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ceder a proposta que o anno passado a Camara votou; porque effectivamente o conhecimento pratico, que adquiri das cousas de theatro, me demonstrou que os subsidios votados pela Camara na sessão passada eram mesquinhos. Não podemos ter um theatro lyrico em Lisboa sem o subsidiar; e por esta occasião direi que as assignaturas do theatro lyrico são assignaturas de chapa; porque os homens que vejo no theatro de S. Carlos uma vez, vejo-os sempre, isto poucas excepções, as quaes não devem ser tomadas em linha de conta.

A maior parte das pessoas de certa classe não querem ír ao theatro lyrico, porque dizem que não o entendem, e preferem ír ao theatro portuguez, por que conhecem mais aquella lingoagem. O theatro portuguez teve um presente, tem casa, e verdade, mas este presente foi funesto, porque as despezas e mantença desta casa é extremamente cara. É facto averiguado por mim que a empreza d'aquelle theatro recebia grande vantagens antes de receber a nova casa; mas depois disto tem luctado com a miseria e a fome, por isso que as despezas são grandes e os espectadores poucos: ultimamente os grandes espectaculos e que tem dado alguma concorrencia; esta provado que opera, aonde não entram cavallos, não e frequentada mais que duas ou tres vezes (riso) Os theatros não os tômo só como escóla de moralidade, tomo-os como uma diversão necessaria n'uma capital como esta: tambem os não considero como emprezas lucrativas, mas considero-os como estimulo para os auctores e actores. A França vota uma verba para os actores que se distinguem, e outra para os auctores que dão provas do seu merecimento. Devemos pois estimular os auctores; ha moços de grandes esperanças entre nós, e alguns já conhecidos na scena portugueza (apoiados)) para estes e que eu quero todo o estimulo possivel, por que o facto é que as emprezas hoje não podem dar lucros a estes homens Por tanto accedendo a proposta da commissão, não tenho duvida em votar pelos subsidios propostos.

Agora pelo que toca ao theatro do Porto, digo que 2 contos não chegam para nada; e quantia maior não se póde dar na actualidade das circumstancias: por tanto o meu parecer é que deixemos as cousas no estado em que estão, guardadas as devidas proporções; e direi como Sá de Miranda — «Se este março não foi ancho, outro víra melhorado — é possivel que no anno seguinte possamos ser mais largos a este respeito. Direi mais, Lisboa esta em circumstancias especiaes, a cidade de Lisboa esta de tal modo sobrecarregada, que é preciso ter com ella grande contemplação: se no systema que se propuzer, eu não vir que ha alguma consideração para com o nosso estado, na verdade lamentavel, eu direi que nem ao theatro se póde conceder a verba que esta proposta

Sr. Presidente, esta discussão tem levado muito tempo, e eu não quero ser arguido de a alargar; a sessão esta para fechar-se; não quero ser accusado de protrahir as questões; mas em quanto a theatros entendo que não podemos votar mais do que a verba que esta proposta, e nesse sentido declaro que approvarei a proposta inicial da commissão.

O Sr. Silva Cabral (Sobre a ordem): — É para pedir a V. Ex.ª que tenha a bondade de mandar ler as propostas, que estão na Mesa: ellas são tão numerosas e variadas, que não é possivel conserva-las na memoria, e mesmo algumas dellas talvez não sejam conhecidas por alguns illustres Deputados, por que foram apresentadas em occasião, que elles não estavam na Camara para que se possa estabelecer a discussão de uma maneira precisa, e se não divagueie sobre os differentes pontos, pedirei a V. Ex.ª que tenha a bondade de mandar ler as propostas a fim de que os Srs. Deputados que hão de fallar (entre os quaes creio que tambem estou inscripto) possam ter conhecimento do objecto, que teem a discutir.

O Sr. Presidente — Vão-se lêr as propostas; com tudo ellas veem no extracto da sessão. (Lêram-se)

O Sr. Lopes de Lima: — (Sobre a ordem) Sr. Presidente, já lá estão bastantes propostas, mas receiando que não me chegue a palavra sobre a materia, e porque votei contra a verba destinada para as obras do Terreiro do Paço, por isso que desejo economias, apresento mais uma proposta que é esta

Emenda — Proponho o subsidio de 12:000$000 para o theatro de S. Carlos em Lisboa; e 2:000$ para o theatro de S. João no Porto. — Lopes de Lima.

Foi admittida por 38 votos contra 23, e ficou em discussão conjunctamente com o artigo

O Sr. Mello Gouvêa — Sr. Presidente, o theatro lyrico não póde contentar o publico, nem satisfazer medianamente aos fins da sua instituição, sem ter, pelo menos, uma companhia como a deste anno, que não passando de soffrivel, assim mesmo e tão custosa á empreza, e as pessoas habituadas a frequentarem o theatro, e por isso habilitadas a compararem a receita, e a despeza provaveis deste estabelecimento, veem claramente as difficuldades de o sustentar com um subsidio menor, do que o proposto no orçamento

Felizmente a Camara reconhece as vantagens que para as bellas-artes, e para os costumes publicos se colhem do theatro lyrico, e não receio portanto que se supprima o subsidio proposto, ou que este seja reduzido a 12:000$000 réis, o que, como já disse o Sr. Presidente do Conselho, teria os mesmos resultados. Porem devo declarar, que tambem não admitto a dedução dos 2:000$000 réis, com que se pertende subsidiar o theatro de S. João do Porto, porque me parece que a diminuição desta quantia, posto que pequena, ha de fornecer pretextos, para que o theatro de S. Carlos não seja bem servido.

Não me opponho com tudo a que se vote um subsidio para o theatro lyrico do Porto, porque não hei de ser contradictorio, sustentando a integridade do subsidio proposto para o de S. Carlos, pelas conveniencias sociaes, que delle resultam, e impedindo que as colha similhantes uma cidade, que pelo seu commercio e população se eleva já a taes condições de grandeza, que merece do Parlamento attenção especial para todos os pontos, que entendam com a sua civilisação; quero porém que se estabeleça no orçamento uma verba nova, applicada para este subsidio. Se a Cidade Eterna não precisa do Thesouro mais do que o pequeno auxilio de 2:000$000 réis para sustentar um theatro lyrico, não ha razão fundada para lh'o negar, nem mesmo se póde adduzir o estafado argumento do atrazo dos pagamentos, os quaes seguramente não se hão de pôr em dia com essa quantia; e quando e certo que o atrazo dos pagamentos ha de cessar, quando o numero dos empregados for reduzido ao indispensavel, e os dinhei-