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DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 15

E esse trabalho a que me dei não foi só conscienciosa, mas voluntariamente, porque folgo muito com a leitura dos bons livros, e da historia do passado, porque com ella aprendo a conhecer o presente e a poder determinar o futuro.

O governo que nomeou tantas commissões que nada fizeram, poderia ter nomeado mais uma para tratar d'este assumpto, e não lhe faltavam elementos de entre as summidades do seu partido, umas que têem sido auctoridades e outras que o são, e que poderiam discutir este assumpto, habilitando é governo a apresentar um projecto de lei sobre beneficencia.

V. exas. leram, de certo, o relatorio muito celebrado de mr. Thiers, que tanto deu que fallar na França, e que eu tive a honra de ler antes d'elle ser publicado, chegando-me ás mãos uma copia, quando foi lido na presença de muitos homens eminentes da França, taes como mr. Montalembert e mr. de Fallon, e outros.

O governo, publicou uma portaria em que o sr. José Luciano promettia fazer grandes economias e pôr as cousas a claro, para que o povo se preparasse para supportar os tributos, porque para outra cousa não foi essa portaria publicada.

A verdade, porém, é que o povo o que sabe é que tem de supportar o peso, e nada pequeno, dos tributos já votados.

Sr. presidente, se os regeneradores estivessem, no poder, e praticassem os actos que este governo está praticando, seriam logo julgados e accusados como esbanjadores; mas o governo progressista não quer ser assim considerado, embora o sr. Saraiva de Carvalho, o ministro mais liberal do governo, posto que elles sejam todos liberaes, fizesse a reforma do correio, tão dispendiosa e condemnavel!

Mas nada se póde fazer que não se diga logo, é a politica; pois o que é a politica?

Não é o aggregado das relações do povo para com o povo, dos governos para com as nações, para a salvaguarda dos interesses legitimos?

É verdade que ha interesses legitimos e illegitimos, e não são os primeiros que são por todos respeitados.

Eu, sr. presidente, sem querer praticar uma grande liberdade christã, não cheguei ainda ao grau de virtude de me julgar em logar inferior em conhecimentos a muitos amigos, do governo; ainda me não acostumei, nem me parece que me acostume a julgar-me assim, e Deus queira que essa virtude venha, mas por emquanto ainda não me chegou, porque com a lucta dos livros é que eu... perdão, sr. presidente, chega o sr. Saraiva de Carvalho.

(O sr. ministro das obras publicas entrou na sala.)

Como o sr. ministro das obras publicas, o mais liberal de todos os ministros que se sentam actualmente n'aquellas cadeiras, acaba de chegar, e não me parece, que lhe faça offensa, porque s. exa. é essencialmente liberal, e mesmo até bastante liberal; como, repito, vejo chegar s. exa. e como eu tinha alludido a s. exa. ha pouco, renovo agora as palavras que tinha proferido na sua ausencia.

Como eu ía dizendo, sr. presidente, o ministerio de que s. exa. é a alma, e que pregava as economias nos meetings e em toda a parte que pelos seus actos fazia ver que vinha reformar tudo, esse ministerio, sob a responsabilidade do sr. ministro das obras publicas, praticou entre outras uma grande economia, reformou uns poucos de empregados do correio e mandou ou nomeou para lá uma grande quantidade dos seus amigos! (Riso.)

O sr. Saraiva de Carvalho, repito, é a alma do ministerio, embora se diga que é o sr. José Luciano, quando este cavalheiro, bem como o sr. Braamcamp, não são mais do que victimas do partido reformista.

A mim ensinaram-me que havia tres inimigos da alma: mundo, diabo e carne, mas o sr. presidente do conselho tem o mundo, o diabo, a carne e o seu partido. (Riso.)

O sr. Braamcamp quando falla no seu partido tem-se enganado em genero e numero, porque o partido de s. exa. não é partido, são partidos de homens que incommodam o governo, que lhe impõem a nomeação de auctoridades e de outros empregados.

Portanto, o sr. Braamcamp não tem partido, tem partidos.

O partido progressista já não existe, porque eu vejo os velhos soldados d'aquelle partido chorarem lamentosamente sobre as ruinas da cidade santa.

Eu ouço os seus lamentos, as suas queixas ao presenciarem que se fez tudo ao contrario do que se tinha promettido.

r. presidente, eu assisti, como estava no meu direito, não para fallar, mas para ouvir o que se passava, a uma reunião promovida para se tratar da questão da Zambezia quando o sr. Fontes estava no poder. Tive n'esse momento ensejo de manifestar n'esta casa a minha opinião a respeito d'este assumpto, assim como de outros actos do ministerio passado.

Com relação, á questão da Zambezia conservo ainda as mesmas opiniões.

Os progressistas e que não conservaram, as mesmas idéas a tal respeito.

Lembra-me perfeitamente que n'esta casa quando proferi, um discurso, sobre o negocio da Zambezia fui muito applaudido por alguns cavalheiros, applaudido quanto á fórma d'esse meu discurso, e por outros quanto á sua essencia e fui até comprimentado.

Entre os cavalheiros que me applaudiram contava o sr. conde de Rio Maior e o sr. marquez de Sabugosa, que gostou muito do que eu disse. (Riso.)

Mas, voltando á reunião a que me referi, promovida pelo partido progressista, eu vi ali o sr. Braamcamp perto de uma mesa e com s. exa. tive a honra de conversar. Lá estava tambem o sr. José Luciano. O sr. Saraiva de Carvalho é que não estava, nem o sr. ministro da guerra, que então ainda não era nascido para o partido progressista, nem o sr. ministro da marinha, que estava numa missão fóra do paiz, da qual o encarregara o partido regenerador.

O sr. Ministro da Marinha (Visconde de S. Januario): - Missão do paiz.

O Orador: - Sim, senhor, mas foi nomeado pelo partido, regenerador.

Tratou-se muito no meeting da questão da Zambezia, sobre a qual a camara conhece as minhas opiniões, que não terei duvida de sustentar de novo, devendo-se notar que eu não tenho absolutamente nada contra o sr. Paiva de Andrada como cavalheiro, que considero; mas eu não podia approvar um acto do governo regenerador que eu julgava muito inconveniente.

Esse acto foi condemnado pelo partido progressista, e no meeting a que alludi chegou-se a gritar: "Aqui do povo contra os ladrões".

Depois tudo se acceitou, tudo...

O sr. Presidente: - Permitta-me o digno par que o interrompa para lhe observar que já deu a hora em que deviamos entrar na ordem do dia.

O Orador: - Agradeço a v. exa. a sua observação.

Já disse bastante do que tinha a expender, e de mais n'outra qualquer occasião poderei expor quaesquer outras considerações que tenha a fazer sobre os assumptos de que me occupava.

Portanto, vou concluir, repetindo que estou de accordo com a opinião do sr. Miguel Osorio; mas que não confio que o governo esteja no mesmo accordo.

Por ultimo direi ao sr. Saraiva de Carvalho, que é a alma do ministerio, creio que s. exa. não se escandalisa com estas palavras, que faça publicar o resultado dos inqueritos ás secretarias.

Necessito de analysar esse resultado, e ver como o par-