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14 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

Distinguiu-se como jornalista, como professor, como orador parlamentar e como Ministro.

Como jornalista, todos sabem o vigor com que manejava a penna, como eram certeiros e profundos os golpes que vibrava aos adversarios, e todos se recordam lambem da energia com que defendia os seus amigos politicos.

Como professor, a amenidade do seu trato, e a clareza com que expunha as suas lições, attrahiam-lhe a attenção e sympathia dos seus discipulos, cousa que raras vezes se consegue.

Como parlamentar, se não foi um orador ardente e enthusiasta, como José Estevão, Rebello da Silva e outros, possuia comtudo a eloquencia moderna, que se patenteia no rigor da logica e na clareza dos raciocinios.

Como Ministro trabalhou muito, e lembro-me que o seu primeiro relatorio de fazenda foi tido na conta de um monumento.

Commetteu erros?

Quem os não commette? Mas esses erros compete á historia julgal-os.

Parece-me, portanto, que devemos lançar na acta da sessão de hoje um voto de profundo pesar pelo desapparecimento d'estes tres vultos. (Apoiados).

Tem a palavra o Digno Par Sr. Hintze Ribeiro.

(S. Exa. não reviu).

O Sr. Ernesto Hintze Ribeiro: - Se algum Digno Par, por parte da maioria quer usar da palavra, eu, pela minha parte, não me opponho.

O Sr. Veiga Beirão: - Como V. Exa. quizer.

O Sr. Presidente: - Tem então a palavra o Digno Par o Sr. Beirão.

O Sr. Veiga Beirão: - Agradeço ao Digno Par Sr. Hintze Ribeiro a sua delicadeza.

Levanto-me, unicamente, para, em nome d'este lado da Camara, me associar ao voto de sentimento que V. Exa. acaba de propor, mão só pelo fallecimento de dois collegas nossos, mas tambem pela morte de um homem que não chegou a ser nosso collega, é certo, mas que occupava um logar proeminente nas Côrtes da Nação Portuguesa.

Associo-me ás palavras que V. Exa. acaba de proferir, e, em meu nome individual, decerto a Camara não estranhará que manifeste especialmente o meu sentimento pela morte de Marianno de Carvalho, não só porque foi um companheiro meu, ao lado do qual luctei muito tempo n'estas ingratas lides da politica, mas tambem porque fez parte de um Gabinete a que eu tambem tive a honra de pertencer.

Fica, pois, expresso o meu voto em relação á proposta de V. Exa., e significado o meu sentimento especial pela morte de Marianno de Carvalho.

(S. Exa. não reviu).

O Sr. Ernesto Hintze Ribeiro: - Sr. Presidente: com verdadeiro sentimento me associo á homenagem que V. Exa. acaba de prestar, á memoria de tres parlamentares, dois dos quaes foram collegas nossos.

O Sr. Conde de Obidos falleceu no vigor da idade.

Faz pena vêr assim sair da vida quem tantas condições tinha para n'ella se distinguir, honrando se a si e ao seu paiz.

Representava um nome importante na nossa historia, e era assim que, pelos seus actos, elle poderia um dia mostrar se brioso descendente de quem outr'ora tanto a illustrou e engrandeceu.

Pedro Victor da Costa Sequeira foi um dos meus companheiros mais dilectos, mais leaes e mais dedicados.

Sempre, atravez de toda a sua vida, tão cheia de trabalhos, de preoccupações e de cuidados, nunca nos afastámos, nem pessoal, nem politicamente.

Deixou me a sua perda uma funda saudade, porque o contava no numero dos que me são extremamente affectos, e porque se distinguia por sentimentos especiaes de coração, que eu muito respeitava e admirava.

É por isso que a morte de Pedro Victor representa para mim uma falta extremamente sensivel, e causou ao meu sentimento, uma impressão dorida, que jamais se poderá apagar.

Estimei, Sr. Presidente, que V. Exa. lembrasse o nome de Marianno de Carvalho, que não pertenceu, é certo, a esta casa de Parlamento, mas que possuia qualidades verdadeiramente geniaes. (Apoiados).

Neste momento, em que V. Exa. proferiu palavras gratas á memoria d'aquelles tres vultos, só lamento que não esteja o Governo para o acompanhar a V. Exa., na sua commemoração, como com muita magua vi que, por occasião do funeral do illustre extincto, tambem nenhum Ministro ali compareceu a esse acto, para, por parte do Governo endereçar o ultimo adeus de despedida -, que havia de ser um adeus de gratidão -, aquelle que, em porfiadas luctas, com a eloquencia da sua palavra, e com a magia da sua penna defendeu vigorosamente o partido progressista. (Vozes: - Muito bem).

São bem imparciaes estas palavras, porque nunca militei propriamente ao lado de Marianno de Carvalho e, pelo contrario, quando entrei na vida publica, e a poucos passos tive de gerir a pasta das Obras Publicas, defrontava-me na Camara dos Senhores Deputados, com uma opposição vigorosa, e entre a pleiade dos que mais acerrimamente me combatiam todos os dias estavam dois nomes que se impunham ao meu respeito e á minha admiração: Saraiva de Carvalho e Marianno de Carvalho. Foram estes os combatentes mais denodados e intransigentes que encontrei nos primeiros passos da minha vida politica e, durante largo tempo, quantas vezes a opposição progressista como que se personificava no genio e nome de Marianno de Carvalho.

Então se dizia que a sua penna valia um exercito, e que a sua palavra era a dos primeiros luctadores.

Mas prezo-me de ser justo, e se, de contendas que então se feriram me ficaram, por vezes, feridas mal apagadas, não me resta qualquer resentimento, e o que nunca deixei de prestar foi o preito de admiração a quem tanto o merecia.

Sr. Presidente, acompanho V. Exa. no seu voto sentido e na sua homenagem á memoria de Marianno de Carvalho; acompanho-o com absoluta isenção, e com a verdade do meu pensar e do meu sentir.

(S. Exa. não reviu).

O Sr. João Arroyo: - Sr. Presidente, pedi a palavra para me associar ao voto de sentimento que V. Exa. acaba de propor á Camara pelo fallecimento de dois Dignos Pares Conde de Obidos e Pedro Victor da Costa Sequeira, e ainda pelo fallecimento de Marianno de Carvalho.

A respeito do Digno Par o Sr. Conde de Obidos, que não tive a honra de conhecer pessoalmente, já foi dito por V. Exa., e pelos oradores que me precederam no uso da palavra, o bastante para demonstrar plenamente as razoes do nosso sentimento.

Relativamente a Pedro Victor, permitta-me Sr. Presidente, que eu diga que é com a mais intima e profunda commoção que me associo á proposta de V. Exa.

Tive a honra de, durante largos annos, ser amigo intimo do extincto e é com vivissimo sentimento que me inclino reverente diante da sua figura.

Agora, Sr. Presidente, permitta-me V. Exa. que algumas palavras diga ácerca de Marianno de Carvalho.

Fez V. Exa. muito bem. Deu uma demonstração da clareza do seu espirito, da elevação do seu caracter e da grandeza do seu animo justiceiro, quando, nos termos em que o fez, V. Exa. delineou em phrase justa, sentida e verdadeiramente patriotica, a significação do vulto ingente que foi em vida Marianno de Carvalho.

É a segunda vez que a Camara consagra, por um acto d'esta natureza, a memoria de um homem que não pôde