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Calcule-se sobre as quantidades enormes de capitaes pertencentes a estrangeiros, principalmente do Brazil que tinham vindo aqui buscar emprego, quando fundada ou infundadamente julgavam paz e prosperidade nesta terra, e que depois realisaram grandes perdas, indo procurar mais tenues, mas mais seguros lucros em terra estranha (apoiados).

Calcule-se na enormidade de capitaes que vieram á circulação activa desde o anno de 1841 a 1845, em que diversas companhias se estabeleceram, e por meio d'acções reuniram-se os capitaes mais ambicioso interessados nessas companhias, e esses capitaes passaram de 4:500 contos.

Pelo meio de notas promissorias reuniram-se 3 mil e quinhentos contos de capitaes mais seguros, capitaes que muitos eram de emprego transitorio, para depois serem applicados a outras operações commerciaes, industriaes e agricolas; e finalmente centos de contos de réis de capitaes mais humildes, que foram depositados na caixas economicas da companhia Confiança e União Commercial, por isso que appareceram rêdes de todos os tamanhos, para que nada escapasse á pesca geral dos capitaes (apoiados).

Os capitaes assim reunidos estão hoje convertidos ou em notas do Banco de Lisboa, ou em creditos sobre o Governo.

Calcule-se finalmente sobre tudo isto, e dedusa-se qualquer duplicação, que neste calculo possa existir, e depois ha de forçosamente concluir-se, que com tantas sangrias dadas no corpo circulante, elle hade forçosamente re3sentir-se da falta de vida (apoiados).

E pois da primeira intuição que todos os nossos esforços devem ser tendentes a augmentar o meio circulante, por que sem isso a circulação não póde estabelecer-se como o precisam os progressos da civilisação, como o exigem as necessidades de toda a casta, assim para o commercio, como para a industria e para a agricultura.

— Parece-me que será inutil entrar em mais longa demonstração, e posso sem temeridade dizer que as notas longe de impedirem a baixa do preço do dinheiro, hão de promove-la, se forem chamadas a ella em maior escala, bem como que temos deficiencia de meio circulante.

Depois de todas as conclusões, que acabo de tirar, como e que se póde dizer que as notas impedem a organisação financeira? Pois se ellas não dão perdas ao Governo; se ellas lhe libertam somma de penhores, que tem depositados no Banco; se ellas podem augmentar o meio circulante, e por isso concorrerem para a baixa do preço do dinheiro: como se poderá dizer que as notas estorvam a organisação financeira? E sobre a organisação financeira muito desejára eu ter as esperanças dos illustres Deputados, mas estou já cançado de ouvir fallar na organisação financeira, nesta palavra magica tantas vezes repetida, e outras tantas mentida! A organisação financeira é coisa extremamente difficil, e mal irá ella por este caminho, se para isso se principiar por quebrar a boa fé do Governo; por faltar aos compromissos mais sagrados; e por estabelecer um imposto novo vexatorio, injusto e desigual (apoiados).

Já um illustre Deputado por Vizeu fez graves reflexões a este respeito, e pouco poderei accrescentar no que S. S.ª disse; com tudo observarei que na desigualdade, em que se acham os tributos, havendo provincias inteiras dobradamente oneradas em comparação de outras, havendo um tributo enorme sobre o consumo dos vinhos e das carnes em Lisboa; havendo outros tributos condemnados pelos mais santos principios da sciencia, quererão os que sustentam este projecto, lançar a esmo, sem distincção, um tributo novo?

Julgais ter principiado a organisação financeira? Pois bem; completai-a: em logar de 10, lançai 20, 30, 40 por cento de imposto addicional, e o deficit está coberto; a abundancia sairá dos cofres do thesouro; os empregados estarão satisfeitos; as obras publicas se abrirão grande escala; os caminhos de ferro cobrirão o paiz; e a industria, o commercio, as artes e a sciencia prosperarão! Mas tudo isso não passará do papel: aos impostos grandes o contrabando lhes porá o veto; — aos absurdos os contribuintes lhe porão o seu.

Sr. Presidente, a occasião para se lançar assim um tributo novo, não póde ser mais mal escolhida. Lá esta o Governo de Hespanha, pedindo ser auctorisado, para admittir os algodões. Vede o futuro que nos espera: a escacez dos rendimentos das nossas alfandegas, e o contrabando pela raia secca, uma grande ruina para o nosso paiz: augmentar, augmentar os direitos sobre os algodões, em vez de o deminuir!

Para a organisação financeira é necessario primeiro que tudo expurgar estes habitos inveterados e infestos — galvanisar esses membros gastos do corpo social — e estabelecer nelle a circulação da vida em harmonia com todas as suas partes. Depois emprehender as grandes reformas. Não estas reformas mesquinhas de cem réis, e de um cruzado no tempo ordenado do empregado publico; mas sim no numero e na qualidade. Simplificai o serviço; apurai as cobranças; puni os prevaricadores; corregi os desleixados, redusi o exercito e as despezas publicas. Ide aos tributos, corregi os absurdos, e lançar abaixo o subsidio litterario, que damnifica a nossa producção agricola; redusi pelo menos a metade o imposto das sizas; redusi ao menos a metade muitos dos impostos das Sete Casas, anniquillar o monopolio do sabão, fazei um reforma prudente nas nossas pautas, reparar a desigualdade dos tributos directos; aboli os direitos de exportação dos vinhos do Porto; e quando tiverdes convencido os contribuintes da verdadeira, economica, e justa applicação dos dinheiros publicos, pedi-lhes então as quantias, que precisardes, não só para cobrir o deficit, mas para abrir estradas, para fomentar a prosperidade das nossas Colonia6, para, n'uma palavra, lançar á terra as sementes de um melhor futuro.

Deste modo sim poderá haver alguma esperança na organisação financeira; mas pela doutrina do projecto, em logar de facilitar-se, difficulta-se immenso a organisação financeira.

Mas disse-se tambem, que o curso forçado das notas na circulação é o incentivo para a continuação dos emprestimos, e que difficultava meios ao Governo. Não posso combinar estas duas proposições, que repetidas ou pela mesma bocca, ou pelos individuos, que sustentam o projecto, se destroem mutuamente

Se o Governo não precisa de emprestimos — se não quer continuar nesse systema — não ha incentivo, por