderador recebeu a petição, e sem se dar por offendido respondeu que julgava cumprir os tratados seguindo a política que tinha adotado. Ha pouco o rei de Inglaterra usando das prerogativas do poder moderador dissolveu o parlamento; alguns jornaes blasfemaram contra aquella medida, e os outros que os com bateram não se lembraram de dizer que elles atacavam as prerogativas daquelle poder. Qual de entre nós se não lembra de quantas vezes a opposição na camara dos deputados em França, durante o ministerio Villele, pediu, instou, gritou pala dissolução da Camara? Quem se esqueceu já da celebre mensagem dos 221. Sr. Presidente, as circumstancias graves e extraordinarias em que esta Camara foi eleita, a sua dessidencia sobre materias graves, a pequena maioria que nella existe, e quasi toda composta de empregados publicos, e a convicção de que a Camara não excede as suas attribuições pedindo ao poder moderador a sua dissolução, foram os motivos que me decidiram, que me determinaram a assinar a proposta que discutimos. É natural que os illustres membros que a combatem, digam que essa dissidencia, que a pequena maioria de que fallo tem desapparecido porque em matarias graves a Camara tem quasi votado unanimemente. Ninguem, Sr. Presidente, tem visto com maior satisfação do que eu o espirito de conciliação e de amor do bem publico que tem reinado na Camara durante as discussões sobre indemnisações, e venda dos bens nacionaes, mas ainda quando a unanimidade da Camara fizesse constantemente desapparecer todos os outros motivos que me levaram a assinar, o primeiro, isto e as circumstancias em que a Camara foi eleita continuaria a existir, por isso voto contra o parecer da Commissão.

O Sr. João Bernardo de Souza: - Sr. Presidente, quando assinei esse requerimento a favor, e contra a qual tanto se tem dito, estava eu persuadido por os factos occorridos em toda a Sessão passada, no principio desta, e no intervallo até que as separou, que esta Camara se achava constituída de maneira que não era possível satisfazer aos fins de sua missão; porque se, como não pode duvidar-se, todos os seus membros desejam o bem da sua patria, e nisto se conformam, não se tem conformado todavia nos meios para o conseguir. Teimosas resistencias se tom notado em todas as discussões, ainda em aquellas que versavam sobre objectos da menor importancia, tem-se consumido um tempo infinito, em consequencia dessas resistencias, para sair desta casa obra, que muito bem pudera ter-se feito em poucos dias de trabalho combinado.

Esta opposição constante entre os dous lados da Camara, esta espantosa morosidade no andamento dos negocios tem sido a causa, não só de continuarem a pesar ainda sobre o povo males de que pudera já estar livre; mas o que é peior ainda, tem levado similhantes desintelligencias, odiosas divisões, e um geral descontentamento a todas as classes da sociedade; de maneira que autoridades, particulares, e povos inteiros ba uns da esquerda, outros da direita, e todos geralmente descontente. Este estado sempre máo, é absolutamente insupportavel em nossas, circunstancias, e eu não via meio de sair delle senão por a substituição desta Camara por outra, que mais homogenea, melhor promovesse os interesses da nação, e a união de que tanto carecemos.

Eis-aqui, Sr. Presidente, em summa as principaes razões que me fizeram julgar indispensavel a medida sollicitada, razões que a Camara sabe muito bem que eu pudera corroborar, senão julgasse mais prudente poupar-me á narração de desagradaveis ocorrencias. Não me são por tanto applicaveis esses motivos, essas vistas particulares, que alguem injustamente metem attribuido como signatario desse requerimento, e felizmente, Sr. Presidente, felizmente a minha posição é tal que não preciso recorrer a esses legares communs de virtude, ou voto consciencioso para ser acreditado.

Sr. Presidente, eu nunca fui, não sou, nem tenciono ser empregado do governo, os meus interesses estão essencialmente ligados com os interesses do povo, e então não dependendo em nada do Governo, nem de cada um de seus membros para o exercício de minha profissão, ou para meus arranjeis particulares, é claro que só me interessa, que só me importa que os actos do Governo sejam justos e conformes ao interesse geral, e por consequencia aos meus, quaesquer que sejam as pessoas encarregadas da administração, para as quaes eu não devo, nem posso ler outras considerações que aquellas que a civilidade, e a ordem pedem: foi por tanto a convicção da justiça da preterição que me obrigou a pedir a dissolução da Camara; tem sido sempre segundo estes principies que eu tenho dirigido os meus actos, é segundo elles que hei de continuar, creio eu, a dirigir-me em quanto tiver a honra de assentar-me nesta cadeira.

Agora, Sr. Presidente, tendo dado os motivos de minha conducta neste negocio com toda a franqueza de que sou capaz, direi com a mesma que tão necessaria, e util me pareceu a dissolução da Camara no momento da apresentação do requerimento, quanto insustentavel julgo agora similhante pretenção: a maneira tranquilla porque a Camara se tem conduzido nas importantes discussões de indemnisações, e venda de bens nacionaes, etc., o desejo que se tem mostrado d'ambos os lados da Camara para conciliarem suas opiniões em proveito publico, parece-me reclamam que a Camara não tomando por ora conhecimento deste negocio, determine o seu addiamento, no que não só fará justiça, mas até dará deste modo um passo de política; porque diga-se o que se disser, todos nós precisamos ganhar no publico a opinião que havemos perdido. N'uma palavra, Sr. Presidente, fademos claro = Está a Camara resolvida a continuar assim, ou nós havemos retrogradar, e tornar a dar-nos em espectaculo? = No primeiro caso continuemos; porque assim é necessario, no segundo então vamo-nos embora para casa. Por tanto concluo pedindo a V. Exca. proponha o addiamento.

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado propõe uma questão preliminar; isto é, que se deve addiar a discussão desta materia: pareceres que não poderá haver duvida em que ao mesmo tempo se possa fallar sobre o objecto, e a nova proposta, podendo concluir-se se este pode ter logar: por tanto para não estar a dividir a questão, os Srs. Deputados que tiverem a fallar sobre a materia, poderão ao mesmo tempo dizer o que lhe parecer a respeito do addiamento.

O Sr. Passos (Manoel): - Sr. Presidente, como um dos signatarios que sou da proposta para a dissolução da Camara, vejo-me na necessidade de combater o parecer da Commissão. A segunda vez que tive a honra de fallar nesta assembléa, logo propuz a sua dissolução, como um objecto de necessidade e como um acto de rigorosa justiça. Esta Camara tem dentro de si cidadãos muito distinctos por seus talentos, virtudes e serviços; porém a grande illustração e o esplendor desta assembléa não pode encobrir o vicio da sua origem. A Camara foi eleita depois d'uma guerra civil, quando as paixões estavam ainda em toda a força da sua