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março apresentou um cidadão que tem loja de cambio na rua do Amparo por nome — Campião — entre muitas notas que levava, porque ía fazer um pagamento ao Banco, aquella nota a que se allude; mas os empregado, pela pratica que tem de correr com aquelle papel, conheceram com muita facilidade que ella estava falsificada, e duvidaram della com muita razão. A nota era d'uma moeda, estampada em azul, e com a designação de moeda de cobre; mas esta nota tinha já sido trancada com tinta preta, e por um processo chimico, que é muito conhecido por todos, isto é, com o sal d'azedas tiraram a tinta, mas muito imperfeitamente, porque ficavam ainda os vestigios não só da tinta, mas de todo o processo, por que a nota apresentava uma cruz branca na parte por onde tinha corrido a tal preparação, vendo-se ao mesmo tempo, ainda em alguns sitios, os riscos de tinta preta. Além disto tambem não tinha as assignaturas dos directores, porque como são feitas com a tinta vulgar, desappareceram igualmente com o tal acido; é ao mesmo tempo acontecia, que a nota estava com certas manchas amarelladas, que é o effeito que produz a agoa forte, em que são mettidas antes de se lançarem ao fogo para que as chamas possam mais rapidamente consumi-las. Já se vê que um papel com estes vestigios não podia deixar de fazer-se reparado, e que o empregado teve toda a razão em fazer, o que se costuma alli fazer em taes casos, que vem a ser: quando se apresenta algum titulo, sobre que ha suspeita, obriga-se o portador a assignar nas costas delle; para que não diga depois que lho trocaram, e com effeito naquella nota esta assignado nas costas o nome do portador, para que a todo o tempo a conheça. — Examinando-se depois este negocio, conheceu-se que a nota tinha pertencido á amortisação que teve logar em novembro de 1847; em vista do que o Banco de Portugal pegou nesta nota, e com uma respeitosa representação, que dirigiu á Junta do Credito Publico, enviou-lha, pedindo providencias, para que não se repetisse este aso, que podia dar suspeitas, de que senão dava execução á lei, que determina a extincção das notas do Banco de Lisboa.

É preciso notar, que aquelle papel tinha tambem o vestigio da queima, porque tinha uma orla, que mostrava estar principiada a queimar em differentes sitios. Ora, Sr. Presidente, talvez o que devera ter-se feito, era o Banco, fundado no direito que lhe dá a sua carta organica, praticar o que se costuma praticar com os falsificadores, e os portadores de titulos falsos, e devia ter mandado o individuo á auctoridade competente, e esta autua-lo, e depois remette-lo ao juizo respectivo; mas pareceu, que nisto não havia dólo, e pareceu, que o individuo deveria ler a prudencia de calar-se; mas não aconteceu assim. — Ora o Sr. Deputado pelo Algarve, quando fallou neste assumpto, fez uma injustiça ao Banco, porque disse «appareceu um portador com uma nota, e os directores tiraram-lha. 5» É necessario não ter entrado no Banco, para se dizer similhante cousa; poderia ser que não se dissesse isto, mas eu vejo-o escripto no Diario do Governo; entretanto a Camara tem meio de saber a exactidão deste tacto pela sua commissão de Inquerito; apesar de me parecer não ser necessario incumbi-la deste negocio, porque os illustres Deputados podem ir alli, e verão que os directores não põem mão em dinheiro.

Sr. Presidente, aquelle estabelecimento acha-se montado d'uma maneira tal, que seria para desejar, que assim estivessem todas as repartições fiscaes do Estado; alli ha um escriptorio aonde estão os directores, e quem tem de fazer alguma transacção, dirige-se a elles, e depois de concluida o contractante recebe uma ordem, com a qual vai á thesouraria, para receber ou para pagar; por conseguinte sendo isto assim, como é possivel, indo o portador da nota á thesouraria, que o director lançasse mão daquelle titulo? Ora a Camara com este facto deve estar inteiramente satisfeita, porque d'este facto resulta a conclusão muitissimo favoravel ao credito publico, de que ha a maior fiscalisação neste negocio. Foi uma fatalidade, que essa nota apparecesse; mas ao mesmo tempo prova, que se succedesse, o que não é de esperar, que a Junta do Credito Publico não queimasse algumas notas; na occasião em que ellas apparecessem no Banco, elle era o primeiro, que podia provar o dia, em que devia ter sido queimada; mas isto não póde mesmo acontecer, por que todos sabem que tem sido convidadas muitas pessoas a assistir a esse acto, e que são contadas as notas pelos mesmos cidadãos que alli apparecem; eu já lá vi alguns dos illustres Deputados, que se acham nesta Camara, e que não são membros da Junta, que podem dar testemunho, de que as notas são contadas uma a uma, e depois são entregues a um empregado, o qual vai acompanhado de todas as pessoas, que alli se acham no Terreiro do Paço, e alli se faz a queima em presença de todos. Ora se a queima fosse feita, como era a do papel moeda, que era ammassado, poderia haver a suspeita de que não se tinham queimado, senão os papelões que tinha por fóra, e não o papel moeda; mas as notas vão abertas, para que todos as conheçam, e por isso aconteceu, que no dia 27 do mez de novembro, como fazia muito vento, não obstante terem sido mettidas na agoa forte, para as chamas as consumirem rapidamente, assim mesmo, como o vento, era forte, levou duas ou tres pelo ar, immediatamente os individuos, que alli se achavam apanharam duas, mas uma terceira não pode ser apanhada; e é esta a que se apresentou. Ora o portador devia ler mais cuidado, por que todos os dias faz transacções com as notas, e bem havia de ver, que ella não era verdadeira, mas o espirito de agiotagem talvez lha fizesse comprar mesmo assim, por preço muito baixo, para depois a fazer valer o seu representativo.

Eu com está explicação dou uma satisfação á Camara, e á Nação, de que não deve receiar que o processo da queima das notas não tenha sido feito regularmente; elle não pertence ao Banco, mas eu fallando em defeza da Junta do Credito Publico cumpro com o meu dever, e a Camara me fará a justiça de relevar este tempo que lhe occupei, porque me pareceu conveniente não dever demorar esta declaração. Por esta occasião annuncio, que a Junta convida a todos os cidadãos a irem ver a nota, para conhecerem que esta inteiramente viciada.

O Sr. Cunha Sotto-Maior: — Sr. Presidente, eu fui quem trouxe hontem esta questão á Camara, por que lendo um jornal, vi que não só elle, mas todos tractavam deste acontecimento, e parecendo-me importante, entendi que era da minha obrigação traze-lo á Camara. Diz-se que fôra um portador com varias notas ao Banco, e que os directores lhe