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Discurso que devia ler-se a pag. 43, col. 1.ª, lin. 43 da sessão n.° 7 d’este vol.

O sr. Guedes de Carvalho: — Sr. presidente, governador civil de Um districto, quinze dias antes das eleições, lendo hoje entrada n'esta casa, eu preciso declarar á camara e ao paiz a rasão por que aqui estou.

O sr. Presidente: — Parece me que não é agora occasião opportuna.

O Orador: — Estou no meu direito de dizer a rasão por que fui demittido, foi só por motivos eleitoraes.

Fui demittido, e o decreto da minha demissão, pela precipitarão com que foi dada, pela maneira por que elle se acha redigido, fez uma offensa á minha honra, lançando sobre mim um estigma, que eu preciso arredar, recáia sobre quem recaír. Esse decreto percorrendo o paiz, que diriam os meus parentes, os meus amigos, os meus conhecidos? Grande crime, grande erro administrativo ou grande falla de lealdade commetteu o governador civil do districto de Evora para Ser assim demittido! Graças porém á Divina Providencia, sr. presidente, não commetti uma cousa nem outra; não commetti crime, e a prova é que estou n'esta casa; se o tivesse commettido estaria hoje não aqui, mas entregue aos tribunaes criminaes do paiz. Não commetti erro administrativo, nem falta de cumprimento de ordens do governo, e a prova é que nem o decreto que me demittiu, nem acto algum do executivo falla n'isso. Sele annos, sr. presidente, servi de governador civil, tres districtos percorri, o primeiro foi Castello Branco para onde fui em 1851 por occasião da revolução que se operou no paiz para derribar o ministerio dos srs. conde de Thomar e Avila; quando ali cheguei encontrei grande exaltação nos animos contra todos os empregados não só da secretaria, mas de lodo o districto que haviam servido aquelle ministerio; porém eu que quando para ali fui me impuz o dever da tolerancia, principio caracteristico do governo que se ía plantar no paiz, tomei conhecimento de se os empregados satisfaziam as suas obrigações, quando vi que elles satisfaziam pedi a sua conservação a Sua Magestade para evitar as intrigas que contra elles se levantavam. (Vozes: — É verdade, apoiado.) Do secretario geral que foi demittido depois que eu lá me achava pedi a reintegração a Sua Magestade, que houve por bem concedê-la; administradores de concelho mudei muito poucos, só _ aquelles que pelo andar do tempo conheci não satisfaziam ás exigencias do serviço, ou que estavam mal vistos pelos povos que administravam; por estes factos fui alcunhado, não digo por quem, pelos patriotas exímios, de cabralista, avalista, e quantos nomes se julgavam injuriosos naquella epocha; não me importei com isso, porque a minha consciencia me dizia que obrava bem, e dei parte a quem devia, ao sr. ministro do reino de então, o sr. José Ferreira Pestana; s. ex.ª não só se dignou approvar o meu procedimento, mas elogia-lo, com isso fiquei satisfeito. Pouco tempo depois largou a pasta do reino o sr. Pestana, e tomou conta d’ella o sr. Rodrigo da Fonseca Magalhães, esse grande homem d'estado, cuja falla hoje todos deplorámos, (Apoiados.) á excepção.de alguns invejosos que tanto o calumniaram em vida porque não poderam assimilhar-se-lhe: s. ex.ª logo que tomou conta da pasta do reino escreveu-me dizendo-me que Portalegre estava sem governador civil nem secretario, e que eu faria um serviço ao paiz e em particular a elle se aceitasse a transferencia para aquelle districto. Não hesitei, fui para Portalegre, e posso aqui dizer de passagem, para prova de se a minha administração foi boa ou má, que á minha saída de Castello Branco, onde me demorei apenas tres mezes, fui acompanhado por mais de quarenta cavalheiros daquella cidade a duas leguas de distancia d’ella. Fui para Portalegre, ali encontrei as mesmas exigencias, senão com mais exaltação, pois houve algumas pessoas que se atreveram a apresentar-se me no gabinete da secretaria com uma lista de nomes dos individuos que haviam de substituir os empregados da secretaria e de todas as administrardes de concelho. Resisti a isso, rejeitei com indignação essa proposta, fiz lhes ver que eu era o responsavel pela administração do districto, e que só faria as mudanças que julgasse convenientes para a sua marcha regular. O meu procedimento foi o mesmo que em Castello Branco, procedimento que igualmente foi louvado e approvado pelo sr. Rodrigo da Fonseca Magalhães. D'ahi passei ao districto de Evora, onde encontrei tambem exigencias, mas não das que encontrei nos outros districtos, encontrei exigencias que me agradaram, eram para reformar a administração economica do districto que estava em grande embaraço por causa das guerras civis que se linham succedido. Encontrei esta boa disposição, sr. presidente, na junta geral que se reuniu logo que ali cheguei, nas camaras municipaes, nos administradores dos concelhos e em todos os particulares.

Quer v. ex.ª saber e a camara o que se fez dentro em seis annos que administrei aquelle districto em todos os ramos da administração? Eu o digo: As amas dos expostos quando eu ali cheguei deviam se treze mezes, havia uma grande divida das camaras ao cofre dos expostos e do cofre dos expostos ás camaras. Quando eu d'ali saí a divida das amas dos expostos ficou paga, e ellas pagas em dia de todos os seus vencimentos, o cofre quite com as camaras e as camaras com o cofre, e no cofre dinheiro de sobrecellentes para satisfazer a qualquer eventualidade que se désse. Havia algumas camaras municipaes, que ha doze annos não prestavam contas, nem faziam orçamentos, quando eu d'ali saí ficaram todas com os seus orçamentos approvados e regulares, e com as suas contas tomadas, áquellas que dependiam do conselho de districto. No ramo do recrutamento, quando cheguei a Evora devia o districto de recrutamentos atrazados setenta e cinco recrutas, quando saí do districto ficaram pagas essas setenta e cinco recrutas, ficaram pagos os contingentes dos seis annos -que ali estive, e lá estão vinte e tantas com praça assente no exercito para serem levadas em conta ao districto no contingente que tiver de se lhe lançar. No ramo de policia, sr. presidente, foi no meu tempo que se julgaram os presos d'esses desastrosos acontecimentos de Portel, que até ali ninguem tinha tido força para os fazer julgar, não havia juizes nem jurados para os julgar, nem testemunhas que quizessem depor contra os criminosos; ao segundo anno -da minha administração os réus foram julgados, foram todos sentenciados, e estão hoje presos na cadeia da relação para irem cumprir as penas que lhes foram impostas. No resto da policia eu consegui importantes melhoramentos, como se vê dos mappas que acompanham o meu ultimo relatorio; se se compararem estes mappas dos seis ultimos annos com os dos seis annos anteriores ver-se-ha que os crimes, que eram muitos, diminuiram na sua totalidade cem por cem. E é necessario que eu diga, que nos primeiros quatro annos da minha administração eu não pedi 5 réis ao governo para despezas de policia, fizeram-se muitas e importantes diligencias policiaes, mas foram Iodas satisfeitas á minha custa; isto consta na secretaria do reino, não venho improvisar.

Foi no meu tempo que o districto de Evora foi invadido da cholera morbus, que fez grandes estragos em differentes localidades.

Eu pedi e consegui reunir todos os facultativos da cidade os quaes a pedido meu, honra lhes seja feita, se comprometteram a ir curar os doentes ao hospital gratuitamente. A cholera morbus atacou varios pontos do districto, a todos se acudiu, os soccorros não fallaram e no meio de tudo isto o cofre do estado apenas gastou 120$000 réis, como consta dos respectivos mappas que juntos ao meu relatorio mandei para o ministerio do reino; o estado gastou só 120000 réis, tudo o mais foi gratuitamente, tudo o mais foi á custa