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6 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

versivos, mas consente-se em toda a parte manifestações, de sympathia, manifestações ordeiras.

O Orador: - O que eu vejo é que emquanto S. Exa. faz dois discursos, faço eu só um, e mesmo assim fico de mau partido. (Apoiados. - Riso).

A manifestação não consistiu só em andar na rua, porquanto sendo só a passear, a policia não intervém. O caso é outro. E, a proposito, eu vou citar um exemplo.

O Sr. Affonso Costa: - Eu não torno mais a interromper S. Exa. O que vou declarar é uma questão de facto e não voltarei á questão.

Não houve no Porto manifestação alguma, porque não houve organização de manifestação. Somente quando nos passávamos fomos saudados. Quasi não passou de tirar o chapeu.

O Sr. Presidente: - Parece-me que o Sr. Presidente do Conselho não consente interrupções.

O Sr. Affonso Costa: - Então agora já não as faço...

O Orador: - Continue S. Exa. no regime das promessas!... (Riso).

Vou contar p resumo da historia que eu presenciei; talvez V. Exa. não presenciasse quando se gritava nas das de Paris, a proposito do General Botha: Honneur aux vaincus, honneur aux vaincus!

Creio que não ha nada menos subversivo, que não ha nada mais sympathico, que não ha nada que seja absolutamente mais generoso e nobre. (Apoiados).

Quando esses homens iam a passar pelo boulevard do Italianos, com doze ou treze mil pessoas atrás de si, alguém se lembrou de dizer que, depois do comicio que se seguia, se havia de fazer uma quête para animar um pouco aquelles infelizes que estavam numa situação desgraçada depois da atroz guerra do Transvaal.

Mas - e este é que foi o verdadeiro crime - foi lembrarem se de abrir a tal subscrição, que não recebeu a sympathias da guarda republicana, que logo veio com...

(Interrupção do Sr. João de Menezes que se não ouviu)

Veio a guarda republicana, e eu, que não tinha cousa alguma com os vencidos nem com aquellas manifestações se não tivesse entrada com a maior pressa dentro de uma perfumaria, que por acaso estava aberta, e isso consentido pelo dono da loja, por certo que não teria a estas hora a honra de responder a S. Exa. (Riso).

Simplesmente o que eu digo é que o espectáculo era dos mais commoventes, e como a manifestação foi corrigida não sei.

Não se via no ar senão Aspadas da guarda republicana e homens, mulheres e crianças a fugir com a maior pressa, pois que não tinham recebido nem aviso previo, nem toques de corneta, nem cousa alguma. Aquillo foi bordoada de cego!... (Risos).

Ora o illustre Deputado, com o fogo da sua palavra inspirada, pinta-nos os soldados de cavallaria da guarda municipal de espada desembainhada contra as crianças etc., e afinal de contas não ha um só ferido!

Comprehendo que nos possamos elogiar as considera coes de alta fantasia de S. Exa., mas a verdade dos factos, e fica conhecida de todos, é que tanto o Sr. governa dor civil do Porto, como a guarda municipal, cumpriram o seu dever.

Tenho dito. (Muitos e repetidos apoiados). (Vozes: - Muito bem).

(O orador não reviu).

O Sr. Affonso Costa: - O que eu peremptoriamente affirmo é que não houve o minimo grito subversivo, e o Sr. governador civil, se não estava lá, que mande indagar.

Deponho, com o testemunho de Deputado da nação, o meu formal desmentido.

O Sr. Presidente: - S. Exa. não tem a palavra. Chamo a attenção da Camara. O Sr. João de Menezes pediu a palavra para um negocio urgente. Convidado a declarar qual o assunto que desejava versar, disse que era o seguinte:

Desejo interrogar o Sr. Presidente do Conselho sobre a publicação, num jornal de Lisboa, de uma lista de alguns adeantamentos feitos á Casa Real. = J. de Menezes.

Os Srs. Deputados que entendem que este assunto é urgente teem a bondade de se levantar.

Foi rejeitado.

O Sr. João de Menezes: - Peço a contraprova.

O Sr. Presidente: - Peço aos Srs. Deputados que occupem os seus logares.

(Pausa).

Os Srs. Deputados que entendem que este assunto é urgente deixam-se ficar sentados.

Foi rejeitado.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Brito Camacho.

O Sr. Brito Camacho: - Sr. Presidente: na sessão de 8 de maio, tive a honra de mandar para a mesa uma proposta para que se fizesse um inquerito parlamentar aos successos de 5 de abril; como a Camara é soberana... para acatar as indicações do Governo, nem a admittiu á discussão.

Logo a seguir formulei o aviso prévio que só agora, passados, dois longos meses, consegui realizar.

A chacina desse lutuoso dia derivara, evidentemente, de um acto politico; natural e logico seria que cada partido procurasse, responsabilizar por ella os outros partidos.

Por isso mesmo, Sr. Presidente, propus que a commissão de inquerito parlamentar fosse composta de elementos de todos os grupos com representação na Camara, porque só assim as suas conclusões deixariam de ser suspeitas.

O Governo, Sr. Presidente, ordenou uma syndicancia; mas antes disso, e quando ainda não podia ter dos factos uma informação cabal e precisa, forneceu á imprensa uma nota em que já se justificava o barbaro proceder da força armada pela necessidade de reprimir os discolos. Essa leviandade, não cobrindo as responsabilidades de ninguem, era como que uma conclusão antecipada do relatorio que devia apresentar muito mais tarde o general syndicante.

Eu, Sr. Presidente, como V. Exa. muito bem sabe e a Camara não ignora, nunca insisti com o Sr. Presidente do Conselho para que me marcasse dia para o meu aviso previo. Deixava que a syndicancia proseguisse, arrastando-se numa lentidão excepcional, não querendo que servissem as minhas impaciencias para tornar precipitado um serviço d'aquella gravidade e importancia. E só quando soube que o relatorio havia sido entregue ao Sr. Ministro do Reino, é que pedi a S. Exa. que o fizesse publicar no Diario do Governo, para que fosse do conhecimento de todos, e eu o, pudesse analysar e discutir quando realizasse o meu aviso previo.

Disse então o Sr. Presidente do Conselho que não podia ordenar essa publicação, porquanto do relatorio derivavam responsabilidades criminaes para civis e militares, e era preciso guardar o segredo da justiça até que não