O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

SESSÃO N.º 1 DE 8 DE JANEIRO DE 1896 11

tal fórma, os resultados d'esta ordem, a que tinhamos direito e de tão momentoso alcance para o meu paiz; mas o desalento e a descrença tinham entrado por tal modo no coração da nação, que tem tornado impotentes os nossos intentos, e como que alquebrado a sua antiga e proverbial fé.

Nunca em nenhuma occasião, porém, a coragem nacional se entibiou, e sempre que as nossas heroicas forças de terra e mar foram chamadas á defeza do solo patrio, ainda aos confins mais remotos da monarchia, para defender a integridade dos territorios da corôa, se apresentaram pressurosas e nunca faltaram ao seu dever desempenhando-se d'elle com estoica firmeza e constancia.

Muitas e innumeras expedições têem sido organisadas, e n'ellas se tem perdido milhares de vidas e despendido muito dinheiro, mas sempre houve bravos que se arriscassem a todos esses sacrificios, com a maxima abnegação, indo ás paragens mais inhospitas e longinquas.

Se ha perigo na Africa occidental, se é necessaria a occupação do Congo, lá vae a gloriosa expedição que o occupou, e na qual um dos mais distinctos ornamentos d'esta camara que felizmente se acha presente, tanto se illustrou juntando mais um feito á sua gloriosa carreira militar. Se nos voltâmos para a India, os membros da familia militar lá vão prestar os seus serviços com risco da propria vida, em diversas epochas, e os membros da augusta familia reinante, rivalisando sempre em coragem com os mais valentes, lá prestam os seus assignalados serviços.

Se se trata da Africa occidental quantas e tantas vezes têem os filhos do exercito e da armada dado o seu contingente, para debellar o furor do gentio, e quantos foram ahi abrir as suas sepulturas, quiçá talvez olvidados no presente.

Massacraram-se portuguezes ás mãos dos negros, offereciam-se voluntariamente os combatentes que os pretendiam vingar.

Organisára-se a expedição de 1869, aonde só iam os que queriam, e não faltaram a completar as suas fileiras, nem valentes soldados, nem officiaes habeis; mas é forçoso confessal-o, embora triste dizel-o, a falsa orientação e a descrença pelas cousas ultramarinas era tanta, que nem um adeus da patria recebeu aquella expedição ao partir, e apenas se viam aquella hora solemne as physionomias consternadas dos entes charos da familia que a alguns deram o ultimo abraço!

Um dos descrentes de então o sr. Antonio Ennes, ainda bem que já em 1891 se convertêra, organisando brilhantemente uma expedição que facilmente se completou, e ultimamente, pondo a sua vigorosa intelligencia e a sua energia, com a maior dedicação e risco de vida ao serviço da causa ultramarina, nas ultimas expedições que agora partiram para a Africa, e ás quaes tambem não faltaram nem homens, nem coragem.

E felizmente, sr. presidente, que uma nova aurora de esperança desponta para Portugal, e que os triumphos obtidos pelos combates de Marracuene, Magul Coollela, e tomada do kral de Manjacaze e por ultimo o feito heroico praticado por Mousinho de Albuquerque, descendente de uma familia que tantos serviços tem prestado, destruindo o poder do celebre vátua das terras de Gaza, e fechando com chave de oiro o cyclo das nossas victorias, electrisaram e fizeram vibrar a alma nacional, avigorando o animo e o coração portuguez; porque com taes feitos é de esperar que a malfadada descrença se risque por uma vez da memoria da nação, e assim possâmos colher d'estes felizes resultados alento para caminhar avante.

Não regateemos, portanto, louros a ninguem, por estes acontecimentos, nem aos dirigentes, nem aos expedicionarios, nem recompensas aos que com tanto arrojo e bravura se portaram.

Saudemos a patria e o Rei, a quem a causa nacional, mais deve, e os que pelejaram a favor della, os nossos camaradas da armada e do exercito.

Sr. presidente, as nações não morrem quando o seu acrysolado patriotismo se affirma por actos tão brilhantes.

As instituições militares que são garantia e esteio do estado, revelando-se incontestavelmente uteis, precisam manter em condições de permanencia, moldando-se á diversidade de climas, o nosso prestigio colonial inteiro, e por isso é dever que lhes dediquemos o nosso mais instante cuidado e solicitude a fim de efficazmente protegerem os direitos nacionaes e o nosso tradicional bom nome, não só na metropole, como nos dominios ultramarinos.

A nossa autonomia está ligada á manutenção das colonias e só a força publica robustecida pela força da opinião e pelo sentimento nacional poderá conserval-a illesa.

Associo-me, pois, de bom grado á proposta de v. exa., porque tambem sinto no meu intimo satisfação plena e fremitos de enthusiasmo, não só pelos recentes acontecimentos, que festejâmos, mas por ver que o paiz acorda da sua indifferença, que lhe podia ser fatal, e que melhores dias alvorecem.

Entendo, pois, que devemos victoriar solemnemente esses heroes da patria, que honram o exercito e a armada, pelos relevantes serviços que praticaram.

E oxalá que os nossos testemunhos publicos e os seus feitos sirvam para de futuro as administrações procurarem manter com decisão na Africa a affirmação do nosso direito, como a nossa autonomia, uma vez para sempre, ahi nesses territorios onde outrora as armas portuguezas estavam costumadas a contar o numero das victorias, pelo numero de emprezas audazes que intentaram, e aonde agora depois de dura lição que infligiram aos negros rebeldes, o prestigio do nome portuguez, de novo se alevanta.

Tenho dito.

O sr. Agostinho de Ornellas: - Sr. presidente, depois das vozes eloquentes dos meus collegas que se têem associado ao brado unisono de jubilo que resoou em Portugal de uma extremidade á outra do paiz, quando tivemos conhecimento dos feitos gloriosos dos nossos soldados no ultramar, poderia eu abster-me de levantar tambem a voz, pouco affeita a estas lides da palavra e ha tanto tempo silenciosa n'esta camara; mas quando conseguisse conter o enthusiasmo que trasborda e quer manifestar-se, devia por um dever imperioso testemunhar o meu agradecimento ao sr. arcebispo do Algarve, que citou o nome de um filho, unico que tenho, que se alistou voluntariamente entre os expedicionarios, e expoz a vida no serviço da sua patria.

O louvor que lhe teceu o digno par no seu brilhante discurso, os signa es de approvação com que a camara o escutou, constituem a mais preciosa recompensa que elle póde esperar pelos serviços que prestou, pois julgo ser o mais honroso galardão este testemunho de apreço, que excede tudo quanto póde ambicionar um verdadeiro soldado, ser louvado no seio da primeira assembléa do paiz.

Não posso deixar tambem, sr. presidente, de testemunhar ao governo a minha indelével gratidão por não ter desesperado dos destinos do paiz n'uma crise tão grave como a que ao mesmo tempo ameaçou todo o nosso dominio ultramarino.

Em todas as partes do globo onde Portugal conserva ainda restos gloriosos das suas passadas conquistas, surgiam dificuldades, guerras, revoltas, que assoberbariam todos os que não tivessem o coração educado na comprehensão dos deveres para com a patria.

Julgo poder este senado, como o de Roma depois da derrota de Cannas, agradecer ao governo, o não ter, como os generaes então vencidos, desesperado do futuro.

Felizmente não houve agora generaes vencidos; os nossos soldados provaram mais uma vez as qualidades incom-