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Discurso que devia lêr-se a pag.354, col. 1.ª,lin.29,da sessão nº 21 d'este vol.

O Sr. Paulo Romeiro: — Sr. presidente, desejára ceder da palavra, mas não o posso nem o devo fazer. Uso d'ella constrangido e violentado."A discussão perdeu já toda a sua placidez e serenidade, e nós os homens que pretendiamos esclarecer a nossa consciencia por ella, somos forçados a protestar contra esta pretenção que se manifesta, de levar de assalto uma questão tão grave, Ião transcendente, como nenhuma outra que aqui se tem tratado este anno.

Curvâmo-nos respeitosamente á decisão da camara, mas queremos deixar aqui bem consignados os nossos votos, bem salientes os nossos esforços, bem demonstrados os nossos escrupulos, para que o paiz, o futuro e os eleitores que representàmos, nos não peçam a responsabilidade que não temos.

Sr. presidente, as explicações dadas pelos srs. Ministros não me satisfazem na sua maior parte. Sr. ex.ª' deixaram em silêncio os esclarecimentos que eu provoquei, e alguns dos quaes são para mim pontos de honra. Eu não quero pôr o districto de Leiria fóra da esperança de ler um caminho-de-ferro. Pião o ha de empheudar com o meu voto ao monopolio que vejo no contrato que se discute.

O silencio do nobre ministro negociador d'esse contrato auctorisa as minhas apprehensões. As explicações que provoquei não lhe mereceram resposta. Contraria-me pouco a desconsideração havida com o deputado, mas sinto a desconsideração havida com o districto que elle representa.

Hesitei por algum tempo, se a interpretação que eu dava ao artigo 7.º Era a verdadeira. Duvidando de mim, recorri a homem technico pára me esclarecer. Vir a desaccordo comigo': agora já me não restam dúvidas; o silêncio do governo diz tudo. Não posso, não devo, não darei nunca o meu volo contra os interesses do districto que me honrou com a sua confiança, á custa de tantas suggestões e arbitrariedades do poder. É assim que posso corresponder á sua dedicação e á Sua generosidade para comigo. Receba elle n'este procedimento, Ião leal e sincero como a minha consciencia, um testemunho do meu profundo reconhecimento.

Sr. presidente, tambem eu quero e desejo os caminhos-de-ferro, tanto como os srs. Ministros, tanto como qualquer dos illustres deputados os querem e podem desejar. (Apoiados.) Mas o que eu não quero é comprometter sem um exame detido e circumspecto o futuro d'esta terra, nem pôr o districto que represento, Ião rico de elementos, de prosperidade e de engrandecimento, fóra da possibilidade de os poder desenvolver e aproveitar. A minha consciencia oppõe-se a isto, e a minha consciencia para mim é a primeira divindade na terra. (Vozes: — Muito bem.) Posso estar em erro, mas quero que me convençam d'isso pela discussão, e não pelo silencio.

O nobre ministro das obras publicas entendeu não dever responder uma só palavra às observações que eu fiz sobre o excesso das tarifas, e sobre o reprehensivel esquecimento que houve n’ellas, em attender ao transporte dos operarios agricolas.

S. ex.ª revelou aqui uma cousa de que eu já desconfiava: deu-nos a entender que tinha ido ao contrato do sr. Hislop copiar as condições d’este ajuste. Ainda n’este ponto, a classe pobre e a classe agricola, que deveriam merecer toda a nossa protecção e desvelo, foram completamente desattendidas. Veja a camara como se comprehende a grande missão dos caminhos-de-ferro!

Suscitei outra questão, que tambem ficou sem resposta. Refiro-me á pensão vitalicia das 1:000 libras annuaes concedida pela companhia de leste ao sr. Hislop. Pois nós que regateâmos aqui as pensões das viuvas e dos orphãos dos servidores do estado, havemos de reconhecer uma pensão d'este vulto a um estrangeiro que nos fez mais de serviços do que serviços, na grave questão dos caminhos-de-ferro? % Assim que se zela a bolsa do povo?

Sr. presidente, se me não ferve o sangue nas veias, como disse ha pouco um dos meus illustres collegas e amigos, que eu vejo com prazer combater tão denodadamente ao meu lado. Bale-me o coração de indignação por ver que questões d'esta ordem e d’esta magnitude se querem levar de assalto e de surpreza. A camara resolvendo a prorogação da sessão estava no uso dos seus direitos. Respeito a sua resolução, como me cumpre, mas peço que me permitta que observe a incoherencia em que incorreu com os precedentes seguidos a respeito de questões muito menos transcendentes do que esta.

Pois quando se achavam inscriptos tantos oradores... (Vozes: — Onze oradores.) Sejam os que forem; quando se achava inscripto um cavalheiro que a camara póstuma sempre ouvir com especial attenção, e que precisa de tomar parte n'esta discussão, porque foi membro da administrarão transacta, a quem s. Ex.ª o sr. Ministro da fazenda attribuiu nas suas explicações as maiores durezas d’este contrato...

O sr. Ministro da Fazenda: — Eu não o entendo assim, nem nas considerações que apresentei fiz a menor referencia ao cavalheiro a quem o nobre deputado se refere. Não admitto que o nobre deputado seja interprete, n’este sentido, das minhas opiniões.

O Orador: — Tanto aquelle cavalheiro como V. Ex.ª o podem entender como quizerem; mas a verdade é que o nobre' ministro na história que fez da companhia de leste, e na enumeração das difficuldades que foi obrigado a aceitar como herança forçada, poz aquelle cavalheiro na posição de explicar-se sobre factos que podem ser dó dominio de muita genio, mas de que não estão esclarecidos alguns membros d’esta casu. Estou convencido de que o illustre cavalheiro a quem me refiro hão deixará de nos dar n'esta occasião os esclarecimentos de que precisâmos.

O meu nobre amigo o sr. Cordeiro tratou, com a proficiencia com que costuma, a questão de direitos. Pugnando pelo' districo que tão dignamente representa, pugnou tambem pelos interêsses do paiz,porque na directriz que lembrou não interessa só o districto de Leiria, interessa tambem á paiz pelas muitas rasões especiaes que citou, e que influem consideravelmente no futuro d'esta questão. Está affecta a esta camara uma proposta do governo para o auctorisâmos a gastar 80:000$000 réis na construcção de uma estrada de madeira da floresta de Leiria ao porto de S. Martinho. Entre outras rasões haveria a da economia d'essa despeza,e de outra não menos avultada, que é a da madeira que se ha de gastar n'essa construcção, adoptada que fosse uma directriz mais nacional, mais barata, direi mesmo mais economica em toda a extensão da palavra, no caminho de ferro que agora se discute. Pois questões d’esta ordem passam aqui sem discussão, sem systema, sem pensamento? Já que não mereceram a attenção do governo, não deverão acaso merecer a nossa?

Sr. presidente, sobre o contrato eu tinha ainda muito que dizer, e especialmente sobre o artigo 3.°, que se refere aos empreiteiros Shaw e Waring. Mas visto que a camara entendeu dever terminar hoje esta discussão, e não conveiu em que ella se adiasse para as nove horas, como propuz, entendo que não esta disposta a consentir maior debate n'esta questão.

Estou fatigado. Não tenho força para mais. Nunca vim a esta casa Ião doente como hoje. Chamava-me aqui um dever de honra e de lealdade. Cumpri-o o melhor que pude. O districto que me elegeu fará justiça ao meu esforço. Defendi quanto pude os seus interesses conjuntamente com os interêsses do paiz, como eu os entendo. Disputei este terreno ao lado dos meus amigos, palmo a palmo. Estou quite com a minha consciencia, tenho terminado.