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Fabricas que se ensinam ou aperfeiçoam as Artes, e em Scholas de Mechanica como acontece em Inglaterra: alli ainda o Governo se não lembrou de fazer Fabricas, e sim de estabelecer Scholas, e sempre que se tractar disto, eu o apoiarei. — O Governo fazer-se Fabricante não tem logar nenhum; fez-se a Fabrica de Vidro da Marinha Grande, foi muito bom para o dono porque lhe deixou muito dinheiro, depois esta gente que estava costumada a comer de trabalhar em vidros, não tinha outra cousa em que se empregar e foi necessario, quando a Fabrica ficou ao Estado, ír pôla á porta do Sr. Conde de Farrobo, como quem lá punha um engeitado. — Estou de accordo com o Sr. Sarmento em que se mandem ensinar homens em Scholas Mechanicas, porque elles depois pedirão os Aprendizes; pois que ir-se, por exemplo, fazer um homem Tecelão, para quando o Commercio o não ajudar ou não precisar delle, ficar a morrer de fome (já que não sabe fazer outra cousa) ou a pedir esmola, não intendo: é preciso não forçar trabalho; em consequencia do que eu espero que as Fabricas se venham a vender por utilidade, e que o Governo ha de reconhecer algum dia o verdadeiro interesse da Fazenda e a exactidão das ponderações que eu acabo de fazer.

O Sr. Sarmento: — As minhas idéas, e as do Digno Par são muito conformes; mas talvez eu me não explicasse bem na Commissão, nem na Camara. Quando fallei em applicar alguma fabrica para o ensino da mocidade desgraçada, foi mais por principios de humanidade, porque é necessario dar-lhe de comer, para a arrancar da schola do vicio, porque acontece tornarem-se malfeitores quasi innocentemente. Parece isto impossivel, mas quem tem sido Magistrado nas Provincias, como eu fui, terá tido occasião de conhecer que muitos criminosos o são mais por circumstancias de desgraça, do que por natural inclinação. Isto é tanto assim que em muitos Paizes se faz uma specie de violencia, que se póde chamar piedosa, que consiste em tirar alguns filhos da companhia de seus paes, quando estes só tractão de lhes dar máos exemplos. — Foi debaixo deste ponto de vista que mencionei o estabelecimento de outras scholas, aonde se desse ás crianças indigentes alguma applicação, que por pouca que fosse, conviria tiralos da ociosidade viciosa, em que presentemente se acham. Entretanto isto é obra propriamente do Governo (e que, como já disse, não se póde fazer de repente) tendo á vista a Statistica do Paiz; é facil arranjar Projectos, e pôlos em pratica como se poder; porque tanto a minha lembrança como a do Digno Par carecem de aperfeiçoamento. Nesta materia poucos Paizes estão mais aperfeiçoados do que Inglaterra, e talvez por isso fosse conveniente adoptar o methodo, que alli se tem seguido; e que tambem é devido aos muitos recursos de que alli se sabem servir. Mas já vou sahindo da rigorosa questão do artigo, o qual me parece V. Exc.ª podará propôr á votação.

O Sr. Conde de Linhares: — Poucas palavras direi sobre este artigo. — Faltam a uma grande parte do nosso Povo trabalhos lucrativos em que se empreguem, e com que possam convenientemente fazer face ás suas diarias necessidades: as classes indigentes não podem todos empregar-se na Agricultura como operarios; porque nem sempre todos acham occupação vantajosa, mas no entanto é necessario viver, as suas necessidades são imperiosas, e ellas tem um direito innegavel a subsistir, e com algumas commodidades. — Por outro lado a nossa Industria não offerece aos consumidores todas as exigencias da vida social, e achamo-nos na alternativa ou de nos privarmos dellas, ou de as comprar aos estrangeiros; se lha compramos vendemos-lhes em troca productos brutos; e talvez de pouco valor, por não lhe addicionarmos os beneficios que lhe poderia dar a Industria, e de que são muitas vezes susceptiveis: é claro então que o commercio nos deve ser desvantajoso em quanto não melhorarmos a nossa posição industrial, e daqui resulta a obrigação no interesse geral que o Governo tem de animar, a promover de todos os modos o seu desinvolvimento, e quando isto se conseguir não nos veremos na dura necessidade de consumir productos que vendemos brutos, e que tornamos a comprar beneficiados, isto é, manufacturados por mãos, e industria estrangeira, e que necessariamente pagamos, em detrimento da nossa prosperidade. Sendo innegavel que o commercio actual sendo feito dando nós um equivalente, pois d'outra sorte não ha commercio, devemos augmentar em quantidades materiaes, o que não offerecemos em bonificação; ora isto justamente succede pelo contrario ao commercio industrial das outras Nações mais adiantadas do que estamos, e daqui resulta tambem que os interesses de todo o Reino são sacrificados ao luxo apparenta d'algumas partes delle. Para, pois, remediar tudo isto generalisando a riqueza, e melhorando a sorte da Nação em geral, não ha outro meio mais conveniente do que animar a industria, e promovela nas classes inferiores.

Certamente a idéa do Digno Par é excellente em promover Scholas mechanicas, mas isto não basta, ellas habilitam homens para mestres engenheiros, ou mechanicos, e torna-os capazes de dirigirem scientificamente os operarios; porém esta ultima classe falta-nos, e para a crear é necessario estabelecimentos fabrís montados em grande, e que occupem muita gente. Ora sem termos inaptidão para as artes, e manufacturas, (o que succede pelo contrario) com tudo não temos essa tendencia manufactureira naturalmente, e é necessario que o Governo preste toda a sua attenção em a promover, porque sem isso temo que ella se não desinvolva por muito tempo, e então a Nação continuaria no mesmo estado de pobreza em que está, e de que é necessario sáia o mais depressa.

Agora quanto aos principios de Economia Politica, eu os reconheço por muito necessarios, e uteis; mas estes principios tem uma applicação que nem sempre é aquella que se lhe dá superficialmente. É conveniente estudar Economia Politica certamente; mas é preciso intendela tambem, e saber applicar os seus preceitos, que podem ter differente applicação em diversas circumstancias. Por tanto não vejo inconveniente de se auctorisar o Governo a conservar algumas destas Fabricas, de maneira que se evite com tudo quanto fôr possivel que se lhes tornem actualmente muito onerosas, o que com tudo não é muito presumivel assim aconteça, e voto por esse motivo para que subsista a emenda, visto que póde facilitar ao Governo os meios de animar a Industria

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