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APPENCICE A SESSÃO DE 9 DE JULHO DE 1890 1036-A

O sr. Francisco Machado: - Sr. presidente, para que eu comece a fallar, peço a v. exa. a fineza de fazer socegar a camara. Os meus illustres collegas que não me quizerem ouvir, podem retirar-se. Com o barulho que ha na sala não começo a fallar, porque não me quero fatigar inutilmente.

Sr. presidente, para que eu saiba qual é a largueza que devo dar a este debate, preciso que v. exa. me declare se, depois de eu concluir o meu discurso, deixa ou não fallar mais alguns dos srs. deputados inscriptos.

Vozes: - Isto é extraordinario! O sr. presidente não póde responder, isso é com a camara!

O Orador: - Então eu já não posso formular uma pergunta?! V. exas. commettem roda a sorte de inconveniencias e depois estranham que eu faça esta pergunta ao sr. presidente? V. exas. não têem nada que dizer, o sr. presidente é quem me póde responder.

Eu desejo saber se depois de mim se dá a palavra a mais algum sr. deputado que esteja inscripto.

(Susurro.)

Não é a v. exa. que eu faço a pergunta, é ao sr. presidente da camara.

O sr. Presidente: - Eu hei de cumprir as disposições do regimento. (Apoiados.)

Sempre que houverem oradores inscriptos para fallarem sobre o assumpto, eu hei de dar-lhes a palavra emquanto a materia não for dada por discutida. (Apoiados.)

O Orador:-Eu contento-me com a resposta que v. exa. me dá; mas só v. exa. podia dar-ma. (Apoiados.)

(Apartes.)

Quantos presidentes temos nós n'esta casa? Eu faço uma pergunta ao sr. presidente da camara, e respondem-me uma duzia de senhores deputados.

Creio que são, pelo menos, doze os presidentes d'esta camara.

Ora, eu não conheço legalmente senão um, é a esse que me dirijo e de que espero receber resposta.

Desejo tambem, sr. presidente, que v. exa. me diga a que horas acaba a sessão.

O sr. Presidente: - As seis horas e meia.

O Orador: - Bem. Já sei a orientação que hei de dar ao meu discurso; já sei, que não ternos sessão nocturna.

Das respostas que v. exa. acaba de me dar, devo concluir que, logo que eu termine o meu discurso, temos o garrote. Por consequencia, vou cumprir o meu dever para com o paiz, empregando todos os meios ao meu alcance para que este projecto não seja votado.

Eu disse hontem a v. exa., e repito hoje: por cada dia que fallo, empregando este meio para que esta discussão não conclua, são 4 contos de réis que poupo ao paiz. Segundo os calculos do sr. ministro da fazenda o imposto de 6 por cento ha de render 1:400 contos de róis, o que dá 4 contos de réis por dia.

Peço ao meu illustre collega o sr. Pinheiro Chagas, que pelo que vejo tem pressa em retirar, que, se o não incommoda muito, se demore um pouco na sala. Eu desejo fazer-lhe uma referencia, porque s. exa. tambem teve a bondade de se referir ha pouco a mim, e custa-me muito estar a fazer referencias aos meus collegas na sua ausencia.

Primeiro que tudo lamento que o addicional venha agora como que para a sobremesa de um menu.

Nós vamos ter agora todos os dias o addicional para a sobremesa, intercallando-se uma discussão tão importante n'outra discussão não menos importante.

É impossivel ligarem-se as idéas intercallando-se duas discussões tão importantes, como o addicional de 6 por cento e o monopolio do tabaco. Eu não com prebendo como s. exas. hão do sair do labyrintho em que se vão lançar, se por acaso querem que o parlamento seja uma cousa seria.

Vejo com pezar que o sr. ministro da fazenda não tomou ainda brometo de potassio. Nós não estamos a ser governados pela cabeça do sr. ministro da fazenda, o que já era grave; estamos a ser governados pelos seus nervos.

Mas, eu não desejo demorar-me muito neste ponto, porque o sr. Pinheiro Chagas teve a amabilidade de se conservar na sala a meu pedido, e por isso vou já referir-me a s. exa.

S. exa. parece que estranhou o ter eu levado toes sessões a discutir o addicional de 6 por cento. Pois eu imaginava que s. exa. estaria ao meu lado, e se estaria a regosijar pelo attitude que eu tenho tomado, a fim de demorar tanto quanto possivel a approvação d'este projecto. Qual não foi, porém, a minha surpreza quando vi ha pouco, que s. exa., tambem está inflammado em ira pela minha attitude. É o caso de se dizer: Ó tempora, é mores.

Lendo o Diario das sessões de 1882, para estudar os argumentos que se apresentaram, a fim de se combater e defender um imposto analogo a este lançado pelo sr. Fontes n'essa epocha, lá encontro o sr. Pinheiro Chagas como um dos que mais atacaram o addicional então proposto, e por isso eu imaginava que s. exa. estaria agora a meu lado, porque estou praticando o que s. exa. praticou então. Combato agora, como s. exa. combateu em 1882, o addicional dos 6 por cento.

Não com prebendo como s. exa. se indigna porque eu procedo agora de modo analogo ao que s. exa. procedeu em 1882. Nem ao menos s. exa. póde allegar em sua defeza que as circumstancias do paiz são hoje mais prosperas.

Em 1882 ainda o paiz não estava devastado pelo phyloxera; n'esse tempo os terrenos produziam mais trigo que hoje, a nossa agricultura não definhava como definha hoje.

Por isso, quando vi presente o sr. Pinheiro Chagas, senti uma grande alegria, porque contava que ao menos no seu intimo applaudisse o meu procedimento, que é igual ao de S. exa. em 1882.

Enganei-me!

Foi mais uma desilluaão, porque s. exa. censura-me por que eu procedo de modo analogo ao do s. exa. em 1882! De modo que não sei em que lei hei de viver.

Se procuro imitar os mestres, são exactamente os mestres que se revoltam.

O sr. Pinheiro Chagas, que estava em 1882 na mesma posição era que eu estou agora, combatendo o addicional de 6 por cento, vem censurar-me porque eu faço o mesmo que s. exa. fez.

O sr. Pinheiro Chagas: - Eu não levei uma hora sequer.

O Orador: - É que a eloquencia do illustre deputado vale muito mais n'uma hora do que toda a minha prosa em tres dias. (Riso.)

S. exa. não podem levar a mal que eu preste a homenagem da minha admiração áquelle cavalheiro. (Apoiados.) S. exas. censuram-me por eu dizer que o sr. Pinheiro Chagas estava em 1882 nas mesmas condições em que eu estou agora.

Quando esperava ter s. exa. ao meu lado, vejo-o contra mim.

Parece-me que isto é claro.

S. exa., com a sua palavra e com a auctoridade do seu nome, atacou o addicional de 6 por cento em 1882; e agora estranha que eu faça o mesmo? Para alguma cousa ha de servir o estudar o procedimento d'aquelles, que querem dar lições.

Pois não tendo eu auctoridade hei de recorrer-me ao estudo; se eu não tenho auctoridade propria, vou estudar o que fizeram os homens mais importantes do que eu, que são todos os meus collegas. E n'este caso vou seguir par e passo as pisadas d'esses cavalheiros.

Entendi, que fazendo agora o mesmo que fez o sr. Pinheiro Chagas em 1882 n'um caso analogo andaria bem.

Vejo que me enganei.

É por isso, que o paiz não tem confiança em nós; é por

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