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N.º 7

SESSÃO DE 3 DE FEVEREIRO DE 1900

Presidencia do exmo. sr. Francisco Maria da Cunha

Secretarios — os dignos pares

Julio Carlos de Abreu e Sousa
Luiz Antonio Rebello da Silva

SUMMARIO

Leitura e approvação da acta. — Correspondencia. — Pede informações ao governo sobre a epidemia de variola em Coimbra o digno par sr. Conde do Casal Ribeiro. Responde-lhe o sr. presidente do conselho. — Permutam-se considerações sobre assumptos politicos os dignos pares srs. Hintze Ribeiro e presidente do conselho.— O digno par sr. Costa Lobo falla sobre o conflicto dos pescadores de Setubal. Responde-lhe o sr. ministro da marinha.— O digno par sr. conde do Bomfim requer a sua exoneração de membro da commissão de guerra, assumpto que, pelo adiantado da hora, fica pendente da resolução da camará.— O sr. presidente encerra a sessão e apraza a seguinte.

(Estiveram presentes os srs. presidente do conselho e ministros da fazenda, da guerra, da marinha e das obras publicas.)

Pelas tres horas da tarde, verificando-se a presença de 20 dignos pares, o sr. presidente declarou aberta a sessão.

Foi lida, e seguidamente approvada, a acta da sessão antecedente.

Mencionou-se o seguinte

EXPEDIENTE

Officio do digno par sr. conde de Bertiandos, presidente da commissão organisadora do congresso vinicola, datado de l do corrente mez, convidando s. exa. o sr. presidente e os membros da camara a assistirem ás sessões ordinarias do referido congresso.

A camara ficou inteirada.

Officio do sr. ministro da fazenda, datado de 3 do corrente mez, satisfazendo, em parte, a um requerimento do digno par Ernesto Hintze Ribeiro.

Á secretaria.

Officio do sr. ministro da fazenda, datado de 29 de janeiro do corrente anno, satisfazendo a um requerimento do digno par sr. Simões Margiochi.

Á secretaria.

O sr. Conde do Casal Ribeiro: — Sr. presidente, está presente o sr. ministro do reino e eu folgo de ter chegado a opportunidade de s. exa. me responder a algumas considerações que tenho feito n'esta camara, em mais de uma sessão, acêrca da epidemia de variola em Coimbra.

Sr. presidente, devo ainda dizer que se me referi ao assumpto mesmo na ausencia do sr. ministro do reino, foi em primeiro logar, porque, tendo pedido a palavra n'uma sessão em que s. exa. estava presente, não me coube a vez de fallar; depois, por considerar o assumpto urgente e de importancia, e, finalmente, no intuito de mais facilmente li biliar o sr. ministro do reino, a quem por certo o sr. ministro da guerra transmittiu as minhas considerações, a responder-me cabalmente na primeira occasião, como hoje certamente o fará.

Dito isto, sr. presidente, em presença do sr. ministro do reino, insisto em dizer que tenho sabido por noticias de ordem particular e por noticias dos jornaes, que tem grassado desde o verão passado, e grassa ainda em Coimbra, uma epidemia de variola, principalmente na parte alta da cidade. §

Ha mais: as noticias dos jornaes têem sido contradictorias, o que mais perturbação fazem. É assim que o Diario de noticias de 24 de janeiro refere uma informação favoravel, affirmando que a epidemia tem grassado sempre com o caracter de benignidade; que, apenas as auctoridades tiveram conhecimento do primeiro caso, estabeleceram dois postos de vaccinação gratuita, um ao sul e outro ao norte da cidade; que têem sido visitadas pela policia as casas dos variolosos, isolando-as e desinfectando-as.

No mesmo jornal de 28 de janeiro, lê-se um telegramma de Coimbra, datado da véspera, dizendo que ali nem epidemia ha, que os casos são um ou outro, o que equivale a dizer-se que são esporádicos, e que o hospital, n'essa data, tinha apenas tres doentes!

Mas n'outro telegramma a seguir, refere que se manifestou a mesma epidemia na freguezia de Verride, no concelho de Montemor o Velho, o que demonstra que a epidemia se alastra.

Por seu lado, o correspondente de Coimbra para o Primeiro de janeiro, refere em datas de 22 e 23 de janeiro dois casos graves, um n'uma creança que poderia, digo eu, não ter sido vaccinada, e outro n'um guarda da policia civil.

N'essas correspondencias, e n'isto peço particularmente a attenção do sr. ministro do reino, é condemnado o hospital dos variolosos, a que se chama o f oco dos lázaros, mantido entre a população do Castello, e attribuindo-se á permanencia ali do mesmo hospital a grave importancia do flagello.

Em 29 e 30, o mesmo correspondente, para o mesmo jornal, refere então um caso muito grave de bexigas negraes, de que resultou a morte, e accrescenta que as auctoridades algumas providencias têem tomado, mas que lá está o catre dos lázaros irradiando o mal!

Ainda o Conimbricense de ha poucos dias, a proposito das referencias de outros dignos pares e das minhas perguntas sobre este assumpto, louvando, é certo, o sr. ministro das obras publicas por ter dotado a cidade de Coimbra com a verba de 12 contos de réis annuaes para obras dos esgotos, o que já é alguma cousa, diz, em todo o caso que os poderes publicos têem votado Coimbra, em materia de saneamento, quasi ao abandono, e accrescenta que motivos ha de sobra, referindo varios, que me abstenho de ler para não tomar tempo á camara, para reclamar do governo providencias hygienicas para Coimbra.

E, realmente, Coimbra, sr. presidente, onde está o primeiro estabelecimento scientifico do paiz, onde, por isso mesmo, n'esta occasião do anno se juntam á população, já de si numerosa, estudantes de tão diversas procedencias do paiz, que tantos cuidados merecem a suas familias pela sua saude e bem-estar ali, alem dos seus estudos, esses mesmos estudantes voltando, em ferias, ás suas localida-