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APPEMDICE Á SESSÃO DE 1 DE JULHO DE 1890 950-A

O sr. Francisco Machado: - Sr. presidente, começo por me felicitar a mim e á camara por vermos hoje aqui o sr. ministro das obras publicas, o felicito tambem o paiz por a. exa. ainda estar sentado n'aqnellas cadeiras, pois constou que s. exa. estava a fazer o seu testamento para abandonar a pasta. (Riso.)

O paiz deve estar muito satisfeito porque esses boatos não são verdadeiros e s. exa. continua a gerir a pasta das obras publicas. (Apoiados.) O paiz devo exultar de contentamento ao saber que não são fundados os boatos que corriam da saída de um ministro, que é um verdadeiro portento e tantos serviços lhe tem prestado.

As rasões em que me fundo para asseverar isto, são porque ultimamente tem sido feito pelo ministerio das obras publicas um tão extraordinario numero de despachos, que todos imaginavam que s. exa. estava a fazer o seu testamento para bem morrer. (Riso.)

Mas, como temos a felicidade de ver aqui hoje o sr. ministro das obras publicas, vou dirigir-lhe com toda a serenidade umas certas perguntas, pedindo-lhe que tome apontamentos para fazer a fineza de me responder, caso s. exa. entenda que merecem resposta.

Sr. presidente, já ha muito tempo que está feito o projecto para a construcção da escola industrial das Caldas da Rainha, e eu desejava saber se o sr. ministro das obras publicas está disposto a mandar proceder á construcção d'aquelle edificio, coustrucção que se torna absolutamente necessaria, porque a escola está mal installada o os alumnos não podem ter o aproveitamento devido, por isso que as casas são muito pequenas e não têem nem luz nem capacidade sufficiente.

A instituição da escola não póde produzir beneficos resultados, desde que não haja uma casa apropriada para esse fim, com as necessarias condições hygienicas, e a indispensavel capacidade para comportar todos os aluirmos que desejem frequentar os cursos que ali se professam.

Ora, estando, como disse, já ha muito tempo ultimado o projecto para a construcção da escola, eu desejava saber se o sr. ministro está disposto ou não a mandar proceder á sua construcção.

Sr. presidente, todos sabem que as casas de habitação nas Caldas são em geral pequenas e impróprias para uma installação desta natureza, e alem disso dizem-me que é mal ventilada aquella onde a escola está installada.

O terreno para a construcção do edificio para a escola está já comprado e não me parece, que seja muito difficil começar a sua construcção destinando-se todos os annos uma verba, se por acaso as circumstancias do thesouro não permittirem que de uma só vez se leve a effeito.

Consta-me tambem que o professor de desenho que está na escola, não é muito competente para a natureza do desenho que ali se deve ensinar, sendo comtudo hábil e podendo prestar optimos serviços noutra escola em que a natureza do desenho seja aquella para que elle tem mais aptidão.

Perguntava por isso ao sr. ministro, se s. exa. está informado d'este facto, e se desde o momento que tenha as informações precisas, está disposto a substituir o professor por outro que tenha melhores habilitações e possa prestar melhor serviço, collocando este professor noutra escola onde a natureza do desenho que se ensinar esteja mais apropriada às suas aptidões. Com isto não quero melindrar o professor do desenho das Caldas, porque nem sequer o conheço.

Sr. presidente, tambem desejava chamar a attenção do sr. ministro das obras publicas para o pequeno numero de empregados que existe na estação telegraphica das Caldas, onde afflue na presente estação, grande numero de familias, havendo considerável movimento de correspondências e do telegrammas, e não podendo os empregados existentes dar expediente a todos os serviços próprios da presente estação, e por isso o expediente anda atrazado.

Desejava por isso saber se o sr. ministro das obras publicas está disposto a collocar n'aquella estação postal o numero do empregados sufficiente para que o serviço tenha a regularidade necessaria e indispensavel.

Também desejava chamar a attenção do sr. ministro para a necessidade do se mandar construir a estrada de Santa Catharina às Caldas da Rainha e avenida do Bombarral.

A região, que ha de ser atravessada pela estrada é muito populosa, fertil e abundante em productos agrícolas, afflue dali muita gente ao mercado das Caldas onde tem de ir abafetecer-se e vender os seus productos, sendo impossivel no inverno os povos virem às Caldas e ao mercado.

Eu atravessei este anno algumas vezes aquelles sitios, e conheci que ha occasiões em que ate se torna impossivel aos povos irem ouvir missa pelo mau estado dos caminhos.

Só quem vê, póde dar valor ao que passa aquella pobre gente que tem no inverno de atravessar de uma povoação para outra.

Ha muitos annos, que os povos pedem para se lhes fazer essa obra; em quasi todas as occasiões de eleições ali apparecem engenheiros e bandeirolas com o fim de illudir os povos; mas, passada a eleição ninguem mais se lembra de tal cousa, e nem mais se ouve fallar em tal estrada. Conhecendo eu, como conheço, a grandíssima necessidade da construcção d'aquella estrada, tenho empregado e hei de continuar a empregar, todos os meios ao meu alcance para que ella se construa o mais breve possivel.

No ultimo periodo do governo progressista pedi que se mandasse estudar aquella estrada, porque não se encontrou nas repartições competentes estudos de especie alguma.

Se ao menos os estudos estivessem feitos, eu teria conseguido do governo progressista, que desse começo á construcção; porem como para construir uma estrada é necessario haver estudos approvados, e não havia nem começados, foi a rasão por que nada se póde fazer.

N'estas circumstancias o mais que eu podia conseguir era que se mandasse immediatamente estudar a estrada. Foi para isso nomeado um engenheiro, e quando o governo progressista caiu estava estudado o lanço comprehendido entre Caldas e Salir de Matos.

Faltava estudar o lanço comprehendido entre Salir de Matos e Santa Catharina, mas como o engenheiro encarregado destes estudos foi transferido, nada mais se fez.

Agora, que o periodo da eleição passou, agora que os factos estão consumados, parece-me que o melhor seria entrarmos num periodo de tranquillidade e o governo perdoar aos eleitores o crime que elles praticaram de me terem trazido a esta casa. Eu sei que o sr. Arouca é muito rancoroso, que lhe ha do custar muito a perdoar o crime praticado pelos eleitores do circulo das Caldas; mas v. exa. deve ter paciencia, visto que agora não tem remedio a dar-lhe.

Agora, deve deitar o coração ao largo e não se mortificar mais, porque lhe póde fazer mal, e seria um desgosto para todos, e um prejuizo enorme para o paiz, se tivesse-mos a desgraça de s. exa. adoecer.

Deus nos livre do tal fatalidade.

E creia s. exa. que o digo sinceramente.

Ora, o sr. Arouca, que é prodigo em servir os amigos e que tem despendido a mãos largas noutros pontos do paiz, devia lançar as suas vistas misericordiosas para aquelle cantinho do meu circulo, que fica a dois passos de Lisboa, e mandar concluir os estudos da estrada de Santa Catharina às Caldas o dar começo á construcção, dotando os povos d'aquella localidade com este melhoramento de altíssima necessidade.
E possível que s. exa. fazendo isto, em vez de mandar perseguir atrozmente os eleitores, s. exa. fique com mais amigos do que até agora, e que para as eleições proximas consiga mais alguma cousa do que, o que tem conseguido com os processos usados até hoje.

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