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priedades; e dentro em poucos annos as formosas quintas do Douro offereceriam um espectaculo de ruina e desolação, como a terra sobre que passou a ira de Deos.

É verdade que o commercio dos vinhos do Douro nem sempre correu por entre as flores da prosperidade; mas tambem é certo que nunca chegou a um estado de definhamento, como o que actualmente se observa.

O vinho é a producção quasi unica do Alto Douro, as suas aridas collinas não se prestam a outra sorte de cultura, se a vinha morrer, morre o lavrador, e este desgraçado acontecimento lança um reflexo melancolico em toda a nação; porque, na limitada superficie de doze a quatorze legoas quadradas, o nosso paiz vinhateiro produz avultadissimos valores, consome em grande escala os nossos cereaes, legumes, e outros generos, entretém milhares de braços, e contribue com mais de 400 contos de réis para as despezas do Estado.

Ha longos annos que a nossa boa estrella vai perdendo o seu glorioso brilho — perdemos a maior e melhor parte das nossas possessões do Ultramar — as nossas formosas armadas deixaram de existir — o nosso commercio esmorecido lamenta o perdimento da sua opulencia e grandeza — e se o Douro succumbir cairá da corôa portugueza a sua ultima e mais preciosa joia.

Cumpre por tanto oppôr uma barreira ao progresso de um mal tão grave, em si, e nas suas consequencias, urge auxiliar com mão firme e protectora a industria agricola do Douro, que no seu leito de lagrimas soffre as agonias do passamento.

Mas se facil e claramente se patentêa este extenso e profundo soffrimento, nem por isso se póde atinar prestes com remedio prompto e efficaz. E tambem ninguem o exigirá, porque a todos é evidente a profundeza e gravidade da ferida. Uma longa serie de causas, assim ordinarias, como extraordinarias, tem actuado em sentido adverso ao Douro — e nem se podem destruir rapidamente os resultados do mal amontoados pelo correr dos annos — nem e dado ao poder do homem desviar os acontecimentos do caminho traçado pela Providencia.

O que o Douro deseja, e tem direito a exigir, é apenas um lenitivo, uma escora, que o não deixe precipitar nos abysmos da desgraça — bonança e prosperidade, se forem possiveis, só o tempo as póde trazer.

Sem que eu tenha a louca vaidade de resolver uma questão, que envolve tantos interesses, que exige tantas combinações, e que na variedade e encontro das opiniões patentêa a sua grande difficuldade, julguei do meu dever dedicar as minhas meditações a este assumpto, e apresentar com boa fé e sinceridade um trabalho, que não terá de bom mais do que a significação do ardentissimo desejo de ser util aos meus constituintes, que me honraram com a sua confiança.

Póde fazer-se uma larga exposição das causas eficientes da decadencia do commercio dos vinhos do Douro, porque são muitas; mas em resumo todas ellas exprimem um facto = é maior a producção do que o consummo. — Diminuir a producção, augmentar o consummo, e fundar o credito agricola — são os tres pontos, que constituem o problema, cuja resolução póde trazer no presente o suspirado allivio, e no futuro importantes e vantajosos resultados.

«Diminuir a producção.» — Para estabelecer o equilibrio entre a producção e o consummo, é indispensavel cercear aquella, e dilatar este. A producção deve cercear-se por intervenção de medidas indirectas, que tendam a este fim; porque seria impotente qualquer esfôrço, seria até um attentado contra o direito de propriedade obrigar os lavradores a destruir parte das suas vinhas.

A producção demasiada em relação ao consummo origina a morte de todas as industrias, nas quaes se verifica esta circumstancia — é o excesso da vida e do sangue, que fatiga e enerva todos os elementos da acção economica.

Sendo certo que a abundancia traz o barateio, é claro que o lavrador deve levar á feira unicamente a porção de vinho, que tiver venda provavel; mas para esta operação se realisar com vantagem, cumpre que a companhia extraia o resto da novidade, por um preço, que apenas cubra a despeza do grangeio, e que não alente a cultura de um genero superfluo, que fatiga as forças do agricultor, e entulha os mercados.

Deste facto hão de manar infallivelmente duas consequencias de muito proveito: 1.º o preço baixo porque a companhia compra, habilita-a para emprezas commerciaes ainda as mais arriscadas: 2.º o preço baixo porque o lavrador vende, ha de faze-lo reflectir na inutilidade da sua demasiada colheita, e força-lo a destruir aquella porção de vinha, que produz o superfluo sobre as forças do mercado.

a Augmentar o consummo.» — O consummo, ou exportação dos vinhos do Douro, póde ter incremento pela adopção de varias medidas.

A primeira, e mais proficua, que deve tentar-se, consiste na diminuição dos direitos que os nossos vinhos pagam nos portos estrangeiros. Mas a remoção destas funestas barreiras pertence ao Governo pela negociação de tractados justos — aquelle que os ultimar, merecerá uma estatua gloriosa, que perpetue a memoria de seus nomes.

Abrir novos mercados é outro meio de augmentar o consummo; mas estas tentativas de exportação só as póde fazer uma companhia forte e poderosa, e por isso convem collocar a actual companhia em uma posição firme, dando-lhe uma lei claramente definida e inalteravel, que sirva de base solida ao seu credito, cujos abalos fariam perecer as mais lisonjeiras e fundadas esperanças, tornando inefficazes os maiores, e mais penosos sacrificios.

Esta companhia, competentemente habilitada, levará o nosso vinho aos differentes portos de todo o Mundo; porque, pondo fóra da concorrencia quaesquer competidores, tem um braço robusto para arrostar as eventualidades de varia fortuna, a que estão sujeitas todas as especulações commerciaes.

Para se tirar todo o proveito do estabelecimento da companhia, convém que ella seja inhibida de exportar para Inglaterra, e Brazil; por quanto seria grande absurdo habilitar a companhia com poderosos meios para fazer o commercio ordinario e seguro.

Conservar a pureza, e bem merecida reputação do vinho do Alto Douro, ha de necessariamente influir não só na sua procura, mas na subida, e sustentação do seu preço. A queima no Douro de 25:000 pipas de vinho de inferior qualidade, preenchendo parte desta indicação, offerece, além de muitas outras, as seguintes vantagens: