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capazes de tractar deste assumpto; entre elles estão parentes d'uma Familia da primeira distincção em Portugal; a Casa de Marialvas, que tanto presou a Arte da Cavallaria, e tantos applausos mereceu ao Povo Portuguez; é provavel que seus descendentes que aqui se acham tenham continuado a cultivar a mesma Arte; por isso que em todos os Paizes civilisados a creação dos cavallos, e o gosto pela Pintura foram sempre um dos apanagios da primeira nobreza.

O Sr. Conde de Linhares: — A fallar a verdade, eu não intendo bem o que se pertende fazer com o estabelecimento de Caudelarias que propõe o Digno Par. Parece-me que o melhor meio de crear cavallos, é deixando a liberdade a cada um de os crear, por conveniencia propria; formar estabelecimentos para taes fins, parece-me subjeito a mais inconvenientes que vantagens: é provado em agricultura, que a terra que é cultivada em pastos artificiaes, produz muito mais abundantemente estes, do que quando elles são naturaes, e no primeiro caso sustenta muito maior numero de animaes do que no segundo; e por tanto a idéa de sacrificar vastos campos unicamente á creação de cavallos, não me parece conveniente em um paiz de pouca extensão; o melhor é deixar esta empreza a particulares; salvo se houvesse pastos naturaes propriamente do Estado. O systema antigo de Caudelarias era violento, e que produzio? De certo muito poucos resultados. O paiz em que se criam melhores cavallos, é sempre aquelle em que isto se faz por emprezas particulares.

O Sr. Conde, da Taipa: — Eu creio que a indicação do Sr. Sarmento não tem em vista estabelecer um sistema de Caudelarias como aquelle que acabou; tem em vista o animar os Lavradores a que criem cavallos. — Ora isto não se póde fazer sem se estabelecerem os meios, sem se lhes ensinar como hãode semear os seus pastos para que as raças se engrossem, e se tornem mais proprias para o trabalho; para as melhorar é preciso mandar buscar cavallos fóra do Reino, e isto não se póde fazer em Portugal por meio do Capitalistas, porque não existe por ora o espirito de associação; é preciso haver em cada Provincia um deposito de cavallos paes, e que se dê um premio a quem appresentar melhores potros. — É necessario tambem haver uma Commissão, que escreva sobre pastagens, porque estas são as que tem a maior influencia sobre a creação dos cavallos. Eu vi nas publicações da lavoura de Roville à differença que fazia um cavallo criado com trêvo, era outro animal de que criado com outro qualquer pasto; porém os Lavradores de Tras-os-Montes, ou de outra qualquer Provincia, não sabem isto, é preciso que se lhes diga, e que se faça um estabelecimento de cavallos paes, aonde elle mande cobrir a sua egoa, porque um Lavrador póde ter uma egoa muito boa, mas não tem 500 ou 600 mil réis para mandar vir um Estalão de fóra do Paiz; em consequencia para principiar a apurar as raças é preciso isto, quem instrua sobre os pastos, e um deposito de cavallos paes em cada Provincia. E quem é que o hade fazer? Quem hade mandar vir cavallos de fora? Alguma Sociedade Fhilanthopica, ou de Caridade? Não. Hade ser uma Sociedade que interesse. Portugal não está em estado de ter Sociedades desta natureza, e então é o Governo quem o deve fazer, porque é muito util; nós estamos sem cavallos; ha muita gente que os quer comprar, e não se acham. — Portugal é muito proprio para esta creação, porém pela ignorancia do Paiz tem-se perdido as raças, porque não ha pessoas que tenham os conhecimentos precisos sobre este ramo. Por tanto é necessario, torno a dizer, que o Governo faça alguma cousa para animar a industria e o commercio, porque Portugal está em tal estado de decadencia, que cada um está gastando o seu capital em forma de renda, e ninguem capitalisa della, e é necessario que o Governo faça alguma cousa; porque o nosso estado social não offerece ainda a segurança de propriedade para cada um arriscar os seus capitaes. Portanto concluo votando a favor da indicação, que acho muito util.

O Sr. Sarmento: — Sobre a Ordem. — Agradeço muito ao Digno Par o ter apoiado a minha Indicação; entretanto parece que a discussão se vai convertendo ao ponto principal; mas é preciso que antes se decida se ella tem ou não de ser admittida. Vejo, pelas opiniões emittidas por alguns dos Dignos Pares, o acerto com que fiz esta Indicação, e isso me faz tambem insistir em que passe a uma Commissão, por quanto se verifica o que eu pensava; isto é, haver aqui pessoas muito intendidas na materia, que poderão tratala de vagar, visto que o negocio, ainda que importante, não é urgente; serão necessarias muitas informações, e até talvez de Inglaterra, e outros Paizes. — Desejo porém se não perca de vista, que segundo a frase da minha Indicação, não fallo em Caudelarias no sentido da accepção, que esta palavra tinha nos tempos antigos, cujo methodo era muito proprio do systema militar, que dominava em a Nação, e a que a obrigavam os seus pequenos recursos, para ter á mão todos os elementos de defensa militar, sem os haver por meios violentos, julgando-se que o fim justificava o emprego destes. — O que peço pois aos Dignos Pares é o estabelecimento da Commissão, que proponho, cujo objecto por qualquer lado que se olhe, é de grave importancia. A França está actualmente fazendo os maiores esforços a este respeito; tanto o Governo, como os particulares, e um dos maiores commercios que ha hoje em Inglaterra é a exportação dos cavallos para aquelle Paiz, e talvez que esta exportação cubra toda a importação de generos Francezes, incluindo a immensa carregação de óvos, o que é objecto de admiração, e de riso ao mesmo tempo. — A mesma Hespanha, cujas creações de cavallos tem ultimamente sido muito inferiores ao que foram em outros tempos, porque tudo se resente das agitações causadas pelas duas extraordinarias invasões dos annos de 1808, e 1823, e pelas guerras civis a que este Reino tem sido exposto, novamente cura do objecto da creação de cavallos, que é alli reputado de tanta consideração, que até muito tem alguns Hespanhoes escripto a este