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vam com as nossas doutrinas e abençoavam os nossos esforços! Mas as bençãos sós não podiam salvar tão grandes principios. Ao povo que lhe ficava? Animar os seus representantes, fortificallos com o seu apoio - juntar a sua dor á nossa dor - clamar comnosco - pedir, pedir ás Camaras, e quando ellas fossem surdas, pedir á Coroa. A Rainha é mãi. Ella ouviria as vozes do seu povo, ella faria justiça ás suas queixas! Porém o povo que fez? Deixou aos seus representantes todo o peso do combate, viu passar nesta Camara o artigo vinte, viu assassinar os juizes ordinarios, e não fez uma só lamentação, e não deu um só grito de dor. Eram esses os meios proprios para os cidadãos fazerem entender a sua vontade e exprimir os seus desejos. Porque o não fizeram? - é porque estamos ainda pagando o legado do despotismo que nos desherdou dos benefícios d'uma educação culta; porque somos livres pela lei, e temos os máos costumes, os vícios e os achaques todos dos escravos. O povo quer o bem, mas muitas vezes erra nos meios. O povo mostra simpatisar com os bons princípios: mas não sabe que o meio de os fortificar, de os defender, de os amparar, não são os gritos e as vozerias. Assim combatiam os Teutões e os Cimbros! Esta é a casa do povo portuguez. Aqui deve-se entrar com os pensamentos puros; tremer de profanar esta casa santa, e de violar o seu silencio. Falla um Deputado, este é o representante d'um povo inteiro. Ninguem tem o direito de o interromper na sua missão de verdade! Este Deputado é homem - pode errar! Mas nós somos cem; se elle errar, muitos haverá que o combatam. Esse Deputado tem talentos, que importa? Já não ha talentos perigosos, porque os talentos não são unicos. Deos os reparou. Os maiores talentos são ás vezes os que mais erram, e os que mais sabem, ainda não sabem tudo! Mas (dirão) o Deputado entrega-se ao furor da sua paixão, não attenta nas suas palavras; essas palavras são espada de muitos gumes, que nos ferem, que nos retalham a nós, que o ouvimos em silencio, e que lhe não podemos responder!» Bem! mas nós estamos aqui. Nós somos portuguezes, e vossos mandatarios, e por isso não consentiremos mesmo que se faça injuria áquelles que se não podem desaggravar, áquelles que nos honraram! Se algum disser cousa que o offenda a honra dos espectadores. Conservem-se elles tranquillos; e pelo silencio e pela prudencia, e pela sua moderação mostrem-se dignos da liberdade e verão como de todos os lados se levantam defensores e campeões da sua honra; verão como o Deputado crido offensor é o primeiro a pedir perdão e a dar satisfações se explicações não bastarem. Mas caso nenhum justifica o excesso dos espectadores. Aqui é a casa da nação! Não é o ferro quem delibera; se a força bruta houvesse de decidir as nossas questões, nós viríamos armados. Porém nós vimos para aqui sem ferro, seguros na confiança dos nossos constituintes. Que numero de cidadãos cabem nessas galerias? Quinhentos ou seiscentos! Não ha grande heroísmo em que todos esses apunhalem os quarenta velhos, que estão daquelle lado da Camara. Esses Deputados, a idade, os trabalhos, as perseguições os tem consumido, as suas forças estão exhaustas, o combate não podia ser longo, e facil seria a victoria! Mas que honra pode vir d'ahi? Vencestes, triunfastes, e que fizestes? Á liberdade expirou no peito dos Deputados trucidados. Quem é que nos defende senão a santidade da nossa missão, e esta idéa moral de que aqui é a casa do parlamento, que nella se não deve entrar senão com um respeito e veneração religiosa? Vós sabeis que um Gaulez quando Breno penetrou em Roma, pegou das barbas de um senador, - um punhal enterrado no peito do barbaro, mostrou que alli estava um romano que sabia fazer respeitar a dignidade da sua pessoa e do senado. Nós não trazemos punhal, nem vemos aqui gaulezes; todos os cidadãos que me escutam, são portuguezes. Intendam elles que scenas tão desagradaveis não devem mais repetir-se, mas ellas infelizmente tiveram logar, e a senado se cobriu de lucto! O sanctuario desta casa assim profanado pede ser purificado pelo sacramento de novas eleições, venham outros Deputados, para que nossas desgraçadas dissensôes não deem azo a que este infeliz povo cometta novos attentados, e falte outra vez ao respeito que se deve á Representação nacional. Desde aquelle funesta acontecimento a Camara perdeu o talisman do seu poder, e já lhe não resta força bastante para sustentar a sua dignidade; e bem desempenhar o seu mandato. É por isso que ella deve ser dissolvida, porque o sistema representativo não pode prosperar com uma Camara desacreditada, perdida na opinião e tantas vezes desacatada. Isto não é submetter-me ás forças caudinas da anarchia, que eu detesto, e que não cessarei de combater com todas as minhas forças. É reconhecer um facto, e a inevitavel influencia que elle exerce nos destinos da nação. Reprehendi com severidade todos os excessos, a que o povo se deixou arrastar; conheço que esses desaguisados são perniciosíssimos ao desenvolvimento dos bons princípios; porque não pode haver liberdade quando pequenas fracções do povo se arrogam o direito de dictar a lei ao paiz, e pretendem pela força impor-nos a obediencia ás suas vontades, obediencia a nós Deputados da nação toda; a nós! Como senão viessemos aqui senão para obedecer e tremer!

A politica do ministerio é deploravel. Eu sinto que a maioria da Camara a tenha approvado, mas deste lado não faltam campeões, que combatam essa política desgraçada com força e com constancia. Os numeros podem vencer por momentos, mas os triunfos verdadeiros são destinados á razão. Fracos talentos tenho eu, mas esses tem sido consagrados á defeza da liberdade publica. A nação me tem visto sempre nas fileiras de uma Opposiçâo independente. Não confio na minha virtude. Não posso prometter que serei honrado d'aqui a duas horas. A unica garantia que eu posso offerecer aos meus concidadãos é a minha vida passada. Desejo sinceramente a felicidade do meu paiz, e ganhar alguma gloria defendendo as suas liberdades. Essa gloria não será grande, porque a providencia não teve a mão larga, nem foi liberal comigo, quando repartiu os talentos. Porém a minha fidelidade e a minha constancia, poderão dar algum lustre ao meu nome plebeo, se Deos alumiar o meu entendimento, e fortalecer o meu coração. É isto o que eu peço a Deos, e é isto o que eu mais cordealmente desejo sobre a terra. Como eu estão aqui muitos, muitos que me igualam no amor da liberdade, e que tem mais pulso para a defender. Para que desanima o povo? Não temos nós combatido como gigantes, não temos feito muitas vezes aos vencedores chorar nos seus proprios triunfos e amaldiçoar as suas victorias? Respeitem pois os cidadãos o sanctuario da liberdade, e não perturbem o silencio desta casa, nem suffoquem a voz dos seus mandatarios. Isto é o que queria fazer eu entender bem aos cidadãos. E a vós seus eleitos, a vós sim Deputados direi com a liberdade e franqueza que sempre em mim tendes visto, que não posso tornar aos espectadores toda a culpa dos tristes acontecimentos que temos presenciado: acontecimentos que tornam impraticavel o sistema representativo constitucional, porque quando um povo que tantas provas deu de seu amor á causa da liberdade é arrastado a cometter tão grandes excessos contra os representantes da nação, grandes devem tambem ser os erros dessa assembléa assim desacatada; lamentavel e infeliz a sua politica! Esses excessos nós todos os presenciamos, e todos sinceramente os deploramos. A Assembléa, Srs., está sem força e sem autoridade, e deste modo o sistema constitucional é quasi impossivel! É nestas circumstancias calamitosas, que nós pensamos nos meios de salvar a nação prestes a cair de noto nos braços do despotismo. Essa obrigação cabia aos Deputados da Opposição e a todos. Depois do que se passou dentro deste recinto pensamos que o remedio mais adequado era a dissolução da Ca-