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N.º 4

SESSÃO DE 26 DE ABRIL DE 1887

Presidencia do exmo. sr. João de Andrade Corvo (vice-presidente)

Secretarios - os dignos pares

Frederico Ressano Garcia
Conde de Paraty

SUMMARIO

Leitura e approvação da acta. - Correspondencia. - O digno par o sr. Mello Gouveia exalça os serviços do fallecido sr. visconde de Monte São. O sr. presidente propõe um voto de sentimento pela sua morte. A camara approva unanimemente. - O digno par o sr. Pereira de Miranda declara achar-se constituida a commissão de fazenda e, em nome d'ella, manda para a mesa um parecer.- Ordem do dia: continuação da discussão ácerca do caminho de ferro da Beira Baixa. Sobre este assumpto usam da palavra o digno par o sr. Vaz Preto e os srs. ministro das obras publicas e Hintze Ribeiro. - O sr. presidente do conselho envia para a mesa uma proposta de accumulação. - O sr. presidente nomeia a deputação que tem de felicitar Sua Magestade pelo anniversario da outorga da carta. - Levanta-se a sessão, apraza-se a immediata e dá-se a respectiva ordem do dia.

Ás duas horas e tres quartos da tarde, estando presentes 30 dignos pares, o sr. presidente declarou aberta a sessão.

Lida a acta da sessão precedente, julgou-se approvada, na conformidade do regimento, por não haver reclamação em contrario.

Mencionou-se a seguinte:

Um officio do ministerio dos negocios estrangeiros, remettendo 200 exemplares dos documentos mandados publicar este anno pelo ministerio dos negocios estrangeiros sobre a ultima, negociação com a Santa Sé.

Mandaram-se distribuir.

(Estava presente o sr. ministro das obras publicas.)

O sr. Mello Gouveia: - Sr. presidente, vejo que ainda não foi participado á mesa oficialmente um successo que a todos nos contrista, o qual é a morte do nosso illustre collega o sr. visconde de Monte São. No emtanto, como este inesperado acontecimento é, infelizmente, verdadeiro, permittam-me v. exa. e a camara que, sem embargo da falta de communicação official, eu, que nasci na mesma terra em que nasceu e aonde antes de hontem foi sepultado aquelle digno par, que fui seu condiscipulo nas escolas e seu amigo de toda a vida, diga desde já breves palavras em desafogo da saudade que me deixa a perda de um amigo de mais de cincoenta annos e sentida homenagem á memoria estimada d'este prestante cidadão.

Sr. presidente, o dr. Manuel dos Santos Pereira Jardim, visconde de Monte São, par do reino, ainda moço adolescente, sentindo pulsar-lhe o coração em aspirações de liberdade, alistou-se nas fileiras do exercito libertador, com praça no regimento de voluntarios da. Rainha, entrou em varios combates com as tropas inimigas, defendendo as linhas do Porto, e, batendo-se em outros recontros, foi ferido na batalha da Asseiceira.

Deu á sua patria, na revindicação das suas liberdades, quanto podem dar-lhe os seus filhos mais dedicados. Deu-lhe o seu sangue.

Finda a guerra civil, foi frequentar na universidade os cursos de mathematica e de philosophia, doutorando-se n'esta faculdade e seguindo a carreira do magisterio. Em mais de trinta annos, que professou as disciplinas da faculdade, honrou as cadeiras que regeu com o estudo e o talento, que lhe grangearam a reputação scientifica, que alcançam os mais distinctos lentes da universidade.

No meio das suas occupações de sciencia foi por vezes chamado a exercer cargos administrativos importantes na sua terra, Coimbra, aonde a critica é minuciosa e severa. E de tal fórma mostrou a sua alta aptidão para a gerencia das cousas publicas, realisando consideraveis melhoramentos nos serviços das corporações que dirigiu, com tanto proveito da cidade, que o respeito do seu nome foi acrescentado no sentimento da população de Coimbra com a gratidão pelos beneficios recebidos da sua illustre e activa administração. As suas virtudes, como chefe e educador de familia, não podem ser assas encarecidas. Ahi estão os seus dignos filhos, para as attestar: dois já vantajosamente conhecidos na politica do seu paiz, que serão em breve nossos collegas, um por eleição e outro por successão; e todos, que igualmente mereceram sempre do seu chorado pae os maiores carinhos e d'elle receberam a mais cuidada educação, são geralmente estimados pelos seus dotes e pelo intelligente e honrado desempenho das funcções publicas em que se acham investidos.

Foram estes e outros merecimentos relevantes que trouxeram o visconde de Monte São a esta casa, aonde se não entra senão pela consideração e ar estima publica.

E mais um companheiro illustre dos nossos trabalhos que se some na eternidade, e pela sua honra e pelos seus serviços é digno do nosso pesar e respeito. (Apoiados.)

Deus o receba na sua bemaventurança e a sua prezada memoria sirva de exemplo aos que procuram o respeito da sociedade e a honra de bem servir a patria.

Eu não peço agora o voto de sentimento d'esta assembléa, porque é isso funcção da presidencia quando vem á mesa a competente participação e não quero perturbar os usos parlamentares.

Termino, agradecendo á camara a benevolencia com que me escutou n'este desafogo de pesar pelo velho amigo que perdi.

O sr. Presidente: - Infelizmente é conhecida a morte do sr. visconde de Monte São, a que o digno par, o sr. Mello Gouveia, acaba de referir-se, e este triste facto é de certo lamentado por toda a camara. Portanto, proponho que se lance na acta um voto de sentimento pela morte do sr. visconde de Monte São.

Foi approvada unanimemente.

O sr. Pereira de Miranda: - Sr. presidente, tenho a honra de participar a v. exa. e á camara que a commissão de fazenda se acha constituida, tendo nomeado para seu presidente o sr. conde do Casal Ribeiro, para secretario o sr. Ressano Garcia, reservando-se nomear relatores especiaes para os diversos pareceres.

Por esta occasião mando para a mesa um parecer da mesma commissão, em relação ao qual, pela sua importancia e urgencia, peço a dispensa do regimento. Desejava que fosse já a imprimir e dado para ordem do dia de ámanhã.

Posto a votação o requerimento do digno par, foi approvado.

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