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Ministro dos Negocios do Reino tinha demittido setenta Provedores pelos não achar capazes....

O Sr. Conde da Taipa (interrompendo o Orador): — Quando uma pessoa quer responder ao que não ouviu, cahe em contradicções....

O Sr. Presidente do Conselho de Ministros (proseguindo): — Eu respondo ao que ouvi; mas expõem-se a esse inconveniente quem accusa pessoas que se não acham presentes. — Continuo dizendo, que ouvi affirmar ao Digno Par que o Sr. Ministro do Reino tinha demittido setenta Provedores; se o fez com rasão, cumpriu a sua obrigação, e em logar de vituperios esse procedimento merece elogios. Se eram menos capazes, quem o nomeou foi o Governo que o Digno Par designou pelo nome de Dictadura, do que o Ministerio actual não pode considerar-se por maneira nenhuma responsavel, ainda mesmo que nelle existissem, como existem, alguns Membros que fizeram parte do anterior. A estas observações accrescentarei outra que me parece obvia, e é que um Ministerio qualquer póde enganar-se, principalmente na escolha de homens; o que sim lhe compete e, quando reconhece que se enganou, emendar o resultado do engano; porque não póde aspirar á gloria de ser infallivel; isso não compete a nenhum mortal; e creio que nem mesmo o Digno Par s e formasse ou entrasse na formação de outra Administração, encontraria homens que se não enganassem.

Confirmarei agora uma observação que eu aqui ouvi produzir. — Ainda que todos os Dignos Pares tem o direito de dizer aqui quanto lhes agrade ou occorra, porque são inviolaveis pelas suas opiniões, (postoque sejam responsaveis pelo que asseverarem no tribunal da opinião publica, e da honra), com tudo o direito de accusação não compete a esta Camara: ao contrario, longe de as atear, compete-lhe (por assim me explicar) lançar agua fria sobre a chamma das paixões: nem mesmo é justo ou acertado alimentalas por meio de declamações, quando dellas se podem seguir males; quando não são fundadas em rasões muito provadas; quando ha um sem numero de descontos muito fortes nos erros que se possam ter comettido; quando se está trabalhando no meio de difficuldades, isto com o fim unico de manter, a ordem publica, e de consolidar às Instituições de que gosâmos, procurando fazer com que a sentidissima morte do Duque de Bragança, e a morte, ainda mais fatal (porque foi inesperada) do Principe D. Augusto, não tragam comsigo consequencias que nos façam perder o fructo que tantos trabalhos e soffrimentos alcançaram. — O remedio aos males que se figuram, serão mudanças na Administração, feitas ao sabor, e ao influxo de opiniões que se chamam publicas, mas que não são senão peculiares de um ou outro individuo, contra os que se acham empregados, e que tão grande parte jogam na ordem de cousas em que nos achâmos interessados..... Á vista de tudo isto eu digo, e accuso o Digno Par de ter concurrido pela sua parte (não sei se muito ou pouco, porque isso não depende delle) quanto é possivel para augmentar em vez de diminuir a irritação, injusta até certo ponto, que se tem suscitado, para tornar difficultosissima, senão impossivel, a marcha do Governo, sem lhe facilitar meio algum de vencer essas difficuldades, que elle mesmo conhece. — Concluo que me não parece isto proprio de um Membro da Camara dos Pares; que não é este o fim para que ella foi instituida; (Apoiado.) que não é este o fim para que se reuniram os amigos da Liberdade, alguns dos quaes lamentaram a perda dos esforços que n'outro tempo se fizeram para a obter, talvez; por se não terem em vista os exemplos de outros Paizes onde ha muito permanece o Systema Representativo; desprezando-se as vantagens de uma instituição conhecida nesses mesmos Paizes, quero dizer de uma Camara onde as paixões vem quebrar-se, em logar de ser um fóco dessas mesmas paixões.

O Sr. Gyrão: — Devo dizer alguma cousa por parte da Commissão: ella reuniu-se hoje pelas 10 horas, e se o Digno Par, que é Membro della, lá tivesse ido já nos acharia a esta hora; mas não pôde ainda decidir o negocio porque é impossivel que cousa desta natureza se faça de repente; é um objecto este que precisa mais reflexão.

Agora direi que muita parte dos vituperios que se disseram relativamente ao estado actual de Administração, recahiram sobre uma pessoa que eu muito respeito, e que muito de boa fé tem trabalhado para a nossa Causa; é elle merecedor que se diga isto; se se enganou com algum individuo, não admira, porque não é possivel que um Ministro conheça toda a gente. Aqui mesmo em Lisboa vimos que houve alguem que fosse calumniado: foi este o ex-Provedor Calazans, que chamando o seu accusador aos Jurados se justificou plenamente conhecendo-se que tudo quanto diziam contra elle era uma calumnia. Assim ha de haver muitos outros casos; isto é impossivel evitar-se em quanto se atacarem classes: todos os homens tem inimigos; Administração sempre a houve e ha de haver, desta ou daquella maneira, o serem Provedores ou Sub-Prefeitos não é que altera a ordem, nem o serem escolhidos pelo Governo. O que eu muito lamento é que por paixões particulares se calumnie toda a gente; isto, torno a dizer, lamento eu muito de veras. — Quanto ao que disse o Digno Par de que as Provincias estão agitadas é pouco exacto; tive cartas de Tras-os-Montes, ainda ha poucos dias, e tudo por lá está socegado; constando-me que, com pequena differença, o mesmo acontece nas outras partes do Reino.

O Sr. Conde da Taipa: — Não posso deixar de responder a todas estas calumnias e falsidades que se tem dito contra mim. Primeiramente estes Senhores fizeram-se cargo de argumentos de que me não servi, tendo-me só levantado para dizer que era indispensavel passasse a Lei de Administração proposta pelo Governo; e que convinha concertar o que se tinha desconcertado: levantei-me, tambem para dizer que se tinham feito nomeações de empregados, que levaram a guerra civil ás Provincias; mandando-se para alli pessoas que só cuidaram em se vingar. Para prova de tudo isto, disse mais, que o Ministro dos Negocios do Reino se tinha visto na necessidade de demittir mais de sessenta Provedores destes: accrescentei que um homem levado ao estado de perseguição, querendo-se-lhe tirar toda a sua fazenda, tinha direito a pegar em armas para se defender dos seus oppressores; (Da esquerda: — Apoiado. Apoiado.) e houve um Digno Par que calumniosamente disse, que eu tinha provocado os Povos á rebellião. Isto é

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