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N.º 1

SESSÃO DE 8 DE JANEIRO DE 1896

Presidencia do exmo. sr. Luiz Frederico de Bivar Gomes da Costa

Secretarios - os dignos pares

Jeronymo da Cunha Pimentel
Visconde de Athouguia

SUMMARIO

O sr. presidente refere-se com elogio ás campanhas da Africa e da India. - Lê-se um telegramma do sr. Thomás Ribeiro. - Usa da palavra o sr. ministro da marinha. - O digno par o sr. Antonio de Serpa apresenta uma proposta, que é lida e admittida. - Fallam sobre as expedições os srs. arcebispo-bispo do Algarve e Thomás de Carvalho, que termina mandando para a mesa duas propostas, as quaes são lidas e admittidas. - Tem a palavra o sr. conde de Thomar, que requer urgencia para um projecto de lei ácerca de uma pensão aos militares das expedições. - Fallam os srs. conde do Bomfim, Agostinho de Ornellas, Jeronymo Pimentel, Baptista de Andrade, Francisco Costa e conde de Lagoaça, que manda, para a mesa uma proposta. - Usa ainda da palavra o sr. presidente do conselho.-São votadas por acclamação todas as propostas que estavam sobre a mesa. - São lidos os nomes dos dignos pares que compõem a deputação para participar a Sua Magestade a constituição da camara e felicital-o pelo bom exito das expedições. - O sr. presidente levanta vivas á familia real, á patria e ao exercito. - É encerrada a sessão e designada ordem do dia.

O sr. Presidente: - Agora, que a camara dos dignos pares está installada, creio bem que, antes de qualquer outra resolução, será conveniente e justa a de lançar e consignar na acta um voto de enthusiastica congratulação pelo brilhante exito que as nossas expedições militares alcançaram na Índia e na Africa oriental. (Apoiados.)

Os successivos e memoraveis triumphos que tiveram por feliz epilogo o recente aprisionamento do rebelde regulo Gungunhana, briosamente obtidos pelos nossos bravos soldados nas inhospitas e longinquas possessões d'alem-mar, recordando as assignaladas victorias e heroicidades da remota epocha das nossas gloriosas conquistas e affirmando o dominio portuguez em tão ricas regiões, despertaram o mais ardente e justificado jubilo em toda a nação, e foram sobremaneira gratas e agradaveis ao magnanimo coração de Sua Magestade El-Rei. (Apoiados.)

A camara de certo deseja, por tão brilhantes feitos de armas, prestar justo preito de homenagem, louvor e reconhecimento aos serviços do Senhor Infante D. Affonso, que com tanta dedicação, valor e amor patriotico, expondo a saude e arriscando a vida, espontaneamente acceitou o cominando da expedição á India; ao illustre coronel Galhardo, ao valente capitão Mousinho de Albuquerque, e a todos os mais dignos e distinctos officiaes, alguns dos quaes foram feridos em combate, assim como aos bravos soldados de ambas as expedições, que por esta fórma assignalaram, por mais uma vez, o seu valor, a sua austera disciplina e o seu amor ao paiz, pois que todos bem merecem da patria e honraram o exercito portuguez de terra e mar, do qual Sua Magestade El-Rei é chefe supremo, (Muitos apoiados.)

N'esta manifestação de homenagem e de justiça a tantos heroes, a omissão do nome do illustre e distincto funccionario civil, que acceitou, em condições tão difficeis, o espinhoso cargo de commissario régio em Moçambique, seria imperdoavel. (Apoiados.) Refiro-me ao sr. conselheiro Antonio Ennes. No desempenho de tão elevada missão que lhe foi confiada, soube pelo seu esclarecido criterio, zêlo comprovado e amor pela patria, conquistar e prestar serviços relevantes ao seu paiz, o que o tornou digno da admiração e da gratidão de todos nós. (Apoiados geraes.)

Por ultimo, como estes factos são de regosijo nacional, entendo que, sem quebra da imparcialidade, propria do logar que tenho a honra de occupar, posso felicitar o governo pelas medidas sensatas, (Apoiados.) promptas e energicas, que adoptou, contrahindo tantas responsabilidades, porque assim concorreu efficazmente para estes acontecimentos tão gloriosos, que hão de ficar gravados em letras de oiro n'uma das paginas mais brilhantes da historia da nação portugueza. (Muitos apoiados.)

Por esta occasião cumpre-me dar conhecimento á camara do telegramma, que vae ser lido, e tive a honra de receber do illustre e distincto parlamentar, nosso honrado collega o sr. Thomás Ribeiro.

Vozes: - Muito bem.

Leu-se na mesa o seguinte telegramma:

"Petropolis, em 6, ás 3,30 horas da tarde. Presidente camara dignos pares. Lisboa. - Desejo não parecer estranho ao jubilo de que o parlamento a que tenho a honra de pertencer está certamente possuido pela terminação gloriosa das campanhas de Africa. = Thomás Ribeiro."

O sr. Presidente: - Estão inscriptos os srs. ministro da marinha, Antonio de Serpa, arcebispo do Algarve, conde de Thomar, Agostinho de Ornellas, Jeronymo Pimentel e Baptista de Andrade.

O sr. Conde do Bomfim: - Eu tinha pedido a palavra.

O sr. Thomás de Carvalho: - Eu pedi tambem a palavra no principio da sessão.

O sr. Presidente: - Eu inscrevo os dignos pares.

O sr. Ministro da Marinha (Jacinto Candido da Silva): - Sr. presidente, pedi a palavra para, em nome do governo e por mim proprio, me associar com todo o enthusiasmo, e no cumprimento de um grato dever de publico reconhecimento, á communicação que o orador propõe á camara dos dignos pares do reino.

É a primeira vez que tenho a honra de usar da palavra n'esta assembléa tão illustrada, selecta e respeitavel, e é gratissimo ao meu coração que a Providencia me tivesse destinado para esta estreia um tão memoravel ensejo e uma tão solemne opportunidade. (Apoiados.)

Momento verdadeiramente augusto da vida nacional é este, sr. presidente (Muitos apoiados.), em que tratâmos da commemoração de altos feitos, de assombrosas façanhas, e de proezas épicas, com que um punhado de bravos, mais uma vez, affirmaram, em terras inhospitas, sob climas mortiferos, através de mil fadigas e de mil perigos, o vigor da nossa raça e a energia da nossa tempera! (Apoiados.)

Ainda bem que emergimos, emfim, das densas trevas de noite funebre que nos envolviam, e que alem, no horisonte, se alevanta, aquecendo-nos é illuminando-nos, um novo sol fulgurante de promettedoras esperanças!

Ainda bem que despertámos do lethargo, e resurgimos do torpôr em que jaziamos, esquecidos, e já quasi de nós mesmos ignorados, e que nos levantámos altivos, de cabeça erecta, defrontando, com a serenidade dos fortes, o nosso destino historico e a nossa missão social!